quinta-feira, junho 28, 2007

Sócrates – como é curta a distância entre o neo-socialismo e o arqueo-estalinismo



Correio da Manhã – 23-05-2007

Margarida Moreira, directora regional de Educação do Norte, ordenou a abertura de um processo disciplinar a Fernando Charrua, o professor, por ter feito comentários insultuosos sobre José Sócrates e a sua licenciatura. Não satisfeita, accionou um inquérito no Ministério Público ao encaminhar o auto da denúncia que recebeu. A atitude desencadeou acesas críticas na opinião pública.

Numa carta de despedida, enviada aos conselhos executivos do Norte, Fernando Charrua admite apenas ter feito “um comentário jocoso a um colega, dentro de um gabinete”. E acrescenta que a frase não partiu da sua imaginação, mas foi retirada “do anedotário nacional do caso Sócrates/Independente”.


Diário de Notícias – 21-06-2007

O primeiro-ministro apresentou uma queixa-crime contra o blogger António Balbino Caldeira por causa de vários escritos sobre a sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente.

Balbino Caldeira acusa: "O sistema persegue politicamente os seus opositores por estes pretenderem exercer os seus direitos de cidadania. Mas só sobrevive com a complacência dos órgãos do Estado formalmente encarregues da vigilância dos abusos e a resignação popular".


Jornal Público – 28-06-2007

A directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, Maria Celeste Cardoso, foi exonerada pelo ministro da Saúde por não ter retirado do centro um cartaz que apresentava declarações de Correia de Campos "em termos jocosos".

"Faça como o ministro e desapareça daqui. Fuja, está num SAP". A frase, escrita junto de uma fotocópia de uma entrevista publicada no JN, em que o ministro da Saúde dizia que nunca iria a um serviço de atendimento permanente por falta de condições.

O despacho da exoneração, pouco claro, justifica o afastamento da directora por esta "não ter tomado medidas relativas à afixação de um cartaz que utilizava declarações do ministro da Saúde em termos jocosos, procurando atingi-lo".


Comentário:

Neste arremedo de estado policial que Sócrates nos parece querer impor por forma a proceder, com tranquilidade, ao desmantelamento do Estado em todas as suas vertentes, o governo presenteia-nos agora com uma linha de denúncia na Internet:




O site explica-nos detalhadamente como denunciar e porquê denunciar:



E embora o site apresente como fundamento da sua existência a luta contra a pedofilia e o racismo, o seguinte item é elucidativo do que o governo pretende para o futuro da nossa democracia:

Que tipo de conteúdos posso denunciar?

«Numa fase inicial a interface que permite efectuar uma denúncia está restringida a conteúdo público armazenado na Internet. Numa fase posterior será incluída a possibilidade de denunciar conversas em salas de conversação públicas ou privadas, assim como mensagens de telemóveis. De notar que entretanto é possível denunciar este tipo de conteúdos através dos mecanismos de denúncia auxiliares como o E-mail e telefone mencionados na secção de contactos.»

terça-feira, junho 26, 2007

Propaganda «ocidental» versus «censura» venezuelana

Texto de Miguel Carvalho - Visão - 15 Junho 2007

A DEVIDA COMÉDIA

Em mais de vinte países, alguns dos quais da União Europeia, as licenças para emitir no espaço público relativas a mais de duas centenas de canais de televisão e rádios não foram renovadas nos últimos anos. Coisa pouca, não é?

Actualmente, porém, a grande notícia é o caso da «censura» e fecho da Radio Caracas Television (RCTV), um grave atentado, diz-se, à liberdade de expressão.

(...) A RCTV, tal como os outros canais privados da Venezuela, tinha uma concessão de 20 anos para emitir no espaço público. Todas as outras licenças foram renovadas, menos a relativa a este canal. A Venezuela tem mais de 100 emissoras de rádio e TV locais, comunitárias e privadas, em relação às quais não foi tomada idêntica atitude. O Governo da Venezuela, discorde-se ou não da atitude, considerou que a RCTV passou das marcas ao sugerir, num dos seus espaços informativos e de forma mais ou menos camuflada, o assassinato do presidente Hugo Chávez.

No tempo em que governavam na Venezuela os presidentes amigos dos EUA e das democracias europeias, a RCTV foi suspensa várias vezes. Em 1980, por sensacionalismo. Em 1981, por difusão de programas pornográficos. Em 1984, acabou condenada por ridicularizar o Presidente da República.

Na Venezuela, até à chegada de Chávez, os ministros de Informação dos sucessivos governos eram escolhidom após uma consulta aos donos dos grandes grupos mediáticos para não ferir susceptibilidades, tal como pude confirmar em conversas com estudiosos da área dos media na Venezuela.

