domingo, maio 29, 2011

The Economic Horror

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A tese (1997) defendida por Viviane Forrester é de que o emprego, tal como o conhecemos durante três séculos no Ocidente, tem os dias contados e tornou-se menos plausível, a cada ano que passa, de ser a forma de distribuir a riqueza.

O "O Horror Económico" ataca também as actuais políticas dos governos ocidentais que fazem tentativas cada vez mais desesperadas para manter vivo o sistema de trabalhos e salários. Forrester cita a constante redução de números cada vez maiores das classes trabalhadoras e, agora, das classes médias; o atrito constante, a nível internacional, da assistência social e dos direitos sindicais, por um lado, e a crescente desestabilização dos que trabalham, já para não falar dos desempregados.

Tudo isto criou uma cultura de emprego e desemprego (e subemprego) que não é apenas stressante, lamentável e desagradável mas também, segundo Forrester, "gerou uma economia mundial que é uma obscenidade, uma afronta à natureza humana" e, usando as palavras do título do livro, um "Horror":


Excertos de "O HORROR ECONÓMICO" de Viviane Forrester

«Penso que cada um de nós, qualquer que seja o nosso trajecto de vida, deveria sentir-se preocupado com a actual situação do mundo, o qual é inteiramente governado por economistas. Se Shakespeare voltasse hoje à vida, julgo que ficaria fascinado pela trágica interacção das poderosas forças económicas que estão furtivamente a transformar os destinos dos cidadãos ou melhor das populações de todos os países.

Em minha opinião estamos a testemunhar uma mudança profunda, uma transformação da sociedade e da civilização, e estamos a ter muita dificuldade em aceitá-lo. Como é que podemos dizer adeus a uma sociedade que estava baseada em empregos estáveis que forneciam uma rede segura e os fundamentos de uma existência decente? A segurança no emprego está de saída.

Pela primeira vez na história, a grande maioria dos seres humanos já não são indispensáveis ao pequeno número daqueles que dirigem a economia mundial. A economia está de forma crescente envolvida com especulação pura. As massas trabalhadoras e os seus custos estão a tornar-se supérfluas. Por outras palavras, existe uma coisa ainda pior do que ser explorado e que consiste em já nem sequer valer ser explorado!

É verdade que a forma como as coisas estão não estão a ser escondidas, mas existe uma tendência para evitar falar sobre isso claramente. Em sociedades democráticas, em qualquer caso, não se diz às pessoas que estão a ser consideradas como supérfluas. Sob os totalitarismos pode existir um perigo ainda pior do que o desemprego e a pobreza. Uma vez desaparecidos os assalariados, porque é que um regime totalitário não elimina simplesmente essas forças que se tornaram inúteis.

Em países democráticos existe uma necessidade urgente de vigilância. É muitas vezes invocado de que a era industrial, quando um salário regular fornecia os meios de subsistência, pode de alguma forma reacender-se. Mas esses dias acabaram. Os rendimentos salariais estão a desaparecer e a panóplia de esmolas temporárias e pensões concebidas para os substituir estão a minguar, algo que não pode ser considerado senão criminoso.




Os gestores da máquina económica exploram esta situação. O pleno emprego é uma coisa do passado, mas ainda o utilizamos como padrão que era corrente no século dezanove, ou há vinte ou trinta anos, quando ainda existia. Entre outras coisas, este facto encoraja a que muitos desempregados sintam vergonha de si próprios. Esta vergonha sempre foi absurda mas é-o ainda mais hoje.

Isto ocorre de mãos dadas com o receio sentido pelos privilegiados que ainda possuem um emprego pago e têm medo de o perder. Eu sustento que esta vergonha e este medo deviam ser cotadas na bolsa de valores, porque constituem inputs importantes no lucro. Há uns anos as pessoas condenavam a alienação causada pelo trabalho. Hoje, a redução dos custos do trabalho contribuem para os lucros das grandes companhias, cuja ferramenta de gestão favorita é despedir trabalhadores; quando despedem, o valor das suas acções disparam.

