terça-feira, abril 26, 2016

A História não é uma religião. O historiador não aceita dogmas, não respeita proibições, não conhece tabus. Excepto, como seria de esperar, no caso do Holocausto Judeu


Sistémica incoerência: Liberté pour L´Histoire e a exceção de ilegitimidade

Antonio Caleari - Malleus Holoficarum - 3 de abril de 2015

Texto reproduzido in verbis a partir do livro "Malleus Holoficarum" de Antonio Caleari. Trata-se de item inserido no capítulo "Paradoxos da causa afirmacionista" (págs. 219 a 224):



Controvérsia instalada de modo permanente entre os intelectuais franceses, desde a promulgação da Lei Gayssot, e no análogo contexto de outras tantas "lois memorielles" [leis memoriais], tradicionalmente nesse país em que afloraram importantes conquistas pelos direitos individuais, de modo particular, no ano de 2005, houve uma profícua discussão pública motivada pelo manifesto de dezanove historiadores, encabeçados por Pierre Nora, os quais clamavam pela liberdade académica em face da tutela jurídica da História.

Consternados pelas intervenções políticas cada vez mais frequentes na análise de acontecimentos passados, e surpreendidos com as ações judiciais contra historiadores, pesquisadores e autores, queremos relembrar os seguintes princípios:

A História não é uma religião. O historiador não aceita dogmas, não respeita proibições, não conhece tabus. Ele pode chocar.

– A História não é uma instância moral. A missão do historiador não é elogiar, nem condenar, ele explica.

– A História não é escrava do espírito da época. O historiador não sobrepõe o passado aos conceitos ideológicos do presente e não insere nenhuma sensibilidade atual.

– A História não pode assegurar a tarefa da memória. Ao desempenhar o seu trabalho de pesquisa, o historiador reúne as recordações das pessoas, compara-as e confronta-as com documentos, objetos e vestígios, e determina os fatos. A História toma em consideração as recordações, mas não se limita a elas.

– A História não pode ser objeto da Justiça. Num Estado livre, não cabe ao Parlamento, nem à Justiça, determinar a verdade histórica.

– A política do Estado, por mais que esteja animada com a melhor das intenções, não é a política da História. A violação destes princípios por certos artigos de sucessivas leis – as de 13 de julho de 1990, de 29 de janeiro de 2001, de 21 de maio de 2001, de 23 de fevereiro de 2005 – têm restringido a liberdade do historiador que, sob pena de sanções, tem o seu trabalho limitado. Exigimos a abolição desses artigos da lei que são indignos de um regime democrático.


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Mas o Lobby Judaico não é grande apreciador de uma História Científica

Reação tempestiva à petição "Liberté pour L’Histoire", em 20 de dezembro do mesmo ano, a carta assinada por outras trinta e uma personalidades francesas procurou fazer a vez de defesa das leis memoriais, com maior ênfase para a controversa pauta de época: a criminalização da negação do Holocausto.


Em função do beneficiamento também aos revisionistas, resultante do clamor indiscriminado pela liberdade de expressão – e para se desvincularem desse movimento pária – em 4 de fevereiro de 2006, o mesmo grupo signatário do documento original divulgou uma surpreendente nota à imprensa onde retificavam o texto anterior através da exceção de ilegitimidade casuisticamente conferida ao estatuto da revisão do Holocausto: “[…] (l’association Liberté pour l’Histoire) tem a dizer firmemente que tomará todos os cuidados para evitar as armadilhas daqueles que, desvirtuando a história, neguem a realidade da Shoah”

Provavelmente, acossados pela opinião pública e inseridos em ambiente fortemente hostil ao Revisionismo stricto sensu – condição ideológica temporal – decidiram os representantes dessa associação reproduzir justamente a descrita diferenciação entre o que seria o Revisionismo legítimo e o negacionismo condenável. Aspecto também muito enfatizado por vários outros autores e que nesta conjuntura abona o corrente paradoxo afirmacionista: a sistémica incoerência na qual este tão proclamado valor da modernidade (a liberdade de expressão) se torna esvaziado de conteúdo à medida que pontuais exceções de ilegitimidade são casuisticamente formuladas por grupos de interesse, inseridos em conjunturas de poder estritamente decorrentes de uma dada conjuntura histórico-política.