Acontece, por último, que a RCTV não foi fechada, como se disse e escreveu. A RCTV foi impedida de continuar a emitir no espaço público. Mantém as suas transmissões por cabo, satélite e Internet, às quais milhões de venezuelanos podem continuar a aceder. Refira-se, a título de curiosidade, que Ignacio Ramonet, teórico da comunicação, e Harold Pinter, prémio Nobel da Literatura, estão entre os apoiantes da decisão do Governo venezuelano. O diário britânico Guardian – tão citado pelas elites cá do burgo – publicou recentemente uma notícia – que o burgo ignorou - com a lista das personalidades que apoiam a decisão do Governo venezuelano relativa à RCTV.


Henrique Monteiro, director do Expresso, não podia estar menos de acordo:

«(...) E a Europa, que tanto se preocupa - e bem - com os direitos humanos, não pode contemporizar com regimes como o da Venezuela, se quer ter verdadeira voz e moral na denúncia de Guantánamo ou na crítica dos excessos israelitas.


Comentário:

O director do Expresso, um homem que já se suspeitava deficientemente informado, revela ainda fracos hábitos de leitura (ainda para mais numa língua estranha):




And now something completely different:

7 Maravilhas da Blogosfera:

http://xatoo.blogspot.com/

http://wehavekaosinthegarden.blogspot.com/

http://klepsidra.blogspot.com/

http://sosacriticismo.blogspot.com/

http://www.moteparamotim.blogspot.com/

http://marginalzambi.blogspot.com/

http://apanha-moscas.blogspot.com/

sábado, junho 23, 2007

Estamos a ser «governados» por uma comissão liquidatária ao serviço da alta gatunagem?





Texto de Miguel Sousa Tavares - Expresso 23/06/2007

O desvario dos socialistas

(…) O que me custa a entender é que se queiram gastar biliões num aeroporto novo cuja necessidade está por provar, e mais uns biliões num TGV para o qual se desconfia que não haverá utilizadores que o justifiquem, ao mesmo tempo que há gente a viver como nos subúrbios de África e a tratar da saúde em hospitais que parecem saídos da Idade Média. Custa-me a aceitar a convivência entre o luxo e a miséria, entre um país pobre e um Estado esbanjador.

Os nossos socialistas ‘modernos’ têm dois fascínios fatais: as obras públicas e os interesses privados. A simbiose que daqui resulta é a pior possível. O Estado, empenhado em mostrar grande obra a qualquer preço, contrata com os grandes interesses privados tudo e mais alguma coisa: as estradas, as telecomunicações, o ensino, a saúde, a defesa. E dá de si tudo o que tem para dar: terrenos e dinheiros públicos, património e paisagem, empreitadas e fornecimentos, concessões e direitos de toda a espécie. A confusão de funções, de papéis e de interesses entre o público e o privado que daqui resulta é total e perturbante. Anteontem, na apresentação do TGV (e tal como já havia sucedido com a da Ota), o Governo falou, não para o país ou os seus representantes, mas para uma plateia seleccionada dos grandes clientes privados dos negócios públicos: bancos, seguradoras, construtoras, empresas de estudos, gabinetes de engenharia e escritórios de advocacia. E o discurso foi lapidar: “Meus amigos: temos aqui 600 quilómetros de TGV a construir e dez mil milhões de euros a gastar. Cheguem-se à frente e tratem de os ganhar!.

Dois dias antes, na Assembleia da República, o PS uniu-se como um todo para votar contra a proposta do PP, apoiada por toda a oposição, para que o estudo de uma alternativa à Ota contemplasse também aquela que é a solução que o bom-senso defende: a da chamada Portela±1. No dia seguinte, no ‘Público’, o americano do MIT Richard Neufville, uma autoridade mundial em aeroportuária, explicava por que razão a questão do aeroporto de Lisboa se resolveria melhor e infinitamente mais barato com o simples aproveitamento de uma pista já existente e a construção de infra-estruturas mínimas e eficazes para as «low-cost». Mas os deputados socialistas, representantes nominais do interesse público, não querem sequer que a solução seja considerada. Porquê? A resposta só pode ser uma: porque na Ota e no TGV estão em jogo muitos interesses, muitos biliões, que o Governo promove e protege e que o partido compreende.