Hoje, ouvimos muito falar acerca da “criação de riqueza”. Dantes, esta expressão era simplesmente conhecida como lucro. Hoje, as pessoas falam desta riqueza como se ela fosse automática e directamente para a comunidade e criasse empregos, e, contudo, vemos empresas altamente lucrativas a reduzir drasticamente a sua força de trabalho.

Quando as pessoas falam dos poderosos, não estão a falar do grosso da população do seu país mas acerca dos manda-chuvas que relocalizam num piscar de olhos. Os políticos fazem do emprego a sua prioridade, mas a Bolsa de Valores fica deliciada sempre que um grande complexo industrial despede trabalhadores e fica preocupada sempre que exista qualquer melhoria nos números do emprego. Gostava de chamar a atenção das pessoas para este paradoxo. A cotação do valor em bolsa de uma empresa depende em grande parte dos custos do trabalho, e o lucro é gerado em última análise pela redução do número daqueles que têm trabalho.

A presente situação levanta uma questão vital para o futuro das pessoas deste planeta, sobretudo para os mais jovens e o seu futuro. Hoje, o ideal é ser “lucrativo”, não “útil”. Isto levanta uma questão muito séria: Devem as pessoas ser lucrativas para “merecer” o direito a viver? A resposta do senso comum é que é uma coisa boa ser útil à sociedade. Mas estamos a impedir as pessoas de serem úteis, estamos a esbanjar a energia da juventude ao olhar para a rentabilidade como o supra-sumo.

A maior parte dos países perdeu o seu sentido das prioridades. Existe uma necessidade cada vez maior de professores, pessoal médico, mas os governos mostram-se crescentemente agressivos contra eles. Estas são as profissões onde os lugares são abolidos e os fundos são cortados. E no entanto são indispensáveis para o bem-estar e o futuro da humanidade. Esta confusão entre “utilidade” e “rentabilidade” é desastrosa para o futuro do planeta.

Os jovens vivem numa sociedade que ainda considera o emprego assalariado como o único modo de vida aceitável, honesto e de acordo com a lei, mas a maior parte deles estão impedidos de ter a oportunidade de os alcançar. Em zonas pobres dentro das cidades isto é um grande problema. Ao mesmo tempo, encontro muitas vezes gente jovem com os braços carregados de diplomas que não arranjam trabalho. Que desperdício imperdoável! Durante gerações os estudos constituíam a iniciação da juventude na vida social. Admiro os jovens de hoje porque avançam com os seus estudos perfeitamente conscientes de que correm o risco de serem rejeitados pela sociedade.

Apenas há vinte ou trinta anos atrás, existiam ainda razões para esperar que a prosperidade relativa do Norte se espalhasse pelo mundo. Hoje, estamos a assistir à globalização da pobreza. As empresas do Norte que se deslocalizaram para os chamados “países em desenvolvimento”, não criam empregos para as pessoas desses países, em vez disso fazem-nos geralmente sem qualquer tipo de protecção social, em condições medievais. A razão para isto é que força de trabalho sub-paga de homens, mulheres e crianças, tal como os prisioneiros, custam menos do que a automação custaria no país de origem. Isto é colonização noutra, igualmente odiosa, forma.

Não sou pessimista, longe disso. Os pessimistas são aqueles que afirmam não haver alternativa à presente situação, de que não há escolha possível. O meu livro é uma tentativa para descrever o que se passa. É verdade que a situação é dramática. Apesar de tudo, eu sou, tal como muitas outras pessoas, uma cidadã de um país cujo regime democrático torna possível reflectir e resistir livremente à pressão crescente que o factor económico está a exercer nas nossas vidas.

Eu gostaria que existissem contrapoderes, pensamento alternativo, conflitos de ideias e interesses. Não conflito violento, claro, mas temos de acordar e deixar de estar petrificados, prisioneiros do pensamento banal. Em países onde o meu livro já foi traduzido, especialmente nos Estados Unidos, Brasil, México, Lituânia, Polónia e outros tais como a República da Coreia está a causar uma espécie de convulsão mesmo antes da sua publicação.»



