quarta-feira, julho 05, 2017

Operação Northwoods (1962) - concretização de operações terroristas pelo Pentágono que implicavam a morte de numerosos cidadãos americanos, civis e militares, para efeitos de manipulação da opinião pública.

Os membros do Chefes do Estado-Maior Interarmas envolvidos na Operação Northwood - da esquerda para a direita: Almirante George W. Anderson Jr, General George H. Decker, General Lyman L. Lemnitzer, General Curtis E. LeMay, General David M. Shoup.


A operação Northwoods, elaborada em 1962 pelos generais Lemnitzer, Walker e William Craig do Estado-Maior Interarmas, visava convencer a comunidade internacional de que Fidel Castro era irresponsável ao ponto de representar um perigo para a paz do Ocidente. Com esse objectivo, estava previsto orquestrarem-se, imputando-os depois a Cuba, graves danos nos Estados Unidos. Eis algumas das provocações projectadas:

- Atacar a base americana de Guantánamo. A operação seria conduzida por mercenários cubanos com uniformes das forças castristas, teria incluído diversas sabotagens e a explosão do paiol de munições, a qual, necessariamente, provocaria perdas humanas e materiais consideráveis.

- Fazer explodir um navio americano em águas territoriais cubanas de maneira a acordar nas memórias a destruição do Maine, em 1898 (266 mortos), que provocou a intervenção americana contra a Espanha. O barco estaria na realidade vazio e seria telecomandado. A explosão deveria ser visível em Havana ou em Santiago para que houvesse testemunhas. As operações de socorro seriam conduzidas de forma a dar credibilidade às perdas. A lista das vítimas seria publicada na imprensa e ter-se-iam organizado falsas exéquias para suscitar a indignação. A operação seria desencadeada quando navios e aviões cubanos se encontrassem na zona, para lhes poder imputar o ataque.

- Aterrorizar os exilados cubanos organizando alguns atentados contra eles em Miami, na Florida, e mesmo em Washington. Falsos agentes cubanos seriam detidos para “obter” algumas confissões. Falsos documentos comprometedores, elaborados antecipadamente, seriam capturados e distribuídos à imprensa.

- Mobilizar os Estados vizinhos de Cuba, fazendo-os acreditar numa ameaça de invasão. Um falso avião cubano bombardearia durante a noite a República Dominicana, ou outro Estado da região. As bombas utilizadas seriam, evidentemente, de fabrico soviético.

- Mobilizar a opinião pública internacional destruindo um voo espacial tripulado. Para atingir todos os espíritos, a vítima seria John Glenn, o primeiro americano a ter percorrido uma órbita completa em redor da Terra (voo Mercury).

O astronauta John Glenn

Uma das provocações fora estudada em maior detalhe: criar um incidente que demonstrasse de forma convincente que um avião cubano atacou e abateu um voo comercial civil que se dirigia para os Estados Unidos, a Jamaica, a Guatemala, o Panamá ou a Venezuela.

Um grupo de passageiros cúmplices, por exemplo estudantes, tomaria um voo charter de uma companhia mantida sub-repticiamente pela CIA. Ao largo da Florida, o avião cruzar-se-ia com uma réplica, na verdade um avião em tudo idêntico mas vazio e transformado em drone (telecomandado). Os passageiros cúmplices regressariam a uma base da CIA, enquano o drone prosseguiria aparentemente o seu trajecto. O aparelho emitiria mensagens de socorro indicando que estava a ser atacado por aviões de caça cubanos e explodiria em pleno voo.

A concretização destas operações implicava necessariamente a morte de numerosos cidadãos americanos, civis e militares. Mas são precisamente os custos humanos que fazem delas acções eficazes de manipulação.

Para John F. Kennedy, Lemnitzer é um anticomunista histérico apoiado por multinacionais sem escrúpulos. O novo presidente compreende o sentido do aviso lançado pelo seu antecessor, o presidente Eisenhower, um ano antes, no discurso de final de mandato:

"Nos conselhos do governo, devemos precaver-nos contra a aquisição de uma influência ilegítima, quer ela seja ou não procurada pelo complexo militar-industrial. O risco de desenvolvimentos desastrosos por parte de um poder usurpado existe e continuará a existir. Nunca deveremos permitir que o peso desta conjuntura ameace as nossas liberdades ou os processos democráticos. Não devemos dar nada por adquirido. Somente a vigilância e a consciência cívica poderão garantir o equilíbrio entre a influência da gigantesca maquinaria industrial e militar de defesa e os nossos métodos e objectivos pacíficos, de forma a que a segurança e a liberdade possam crescer lado a lado."

John F. Kennedy resiste em definitivo aos planos dos generais Walker, Lemnitzer e outros, e recusa empenhar mais a América numa guerra ultramarina contra o comunismo, seja em Cuba, no Laos, no Vietname ou noutro local. É assassinado a 22 de Novembro de 1963.

Da esquerda para a direita: David M. Shoup, Thomas D. White, Lyman L. Lemnitzer (Chairman), John F. Kennedy, Arleigh A. Burke et George H. Decker.

Este precedente histórico recorda-nos que uma conjura interna nos Estados Unidos, prevendo o sacrifício de cidadãos americanos no âmbito de uma campanha terrorista, não é, infelizmente, impossível. Em 1962, John Kennedy resistiu ao delírio do seu Estado-Maior. Provavelmente terá pago isso com a vida.

3 comentários:

Anónimo disse...

Sobre os americanos na nossa historia mais recente.
Foi-me enviado por correio electrónico.

"Excerto do livro “Salazar” De Franco Nogueira, volume V, páginas, 271, 272

Refere-se, como se pode ver, a uma entrevista pedida pelo jornalista Benjamin Welles a Salazar, que virá a ser publicada em 31 de Maio de 1961.

Ou seja, teve lugar dois meses e meio após os acontecimentos do norte de Angola. O conhecido banho de sangue de 15 de Março, dirigido por Holden Roberto.

Que pode conhecer se abrir o link lá em baixo no fim desta folha.

Vejamos agora, qual foi o envolvimento e apoio a este terrorista que partiu dos USA.

Não queremos com isto desclassificar esta grande potência, mas mostrar até que ponto, um país de tal dimensão se pode tornar albergue das mais desencontradas ambições e as mais contraditórias acções políticas.

Mais uma vez este país se mostrou incaracterístico. Sem rosto próprio nem actuação coerente.

Aqui o chamado Departamento de Estado, ao que me parece, refere-se ao equivalente ao nosso MNE.

Já a pensarem que tinham o Salazar na mão…

Afinal …"
Continua

Anónimo disse...

Peço desculpa mas afinal não posso postar o que tencionava.
Fernando Nogueira demonstra no seu livro que Salazar sabia dos financiamentos que os americanos estavam a dar ao terrorista Joe Gilmore nome de guerra de Holden Roberto, um dos fundadores do FNLA. Em que funcionários americanos em África continuavam a agir junto dos terroristas. Obtendo também inúmeros documentos comprovativos. Dois despertam a atenção de Salazar, uma acta ou protocolo discriminando subsídios financeiros e fornecimento de armas e o passaporte original de H. Roberto emitido pela Tunísia em que o primeiro visto era dos USA.
Carlos

Diogo disse...

Carlos, é o chamado neocolonialismo. A nova potência organiza um «movimento de libertação», corre de lá com os colonos da antiga potência ocupante, e põe lá um capataz a tomar conta.