Se a história (no sentido de historia rerum gestarum) nunca está definitivamente acabada, se está subordinada a constantes reinterpretações, daí resulta apenas ser ela um processo, e não uma imagem definitivamente acabada, não uma verdade absoluta. Desde o momento em que se toma o conhecimento histórico como processo e superação das verdades históricas – como verdades aditivas, cumulativas – compreende-se o porquê da constante reinterpretação da história, da variabilidade que, longe de negar a objetividade da verdade histórica, pelo contrário a confirma.

A partir do momento em que se tem contato com as teses de negação do Holocausto, fica fácil distanciar o negacionismo do processo citado por Schaff. A questão presente no discurso perpetuado pelos negadores do Holocausto não é de "simples" superação de verdades históricas, até porque superar não implica negar, muito pelo contrário.


Um discurso histórico é uma rede de explicações que pode ceder espaço a outra explicação que será considerada como melhor reveladora do diverso. […] No entanto, em sua essência, o empreendimento revisionista não parece tentar obter “outra explicação” dessa pesquisa. […] Trata-se de um esforço gigantesco não só para criar um mundo de ficção, mas para apagar um imenso acontecimento da história. […] Como se situa o empreendimento “revisionista” nesse campo manifesto do discurso histórico? Sua perfídia é precisamente parecer o que não é, um esforço para escrever e pensar a história. […] Nada mais natural, nada de mais banal que a “revisão” da História. […] Negar a história, porém, não é revisá-la.


Tal qual a superveniente nota de esclarecimento emitida pela Associação Liberté pour L'Histoire, os apontamentos de Odilon Caldeira Neto e Vidal-Naquet procuram excepcionar o negacionismo dentre os discursos possíveis, fazendo-o, mesmo tendo de reconhecer, por outro lado, a validade do Revisionismo Histórico lato sensu, e fundados na contraditória evocação à liberdade e dinamismo inerentes ao âmbito das ideias.

Este remendo à dogmatização do Holocausto encerra outro problema, talvez mais grave e que não permite fugir da questão original, apenas se sobrestando a emersão da teia de incoerências. Admite-se a revisão de qualquer fato na história e rechaça-se a noção de dogma estatizado, mas com uma singela exceção: a ilegitimidade especialmente direcionada ao movimento revisionista stricto sensu.

Cria-se, dessa forma, uma anomalia jurídica por natureza – em outras palavras, um dogma histórico tutelado pelo Direito – e que, além disso, é dotado de uma condição privilegiada frente a todos os demais fatos da história que eventualmente sejam questionados por correntes dissidentes. A titularidade de tal prerrogativa é conferida tão somente aos guardiões da memória do Holocausto, fato hierarquicamente superior aos demais eventos da experiência humana.


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Acerca da tão presente apologia à singularidade da história judaica, a qual se traduziria na forma de uma "reserva de mercado da dor", o incisivo escritor e "self hater" Norman Finkelstein explica que:

O reconhecimento da singularidade do Holocausto é o reconhecimento da supremacia judaica. O Holocausto é especial porque os judeus são especiais. Os judeus são “ontologicamente” excepcionais. Marcando o clímax do ódio milenar dos não-judeus pelos judeus, O Holocausto autentica não apenas o sofrimento único dos judeus como também a singularidade judaica. […] Para a Indústria do Holocausto, todos os assuntos judaicos pertencem a uma categoria separada, superlativa — o pior, o maior… […] Se O Holocausto não teve precedente na história, ele deve estar acima e, portanto, não pode ser alcançado pela história. Sem dúvida, O Holocausto é único porque inexplicável, e inexplicável porque único.

segunda-feira, abril 18, 2016

Prémio Nobel da Medicina denuncia: "As farmacêuticas bloqueiam medicamentos que curam, porque não são rentáveis"




Entrevista no La Vanguardia - 18/06/2011

O Prémio Nobel da Medicina Richard J. Roberts denuncia a forma como funcionam as grandes Farmacêuticas dentro do sistema capitalista, preferindo os benefícios económicos à Saúde, e detendo o progresso científico na cura de doenças, porque a cura não é tão rentável quanto a cronicidade.