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segunda-feira, maio 23, 2011

15-M: Fartos da fraude e da impunidade do Poder Financeiro e Económico, dos políticos corruptos e dos jornalistas e comentadores venais

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Em Madrid, Zaragoça, Valência, Sevilha e em muitas outras cidades de Espanha, trabalhadores e desempregados, estudantes universitários e reformados, pais e filhos, juntaram as suas vozes numa só voz para deixar um recado aos seus políticos: «Nenhum dos vossos partidos representa aquilo que queremos».


Madrid - Plaza Puerta del Sol - à 14 horas


Esta corrente de autêntica democracia extravasou já largamente as fronteiras de Espanha e chegou a toda a Europa, às Américas, à Ásia e à Oceânia. Formaram-se também acampamentos na China, Índia, Mongólia, Tailândia, Rússia e Austrália. A partir da Puerta del Sol, que continua radiante, a voz dos indignados levanta-se. Em Portugal, Lisboa, Porto, Coimbra e Faro estão a aderir.


O movimento iniciado em Madrid espalha-se rapidamente pelo globo




22 Maio, 2011 - (tradução de Helena Romão)


Fartos da fraude e da impunidade


A imensa maioria dos políticos, jornalistas e comentadores não têm tido vontade de ouvir os jovens, que têm taxas de desemprego de 45%; nem os milhares de pessoas que reclamam no Banco de Espanha e nos tribunais que os defendam da fraude dos bancos, sob a forma de contratos de swaps, clips e outros enganos; nem às centenas de milhar de famílias que perderam as suas casas; nem às dezenas de milhar de pequenos e médios empresários que fecham as empresas, porque não recebem nem um euro de bancos que usam as ajudas públicas para continuar a especular; nem aos pais e mães de família que têm cada vez mais dificuldade de chegar ao fim do mês, enquanto os benefícios das grandes empresas e bancos disparam; nem a quem dizíamos que as medidas não vinham resolver a crise, mas dar ainda mais benefícios e poder a quem a provocou; nem aos que começavam a sentir-se indignados, porque o governo chamava à Moncloa, para criar emprego, precisamente os administradores das empresas e bancos que mais postos de trabalho destruíram nos últimos anos.

Fizeram orelhas moucas a tudo isto. Nunca dizem que os bancos matam as pessoas à fome nem explicam como as enganam e lhes tiram as casas. E agora, que as pessoas reagem e saem à rua, fartas de tudo isto, querem ser eles os grandes intérpretes do que se passa.

Mas vão enganar-se novamente.


Madrid - Plaza Puerta del Sol - à 1 dia


O que se está a passar nas nossas ruas é muito mais simples do que parece. As pessoas vêem, as pessoas lêem, e as pessoas entendem muito mais do lhes é dado pelos meios de comunicação, propriedade dos bancos e das grandes empresas, que apenas programam bazófia para que a maioria não veja, não pense e não saiba nada que lhes seja inconveniente. Cada vez mais gente entra na internet e fala com outra gente para se informar por outras vias e começa a descobrir que Botín, Miguel Angel Fernández Ordoñez, Francisco González, Rajoy, Esperanza Aguirre, Zapatero e companhia montaram uma fraude colossal e já começa a cansar-se de a suportar.

Dão-se conta que sim, sabiam que estava a criar-se uma crise de grande envergadura e que a ocultaram para que não se visse a responsabilidade criminal de quem a provocou, os bancos, com as autoridades dos governos e os bancos centrais, que assobiavam para o lado.

Dão-se conta que as ajudas multi-milionárias dadas aos bancos, com a desculpa de que se iria incentivar o crédito para que o desemprego não continuasse a crescer, também é mentira, porque os bancos usaram esse dinheiro para especular com a dívida dos governos, chantageando-os com o autêntico terrorismo financeiro que praticam as agências de notação, exigindo assim reformas que lhes dêem ainda mais vantagens.

Deram-se conta que a reforma laboral, das pensões, das bolsas e ajudas à educação, o corte de salários e ainda as reformas que se adivinham para modificar a negociação da contratação colectiva ou para privatizar os serviços públicos, não têm nada a ver com as causas da crise, mas são a forma de abrir novos negócios para que continuem a enriquecer os mesmos de sempre.