Temos agora a questão do TGV. (...) ninguém sabe para que servirão. Não há estudos sobre a utilização prevista e a relação custo-benefício da sua construção. Depois de tranquilamente nos esclarecerem que, quanto aos custos de construção, a hipótese de a sua amortização ser realizada com as receitas de exploração é “totalmente para esquecer”, a própria secretária de Estado dos Transportes duvida de que, por exemplo, a linha para Madrid consiga ser auto-sustentável. Ou seja, depois de um investimento de dez mil milhões de euros a fundo perdido, preparam-se para aceitar tranquilamente um défice permanente de exploração. Quanto é que ele poderá vir a ser, ninguém sabe, porque não se estudou o mercado para saber se haverá passageiros que justifiquem três comboios diários para Madrid. Mas, para que os privados, que ficarão com a concessão por troços, não se assustem com a vulnerabilidade do negócio, o Governo garante-lhes antecipadamente o lucro, propondo-se pagar-lhes segundo a capacidade instalada e não segundo a capacidade utilizada. Isto é, se num comboio com trezentos lugares só trinta forem efectivamente ocupados, o Governo garante às concessionárias que lhes pagará pelos 270 lugares vazios. Todos os dias, três vezes ao dia para Madrid e eternamente, até eles estarem pagos e bem pagos. Eis o que os socialistas entendem por ‘obras públicas’ e ‘iniciativa privada’!

Alguma coisa deve estar tremendamente confusa na cabeça dos socialistas e do engenheiro José Sócrates. Eles não perceberam que não são nenhuma comissão liquidatária dos dinheiros e património públicos em nome dos ‘superiores interesses da economia’ (agora, vai a ria de Alvor, em projecto PIN...). Eles não perceberam que o interesse público não é construir aeroportos e comboios de luxo de que o país não precisa, para ‘estimular a economia’ e encher de dinheiro fácil empresários que não sobrevivem sem o Estado; que não é entregar todo o património natural e a paisagem protegida a especuladores imobiliários sem valor nem qualificação; que não é ‘emprestadar’ o CCB ao comendador Berardo para lhe resolver o problema de armazenamento da sua colecção de arte. Se isto é a esquerda, que venha a direita!

Comentário:

Isto não é a esquerda, nem o centro nem a direita. Isto é uma comissão liquidatária ao serviço da alta gatunagem. A propósito, eis alguns dos grandes clientes privados dos escandalosos negócios públicos:


quarta-feira, junho 20, 2007

José Sócrates - um trafulha, um larilas, um filho da mãe ou um engenheiro adulterado?

José Sócrates
Analisado à lupa pela sociedade civil



Um trafulha:

Miguel Sousa Tavares: «Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos [Ota e TGV], [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita.»

«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre.»


Um larilas:

Santana Lopes, não se coibiu de criticar o seu opositor [Sócrates] fazendo referências aos seus hábitos sexuais. Quem não se lembra da história dos "colos" de Santana Lopes, que era um homem à antiga, que preferia os colos femininos, ao invés do seu opositor [Sócrates], que preferia "outros colos"?




Um filho da mãe:

Fernando Charrua reafirmou que o seu comentário "F. da P. (filho do pai) sobre Sócrates foi feito em privado, dentro de quatro paredes de um gabinete, a um amigo de longos anos e à hora do almoço".

"Bem diferente é o caso da directora regional, que em público gracejou acerca do mesmo assunto", salientou, acrescentando que Margarida Moreira "se encontrava no jantar como directora regional de Educação do Norte, ou seja, representando a ministra da Educação e o Governo de Portugal". "Se dúvidas ainda houver, possuo provas quanto a datas, testemunhas e quanto ao que ali foi proferido".


Um engenheiro adulterado:

Balbino Caldeira - o percurso académico do primeiro-ministro vem dar razão ao clamor público, nos blogues, nas notícias de jornais, nas rádios, TVs e nas ruas, para que as dúvidas fossem investigadas.

... o percurso académico do primeiro-ministro de Portugal não pode estar sujeito à dúvida. Nem o primeiro-ministro na entrevista de 11-4-2007 à RTP-1 dissipou essas dúvidas, tendo, ao contrário, ainda as aumentado, nem as notas sucessivamente contraditórias do seu Gabinete forneceram o esclarecimento cabal do caso.


Comentário:

Será Sócrates um mandatário dos ladrões da alta finança e dos grandes empresários da construção como afirma categoricamente Miguel Sousa Tavares, um larilas como sugeriu Santana Lopes, um filho da mãe como gracejou Fernando Charrua ou um engenheiro abastardado como blogou Balbino Caldeira?