Há poucos dias, foi revelado que as grandes empresas Farmacêuticas dos EUA gastam centenas de milhões de dólares por ano em pagamentos a médicos que promovam os seus medicamentos. Para complementar, reproduzimos esta entrevista com o Prémio Nobel Richard J. Roberts, que diz que os medicamentos que curam não são rentáveis e, portanto, não são desenvolvidos por empresas Farmacêuticas que, em troca, desenvolvem medicamentos cronificadores que sejam consumidos de forma serializada. Isto, diz Roberts, faz também com que alguns medicamentos que poderiam curar uma doença não sejam investigados. E pergunta-se até que ponto é válido e ético que a indústria da Saúde se reja pelos mesmos valores e princípios que o mercado capitalista, que chega a assemelhar-se ao da máfia.


A investigação pode ser planeada?

Se eu fosse Ministro da Saúde ou o responsável pela Ciência e Tecnologia, iria procurar pessoas entusiastas com projectos interessantes; dar-lhes-ia dinheiro para que não tivessem de fazer outra coisa que não fosse investigar e deixá-los-ia trabalhar dez anos para que nos pudessem surpreender.


Parece uma boa política.

Acredita-se que, para ir muito longe, temos de apoiar a pesquisa básica, mas se quisermos resultados mais imediatos e lucrativos, devemos apostar na aplicada...


E não é assim?

Muitas vezes as descobertas mais rentáveis foram feitas a partir de perguntas muito básicas. Assim nasceu a gigantesca e bilionária indústria de biotecnologia dos EUA, para a qual eu trabalho.





Como nasceu?

A biotecnologia surgiu quando pessoas apaixonadas começaram a perguntar-se se poderiam clonar genes e começaram a estudá-los e a tentar purificá-los.


Uma aventura.

Sim, mas ninguém esperava ficar rico com essas questões. Foi difícil conseguir financiamento para investigar as respostas, até que Nixon lançou a guerra contra o cancro em 1971.


Foi cientificamente produtivo?

Permitiu, com uma enorme quantidade de fundos públicos, muita investigação, como a minha, que não trabalha directamente contra o cancro, mas que foi útil para compreender os mecanismos que permitem a vida.


O que descobriu?

Essa descoberta ajudou a entender como funciona o DNA e, no entanto, tem apenas uma relação indirecta com o cancro.


Que modelo de investigação lhe parece mais eficaz, o norte-americano ou o europeu?

É óbvio que o dos EUA, em que o capital privado é activo, é muito mais eficiente. Tomemos por exemplo o progresso espectacular da indústria informática, em que o dinheiro privado financia a investigação básica e aplicada. Mas quanto à indústria de Saúde… Eu tenho as minhas reservas.

A investigação sobre a Saúde humana não pode depender apenas da sua rentabilidade. O que é bom para os dividendos das empresas nem sempre é bom para as pessoas. A indústria farmacêutica quer servir os mercados de capitais...





Mas se eles são rentáveis investigarão melhor.

Porque as empresas Farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em sacar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crónica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação.


É uma acusação grave.

Mas é habitual que as Farmacêuticas estejam interessadas em linhas de investigação não para curar, mas sim para tornar crónicas as doenças com medicamentos cronificadores muito mais rentáveis que os que curam de uma vez por todas. E não tem de fazer mais que seguir a análise financeira da indústria farmacêutica para comprovar o que eu digo.

É por isso que que a Saúde não pode ser um mercado nem pode ser vista apenas como um meio para ganhar dinheiro. E, por isso, acho que o modelo europeu misto de capitais públicos e privados dificulta esse tipo de abusos.


Um exemplo de tais abusos?

Deixou de se investigar antibióticos por serem demasiado eficazes e curarem completamente. Como não se têm desenvolvido novos antibióticos, os microorganismos infecciosos tornaram-se resistentes e hoje a tuberculose, que foi derrotada na minha infância, está a surgir novamente e, no ano passado, matou um milhão de pessoas.


Não fala sobre o Terceiro Mundo?

Esse é outro capítulo triste: quase não se investigam as doenças do Terceiro Mundo, porque os medicamentos que as combateriam não seriam rentáveis. Mas eu estou a falar sobre o nosso Primeiro Mundo: o medicamento que cura tudo não é rentável e, portanto, não é investigado.


Os políticos não intervêm?

Não tenho ilusões: no nosso sistema, os políticos são meros funcionários dos grandes capitais, que investem o que for preciso para que os seus boys sejam eleitos e, se não forem, compram os eleitos.