E as pessoas começam a dar-se conta que já não é possível suportar tanta mentira na nossa vida política, com centenas de eleitos acusados de corrupção sem que os dirigentes dos partidos lhes digam algo, com um bipartidarismo favorecido por uma lei eleitoral simplesmente não democrática, com créditos bancários que nunca devolvem e com meios de desinformação detidos pelas grandes fortunas ou empresas e bancos, que apenas informam o que lhes convém. Ou seja, milhares de pessoas já perceberam que não vivemos numa democracia e que, por isso, há que reclamar a Democracia Verdadeira quanto antes.

Isto não é tudo, há ainda algo mais.


Madrid - Plaza Puerta del Sol - à 2 dias


Quem está nas ruas, quem apoia os que estão na rua e quem continua a juntar-se à rua TEM ALTERNATIVAS, ainda que os políticos convencionais se empenhem em desprezar-nos, dizendo que somos anti-sistema (quando na realidade é o sistema que é anti-nós), que só sabemos protestar e dizer que não.

Somos muitos e de sensibilidades variadas, mas basta ver os documentos que têm circulado a apelar às manifestações para perceber que há questões comuns e básicas que nos unem a todos, porque além das nossas diferenças, somos, acima de tudo e simplesmente, cidadãos e cidadãs que queremos algo tão elementar como democracia verdadeira e justiça a sério.

Entre outras reivindicações que podem ver-se nos documentos de Democracia Verdadeira Já ou outras organizações que apoiam as mobilizações, como a ATTAC, queremos uma lei eleitoral que não seja discriminatória, que garanta a igualdade de todas as pessoas nos processos eleitorais, queremos uma justiça que expulse os corruptos da vida política, queremos leis de meios de comunicação que garantam a pluralidade e não a concentração perversa que existe agora...

Queremos normas que garantam que os banqueiros e os grandes grupos não possam exercer extorsão sobre os governos nem impor a sua vontade sobre os poderes representativos. Queremos que as decisões económicas sejam tomadas por aqueles que elegemos para as tomar e não outros disfarçados de mercados. E que os mercados estejam submetidos à ética da satisfação social e não à do lucro sem fim.


Madrid - Plaza Puerta del Sol - à 3 dias


Queremos recuperar as empresas que os governos entregaram a baixo preço a capitais privados e que agora levam o nosso capital e os nossos lucros para outros lugares, despedindo os nossos cidadãos e prestando serviços muito piores e mais caros.

Queremos uma banca pública fortemente controlada para garantir o financiamento aos pequenos e médios empresários e às famílias.

Queremos medidas de urgência para que se investiguem os responsáveis da crise e paguem com indemnizações e prisão as suas fraudes, mentiras e crimes económicos, aqui e nos paraísos fiscais.

Queremos uma reforma fiscal que acabe com a situação injusta actual, que permite que os mais ricos praticamente não paguem e que faz recair a maior carga fiscal nos assalariados e pequenos e médios empresários, com rendimentos mais baixos, arruinando desta forma as classes médias e trabalhadoras que são a base das democracias.

Queremos que os poderes públicos impeçam imediatamente que milhares de famílias continuem a perder as suas casas às mãos de entidades financeiras, que se penalizem as actividades especulativas e que impeçam que o nosso património natural e ambiental continue a ser destruído como até aqui, apenas para dar dinheiro a uns poucos desalmados.


Madrid - Plaza Puerta del Sol - à 4 dias


Isto é mais ou menos o que querem estas pessoas, jovens e mais velhas, que irromperam pelas nossas ruas como um tsunami que durará muito mais do que alguns querem crer.

Não é preciso muito debate para entender o que pedem, o que pedimos. É muito elementar:

Que os culpados paguem os danos causados, que, se antes salvaram tão generosamente os ricos, salvem agora as pessoas e que se garanta que as decisões que tomadas nas instituições políticas sejam as que decidimos nós, cidadãs e cidadãos, quando elegemos os nossos representantes e não, como está a acontecer, as que impõem os banqueiros e grandes proprietários para salvar apenas os seus interesses egoístas.

Isto é tudo o que exigimos. Para já.


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Comentário

No futuro próximo, logo se verá!


Execução de Luís XVI

Paris - Praça Luís XV - à 214 anos


quarta-feira, maio 18, 2011

Operação Gladio – o terrorismo perpetrado pela Nato e pela CIA em países da Europa Ocidental contra cidadãos europeus

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O atentado bombista de Bolonha


A Operação Gladio consistiu numa operação secreta americana na Europa Ocidental que recorreu a redes clandestinas ligadas à NATO, à CIA e aos serviços secretos da Europa Ocidental durante o período da Guerra Fria, chamadas células «stay-behind». Implantadas em 16 países da Europa Ocidental, essas células visavam (supostamente) deter a ameaça de uma ocupação pelo bloco do Leste e estavam sempre prontas para ser activadas em caso de invasão pelas forças do Pacto de Varsóvia. A mais famosa foi a rede italiana Gladio.

A rede clandestina internacional englobava o grupo dos países europeus que pertenciam à Nato: Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Espanha e Turquia, bem como alguns países neutrais como a Áustria, a Finlândia, a Suécia e a Suíça.

No entanto, o seu verdadeiro objectivo era espalhar o terror e criar um clima de tensão permanente na Europa Ocidental. Entre os muitos actos de terrorismo que lhes são atribuídos, destacam-se:

- O atentado bombista dentro do Banco Nacional de Agricultura, na Piazza Fontana da cidade de Milão, em Itália, a 12 de Dezembro de 1969, que matou 17 pessoas e feriu 88.

- O atentado bombista de Bolonha – uma bomba explodiu na estação central ferroviária de Bolonha, em Itália, a 2 de Agosto de 1980. Morreram 85 pessoas e 200 ficaram feridas.

- Os massacres de Brabant, na Bélgica, que decorreram entre 1982 e 1985 e nos quais morreram 28 pessoas e outras 20 ficaram feridas.

- O atentado bombista na Oktoberfest de Munique, na Alemanha, a 26 de Setembro de 1980, onde morreram 13 pessoas e 201 ficaram feridas, 68 com gravidade.


Há dias, algo inexplicavelmente, o Canal História trouxe a lume, apresentando provas bastante consistentes, esta exposição do terrorismo americano contra cidadãos europeus ocidentais em solo do velho continente.




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terça-feira, maio 10, 2011

O assalto da Grande Finança Internacional, sob a forma de uma Troika sorridente, a um país «governado» há dezenas de anos por uma escumalha corrupta e assassina

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No Jornal Expresso de 1/9/2007, o jornalista Fernando Madrinha explicou sucintamente de que forma a Banca, a mais poderosa, interligada e influente quadrilha do planeta, utiliza a política e os políticos, os Media e os jornalistas para saquear os Estados Nacionais:

[...] «Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais


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E, de repente, sem que a esmagadora maioria dos portugueses percebesse porquê, abateu-se sobre Portugal uma gigantesca «crise financeira» (martelada ad nauseum nos meios de comunicação social), facto que «obrigou» a que uma Troika, constituída pelo FMI, o Banco Central Europeu e a União Europeia, se unissem num resgate financeiro ao nosso país no valor de 78 mil milhões de euros.

Um terço dos 78 mil milhões de euros previstos no pacto financeiro de ajuda a Portugal será concedido pelo FMI, sendo que os restantes 52 mil milhões de euros virão do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF) e do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), em partes iguais.


A Troika


Estes 78 mil milhões de euros vão ser pagos durante 13 anos a uma taxa igual ou superior a 6% = 4% de juros + 2% de spreads. No final dos 13 anos do empréstimo, os portugueses vão pagar as estas três beneméritas instituições, a somar ao capital em dívida, a bela maquia de mais de 60 mil milhões de euros apenas em juros de empréstimos.

Como explicou o chefe da missão do FMI em Lisboa, o objectivo deste empréstimo destina-se a amortizar as dívidas do sector público aos bancos e fazer com que os bancos portugueses possam regressar aos mercados, refinanciando-os e recapitalizando-os de forma a suportarem os «stress tests» (testes de consolidação).