Ao capital só interessa multiplicar-se. Quase todos os políticos, e eu sei do que falo, dependem descaradamente dessas multinacionais Farmacêuticas que financiam as campanhas deles. O resto são palavras...


sexta-feira, abril 15, 2016

Ainda a propósito do caso Arrow Global envolvendo a ex-ministra das finanças Maria Luís Albuquerque - Todos os políticos em cargos de poder são funcionários bancários



Banca é refúgio para ex-ministros

Jornal Expresso - 2 de Outubro de 2010


Dirigentes do Bloco estudaram o percurso de 115 ex-governantes: 84 foram para a Banca ou tiveram uma ligação ao sector bancário, passando por órgãos sociais dos mais diversos bancos. Mais interessante ainda: desses 84 ex-governantes com ligação à banca, na grande maioria dos casos (56, ou seja, dois terços,) essa ligação não tinha antecedentes, e só surgiu depois da passagem pelo Governo.

Os dados apurados permitem aos autores sustentar a tese da "integração sistémica assegurada por estes dirigentes. São portadores de informação valiosa e de redes de influência. As responsabilidades partidárias, que se prolongam além dos cargos de governo e são valorizadas por estes, asseguram um canal permanente com várias dimensões do poder central e local", o que é um "ativo estratégico" para os empregadores.

A generalidade dos bancos reconhece a importância deste “ativo estratégico” e vai buscar ex-ministros e secretários de Estado (sobretudo os que passaram pelas finanças e economia, mas não só — basta pensar nos casos de Dias Loureiro e Armando Vara, que vinham da Administração Interna, ou Celeste Cardona, que foi ministra da Justiça). BES e BCP são, no universo analisado, os que mais apostaram nestas contratações — um em cada dez está ou esteve no BES, e quase um em cada cinco teve ou tem uma ligação ao BCP. Rui Machete, ex-ministro e barão social-democrata, conseguiu juntar as duas marcas no seu currículo. Também o grupo Champalimaud (e, depois, Santander) apostou forte em ex-governantes, quase todos do PSD.


Dias Loureiro, Armando Vara, Celeste Cardona e Rui Machete

A banca é o máximo denominador comum neste universo, mas os ex-governantes ganharam destaque nas mais variadas empresas e grupos económicos. Destaque-se o Grupo Mello pela sua tendência para dar novas oportunidades a ex-governantes — dos 115 analisados, contratou 16, com percursos tão diversos como Álvaro Barreto, António Vitorino, Nogueira Leite, Couto dos Santos ou Luís Filipe Pereira. As empresas públicas ou aquelas onde o Estado tem participação relevante também se tornam autênticos albergues de ex-governantes — veja-se a CGD, a PT ou a EDP.

Os autores notam que “muitos destes dirigentes político-empresariais tomam ainda formas de ‘participação cruzada’, tecendo pontes eficientes entre vários grupos económicos cujos órgãos sociais integram simultaneamente”. Casos notórios são Mira Amaral, Ferreira do Amaral, Murteira Nabo, Nogueira Leite ou Luís Todo Bom.

Por outro lado, esta contaminação entre política e negócios permite “a promoção de uma meteórica mobilidade social ascendente”, pois a passagem pelo Governo é “um condão que transforma dezenas de quadros técnicos, docentes universitários ou responsáveis partidários em administradores de empresas privadas ou participadas, com acesso a rendimentos absolutamente incomparáveis com os auferidos anteriormente”. O exemplo mais evidente é Vara, que chegou à política como bancário e saiu como banqueiro, mas há muitos outros, como Jorge Coelho ou José Penedos.

Os bloquistas apontam um terceiro aspeto deste fenómeno: a “forte promiscuidade”, com “governantes que transitam diretamente da tutela para a gestão de topo de empresas cujo quadro de atuação condicionaram imediatamente antes”. Há bons exemplos nas obras públicas (Ferreira do Amaral, Jorge Coelho, Luís Parreirão) e na energia (Pina Moura, Fernando Pacheco). A grande maioria dos ex-governantes portugueses que se dedicaram aos negócios privados têm ou tiveram uma ligação ao sector bancário — esta é uma das conclusões de uma pesquisa desenvolvida por cinco dirigentes do Bloco de Esquerda, que será editada em livro na próxima semana. “Os Donos de Portugal — Cem Anos de Poder Económico”, a que o Expresso teve acesso, da autoria de Francisco Louçã, Luís Fazenda, Fernando Rosas, Cecília Honório e Jorge Costa, faz um retrato do século republicano olhando para os detentores do poder económico.

Há anos que os dirigentes do BE denunciam a “promiscuidade” entre política e negócios, de que Armando Vara se tornou o caso mais paradigmático nos últimos anos. Agora, os bloquistas tentaram aprofundar a questão da “contaminação intensa entre poder de Estado e negócios privados”. Olharam para as “áreas governativas estratégicas da economia, finanças, obras públicas, emprego e planeamento” e identificaram 115 percursos individuais de ministros e secretários de Estado “com currículo empresarial e de negócios relevante”, nas palavras de Jorge Costa. Não é um levantamento exaustivo das carreiras profissionais dos ex-governantes, mas apenas daqueles que mais se destacaram no regresso ao privado.

[...]




Para que se perceba quais as características mais importantes que valorizam estes senhores, que após passarem pela vida politica, são procurados, não pela justiça, como seria de esperar mas por empresas diversas, dispostas a pagarem pelos serviços deles, fortunas.

E ninguém estranha que aqueles políticos que arruinaram Portugal, quando estiveram no governo, dando provas constantes de "incompetência", gestão danosa ou criminosa, traindo o estado que representaram, sejam depois tão procurados para gerir as grandes empresas??? As mais ricas? As mais bem sucedidas? Será que elas gostam de incompetentes? Ou será que os políticos, mesmo no governo, estiveram sempre a trabalhar para as empresas privadas? Favorecendo-as, em prejuízo do estado?

segunda-feira, abril 11, 2016

Sobre o "Terrorismo Islâmico" - dois palhaços da SIC Notícias ridicularizados por um humorista dos Monty Python

Martim Cabral, Terry Jones (dos Monty Python) e Nuno Rogeiro


A dupla da SIC Notícias (Martim Cabral - Nuno Rogeiro), entrevistou em 2007 o humorista dos Monty Python, Terry Jones, no programa "Sociedade das Nações".

Martim Cabral e Nuno Rogeiro, os grandes arautos da "Guerra ao Terrorismo" na SIC, trouxeram à baila, evidentemente, a intolerância religiosa islâmica, o Iraque, o 11 de Setembro e o terrorismo em geral.

Terry Jones, de sorriso no lábios, explicou-lhes, candidamente, que a "Guerra ao Terrorismo" constitui um excelente negócio para a indústria do armamento, e que certos governos fazem dela um motivo para criar o caos no Médio Oriente, para que haja um estado permanente de guerra. Contou-lhes, ainda, que Geoge W. Bush é um presidente patético ao serviço das grandes empresas do armamento.

A SIC Notícias passou, prudentemente, esta entrevista às 20:10 (à hora dos telejornais) do dia 28/12/2007, e às 3:30 da madrugada do dia 29/12/2007, porque, como afirma Alcides Vieira, Director de Informação da SIC, este canal o que pretende é que "quando um telespectador olha para a informação da SIC, veja que todos os jornalistas que aparecerem no ecrã estão a falar verdade e não estão ao serviço de um interesse. Porque essa é uma marca da SIC."




Os principais momentos da entrevista a Terry Jones:

Terry Jones: Quando fizemos "A Vida de Brian" lembro-me de ter dito ao resto da equipa: "Sabem que isto pode ser muito perigoso. Podemos ter um fanático religioso a fazer de nós alvos." E eles responderam: "Não há problema." Mesmo nessa altura em 1978, achei que seria uma área potencialmente perigosa de abordar. Mas acho que não hesitava em retratar a vida de Maomé.


Martim Cabral: Acha que alguém o apoiaria? Não acha que existe uma atmosfera internacional em que ninguém considera sequer fazer este tipo de paródia, especialmente se recordarmos os problemas que houve devido aos cartoons de uma revista norueguesa?

Terry Jones: Sim, seria quase impossível obter apoio, mas não pensei em fazer isso. Não vejo o Islão como a grande fonte do Mal, como as pessoas dizem e como Bush quer fazer parecer. Em 1998… Não, em 1990, antes da primeira Guerra do Golfo, li uma revista interna da indústria do armamento, chamada "Weapons Today", que tinha grandes caças na capa. Era uma revista interna da industria do armamento e o editor-chefe escreveu: "Graças a Deus que Saddam existe." O editorial dizia que, com a queda do comunismo, o sector do armamento estava a atravessar uma crise. Não havia encomendas. "Mas agora temos um inimigo ao qual ninguém põe objecções, que é Saddam Hussein." Depois o editorial sugeria: "No futuro, podemos esperar que o Islão substitua o comunismo, porque haverá mais encomendas de armas." E podem apostar que, desde 1990, o sector do armamento tem promovido um conflito entre o Cristianismo e o Islão e é isso que temos visto desde então.