Em suma, o empréstimo vai ser dividido em duas partes: uma que servirá para que o Estado Português pague as dívidas e os juros aos bancos pela obra inútil e faraónica em que se empenhou com entusiasmo, e outra destinada a ser injectada directamente para os «refinanciar e consolidar» os bancos nacionais .

Segundo João Luis Duque, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e uma presença constante como comentador na SIC Notícias e amigo do peito da Banca, a parte que caberá ao Estado para pagar as suas dívidas à banca nacional e internacional será sensívelmente igual à parte que será injectada directamente na banca nacional «para a refinanciar e consolidar»: 40 + 40 = 80 mil milhões de euros.




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I - Os 40 mil milhões de euros para pagar obra faraónica e inútil

Durante dezenas de anos, uma escumalha constituída por dirigentes políticos do «arco do poder», do sector empresarial do Estado e figuras da área financeira (acolitados e incensados por um batalhão de jornalistas e comentadores venais com lugar cativo nos jornais e televisões), criou dívidas brutais ao país com toda a sorte de obras com tanto de faraónicas como de inúteis, sempre acompanhadas de «inevitáveis» gigantescas derrapagens orçamentais. Segue-se uma lista de algumas das muitas inutilidades deliberadamente realizadas para colocar o Estado Português sob a pata da Grande Finança Internacional:

«Centro Cultural de Belém, Casa da Música no Porto, Estádios do Euro 2004, Expo98, Aeroporto de Beja, Metro Sul do Tejo, Pontes, Submarinos, 700 quilómetros de Auto-Estradas excedentárias, Parcerias Público-Privadas (PPP), Empresas Públicas, consultorias, e preparam-se novas Auto-Estradas, um Mega-Aeroporto e vários traçados de TGV...»


Miguel Sousa Tavares - Expresso 07/01/2006

«Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos da Ota e do TGV, [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita

«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre.»



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II - Os 40 mil milhões de euros que vão ser injectados directamente numa Banca que, como é fácil de comprovar, atravessa graves dificuldades


Banco Espírito Santo

Lucros em 2006 = 420 milhões de euros
Lucros em 2007 = 607 milhões de euros
Lucros em 2008 = 402,3 milhões de euros
Lucros em 2009 = 522 milhões de euros
Lucros em 2010 = 510,5 milhões de euros


Banco Millennium bcp

Lucros em 2006 = 780 milhões de euros
Lucros em 2007 = 563 milhões de euros
Lucros em 2008 = 201,2 milhões de euros
Lucros em 2009 = 225 milhões de euros
Lucros em 2010 = 301,6 milhões de euros


BPI – Banco Português de Investimento

Lucros em 2006 = 308,8 milhões de euros
Lucros em 2007 = 355 milhões de euros
Lucros em 2008 = 150,3 milhões de euros
Lucros em 2009 = 175 milhões de euros
Lucros em 2010 = 184,8 milhões de euros


Banco Santander Totta

Lucros em 2006 = 425 milhões de euros
Lucros em 2007 = 510 milhões de euros
Lucros em 2008 = 517,7 milhões de euros
Lucros em 2009 = 523 milhões de euros
Lucros em 2010 = 434,7 milhões de euros
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Adenda:

Como é que ficámos a dever tanto dinheiro aos bancos portugueses e estrangeiros? A resposta é simples: o Banco Central Europeu empresta dinheiro aos bancos mas não pode, estatutariamente, emprestar dinheiro aos Estados e, assim, os Governos são obrigados a negociar com os bancos (nacionais e internacionais) para se poderem financiar.

Visto que os bancos privados se financiam junto do BCE a taxas de juro de cerca de 1% e exigem juros muito superiores para comprarem dívida dos países (Portugal tem andado a a endividar-se a taxas de juro de 6, 7, 8, 9 e 10%), resulta que a banca privada, incluindo a nacional, tem feito fortunas a comprar dinheiro barato na UE e a vender caro cá.

E quem é que paga este enriquecimento da banca privada? Essa resposta é ainda mais simples: somos todos nós. É através dos impostos, dos cortes nos salários e nas pensões, que vamos pagando aquilo que os bancos vão ganhando.
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