Martim Cabral: Já não é divertido nem legítimo fazer sátiras sobre religião, no ambiente em que vivemos actualmente.

Terry Jones: Concordo, mas não sei se esta situação se deve ao Islão ou à nossa indústria do armamento, que atiça e provoca o Islão.


Rogeiro: É curioso porque Chesterton, que era católico, comentou: "A superioridade de uma religião reflecte-se no facto de podermos satirizar com ela." Se pudermos gozar com ela, então, é uma religião superior.

Terry Jones: É um bom argumento para o Catolicismo.


Rogeiro: O que o irrita mais na conjuntura mundial actual? Sei que a questão do Iraque é algo que lhe custa a digerir.

Terry Jones: Sim, acho que o Iraque é o verdadeiro… Antes de invadirem o Iraque… A reacção ao 11 de Setembro foi completamente estúpida.


Rogeiro: O que significou, para si, o 11 de Setembro?

Terry Jones: Para mim, o 11 de Setembro resumiu-se a umas quantas pessoas que desviaram uns aviões para... Acho que o 11 de Setembro teve origem devido à situação no Médio Oriente com a Palestina, aquilo que os israelitas estão a fazer à Palestina, com a protecção e o aval dos Estados Unidos. O 11 de Setembro resumiu-se a isso. Claro que foi uma oportunidade imperdível para que os neo-conservadores norte-americanos transformassem isso numa cruzada contra o Islão.


Martim Cabral: Se fosse presidente dos Estados Unidos, como reagiria a um ataque como o das Torres Gémeas? O que faria? Como reagiria?

Terry Jones: Quando se é um presidente patético ao serviço das grandes empresas e do sector do armamento transformamos isso em algo politicamente vantajoso e fazemos disso um motivo para criar o caos no Médio Oriente, para que haja um estado permanente de guerra. Cria-se um estado permanente de guerra contra o "terror". É uma guerra que nunca pode ser vencida.


Martim Cabral: Mas o que faria? Imagine que está na Casa Branca.

Terry Jones: Foi um acto criminoso. Não podíamos apanhar os culpados porque estavam mortos. Tinha de haver operações secretas para descobrir os mentores. Não se fazem anúncios públicos, do género: "Achamos que estão escondidos no Afeganistão. Vamos bombardear-vos daqui a três semanas, está bem?" Isso dá à Al-Qaeda tempo suficiente para sair do Afeganistão e ir para outro local. Só então é que se bombardeia o Afeganistão.


Rogeiro: Escreveu no "The Guardian" que a gramática é vítima da guerra, penso eu, e defende que é impossível combater algo abstracto.

Terry Jones: Sim, na guerra contra o terror, estamos a enfrentar um substantivo abstracto.


Rogeiro: O terrorismo, além de ser abstracto, é algo muito concreto que mutila pessoas, que destrói vidas e cidades.

Terry Jones: Mas precisamos de um inimigo. Não podemos combater um conceito abstracto. É impossível combater o terrorismo. É como a luta contra a droga. É um conceito abstracto. Temos de saber quem vamos enfrentar. Temos de descobrir quem está por detrás disso para depois os capturar. Não se anuncia ao mundo onde estão os suspeitos para depois bombardear esses locais e criar ainda mais animosidade contra nós. É essa a intenção. A ideia não é salvar o Iraque, mas sim criar animosidade contra o Ocidente, para que haja um estado permanente de guerra.


Rogeiro: Porque acha que os britânicos reelegeram Tony Blair, depois de ele se ter envolvido na questão do Iraque?

Terry Jones: Porque reelegeram Tony Blair? Não faço ideia. Há muita… Até sei, mas não devia dizer isto. Acho que muita gente rema conforme a maré. Não sei.


Martim Cabral: Correndo o risco de sermos os três alvos de uma fatwa, não acha que Osama bin Laden seria uma personagem ideal para os Monty Pyton? Seria impossível inventar uma personagem como ele.


Terry Jones: Acho que ele (Osama bin Laden) deve ter sido influenciado pelos Monty Python.



A entrevista completa a Terry Jones, aqui:

sexta-feira, abril 08, 2016

Uma senhora que já merecia ter batido com os costados num calabouço ...

Finanças atestam benefícios a firmas do grupo que contratou ex-ministra das Finanças e atual deputada do PSD - Maria Luís Albuquerque




LUSA - 29/03/16

Segundo o documento, no total, foram concedidos 423.428,99 euros, entre 2011 e 2015, a duas das subsidiárias do Arrow Global: White Star Asset Solutions (404.228,88 euros) e Gesphone (19.200,11 euros), a título de "majoração à criação de emprego" e "crédito fiscal extraordinário ao investimento".

O gabinete de Mário Centeno esclarece que só foram pedidos dados sobre quatro das empresas que constituem o universo Arrow Global junto da Secretaria-Geral do próprio Ministério das Finanças, da Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, da Autoridade Tributária e Aduaneira, da Direção-Geral do Tesouro e Finanças, da Parpública e da Agência de Gestão da Tesouraria e Dívida Pública.



ECONÓMICO - 06/03/2016

Ainda não está esclarecido se há incompatibilidade entre o cargo de deputada e as funções de administradora não executiva na Arrow Global, mas já é público que a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, vai receber cerca de cinco mil euros brutos por mês. De acordo com a edição de hoje do jornal Diário de Notícias, nas novas funções em Manchester – sede da Arrow Global – Maria Luís Albuquerque irá trabalhar, em média, dois a quatro dias por mês e terá que marcar presença em dez reuniões por ano, altura em que a empresa reúne todos os administradores. Fonte próxima da ex-ministra citada pelo DN refere que este ‘timing’ de trabalho é “perfeitamente conciliável” com as obrigações no Parlamento.

A este valor (cinco mil euros mensais) a ex-ministra do governo de Passos Coelho acrescenta os 3.426,48 euros mensais que recebe como deputada sem exclusividade.

As dúvidas quanto à nomeação de Maria Luís Albuquerque foram lançadas pela porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, que lembrou que a Arrow Global comprou dívida do Banif em 2014, quando a deputada do PSD ainda tutelava o Ministério das Finanças, logo com responsabilidades no sector da banca.

sexta-feira, abril 01, 2016

Os cientistas têm usado com sucesso células estaminais para gerar músculo do coração humano


O que os corações humanos criados em laboratório poderiam significar para a crise de Dadores de órgãos.

Um coração humano parcialmente "recelularizado", sendo cultivado num biorreator



Cientistas do Massachusetts General Hospital, em Boston deram um primeiro passo no sentido de desenvolver corações humanos em laboratório, o que poderá pôr fim à crise nacional de doação de órgãos.

Os cientistas retiraram do coração do dador todas as células que podiam causar a rejeição do destinatário e, seguidamente, usaram células estaminais para reconstruir o tecido.

Um estudo detalhando o processo lança luz sobre vários elementos-chave da bioengenharia do músculo do coração humano, afirmou o Dr. Harald C. Ott. Dr. Ott é professor assistente de cirurgia no hospital e um autor sénior do estudo, que foi publicado na revista Circulation Research no Outono passado.

"Embora limitado em vigor, estas foram as primeiras (minúsculas) batidas de um coração recém-formado gerado a partir de células estaminais humanas," disse o Dr. Harald C. Ott.

"Os cientistas têm ainda um longo caminho a percorrer até que possam criar corações funcionais integrais para os pacientes", acrescentou. "Um dia será possível fazer crescer um órgão inteiro usando as próprias células e tecidos do doente".

"Tal como acontece com muitos desenvolvimentos científicos, o tempo é um fator determinado pelo financiamento, pelo homem e pelo poder do cérebro", disse Ott. "O nosso estudo mostra que é teoricamente possível, mas ainda há muito trabalho a ser feito. Como primeiro passo, eu acredito que partes do coração humano estarão disponíveis mais cedo do que enxertos de todo o coração, e estamos a seguir ativamente esta opção".

Quando esta técnica estiver disponível seria como um salva-vidas, já que há 4.153 pessoas em todo os EUA que precisam de um transplante de coração - e no ano passado, cerca de 402 pessoas morreram, enquanto estavam na lista de espera, de acordo com a United Network for Organ Sharing.