Não obstante as críticas torpes que lhe são dirigidas, sou da opinião que a honestidade de Sócrates está ao nível da sua virilidade. Que mais poderíamos desejar para governar este rectângulo à beira-Espanha plantado?

segunda-feira, junho 18, 2007

Miguel Sousa Tavares - o que os grandes financiadores do “Bloco Central” querem é um novo aeroporto, megalómano, de raiz e tão caro quanto possível

Texto de Miguel Sousa Tavares - Expresso 16/06/2007

Nunca digas nunca

Vai fazer um ano que aqui exprimi pela primeira vez as minhas dúvidas sobre a súbita febre de Ota que atacou o Governo (“Foi você que pediu um aeroporto?”). Passado um ano, em que tudo li, ouvi e consultei sobre o assunto, as minhas dúvidas de então transformaram-se todas em certezas ou quase certezas. E, as que restam, passaram de dúvidas a desconfianças.

Tenho hoje a quase certeza de que a Portela não está saturada, ao contrário do que dizem, inocentemente ou não. Não está saturada hoje e não estará se e quando houver TGV e ele vier retirar à Portela uma grossa fatia de passageiros com origem ou destino no Porto e Madrid. E tenho a certeza de que as dificuldades de estacionamento na Portela se resolveriam com a anexação dos terrenos de Figo Maduro.

Tenho a certeza de que a melhor solução para Lisboa, no caso de saturação a prazo da Portela, seria a sua manutenção a par de um aeroporto alternativo, modesto e fácil de pôr em funcionamento, como sucede em todas as cidades europeias com grande movimento aéreo. A “Portela+1” seria a solução mais fácil, mais rápida de executar, que melhor servia os interesses da cidade e dos seus habitantes e de longe a mais barata para os contribuintes.

Tenho a quase certeza de que, se a solução “Portela+1” não foi contemplada no estudo da CIP nem no período de reflexão concedido pelo Governo, tal se ficou a dever a um acordo entre a CIP e José Sócrates. E tenho a certeza de que essa solução, justamente porque sairia infinitamente mais barata, é a que menos interessa ao sector financeiro, às sociedades de advocacia de negócios e de influências e ao sector empresarial que está habituado a só fazer grandes negócios quando eles envolvem grandes obras públicas. Não custa a perceber que o Governo do PS tenha aceite este compromisso com a CIP, desde que de fora ficasse a solução mais simples, e que o PSD não tenha esboçado um protesto por não se falar na hipótese da terceira solução. Estão em jogo os interesses dos grandes financiadores do “Bloco Central” - essa eterna tratação entre dinheiros públicos e interesses privados, que traz cativa, de há muito, a capacidade de desenvolvimento do país. Não percam tempo a tentar perceber se há mais “interesses” envolvidos na Ota ou em Alcochete: bilião a mais ou a menos, o que os interesses querem é um novo aeroporto, megalómano, de raiz e tão caro quanto possível.

Tenho a certeza, obviamente, de que entre a Ota e Alcochete - (e confirmando-se a inexistência de danos ambientais incomportáveis em Alcochete) - só mesmo um inimputável é que escolheria a Ota para um aeroporto internacional de Lisboa. Basta um olhar ao mapa para perceber que Alcochete fica mais perto, tem acessibilidades mais fáceis e está alinhado com o TGV para Madrid. Deve custar um terço da Ota e tem a inestimável vantagem de apenas envolver terrenos públicos - ao contrário da Ota, que tem alimentado intermináveis boatos e especulações sobre as jogadas com a propriedade dos terrenos. É ainda mais seguro em termos de navegação aérea, mais fácil e mais rápido de fazer e sem prazo de vida.

Mas também tenho enormes desconfianças sobre o fundamento sério desta súbita decisão governamental de ir estudar agora a alternativa Alcochete. É óbvio que, para já, ela salva do descalabro a campanha autárquica de António Costa, que vegeta sem nenhuma ideia nem projecto dignos desse nome. É óbvio também que a ‘pausa’ serve para não abrir um conflito com o Presidente e visa demonstrar que a célebre teimosia de Sócrates não é insensível à opinião da sociedade civil e à busca da melhor solução para o ‘interesse público’. Pois... mas, se assim fosse, se ambas as soluções estivessem afinal em aberto, não se percebe que continue em funções o ministro que há quinze dias jurava que na margem sul «jamais, jamais» (em francês), e que passou o último ano a pregar a política do facto consumado e do capricho pessoal. Em vez disso, e como vimos, logo no dia seguinte, Mário Lino recebeu, com o maior dos à-vontades, o lóbi autárquico da Ota, para lhe dizer que continuava com eles e que contassem com ele.

Há um ano, Mário Lino e José Sócrates diziam que tinham feito todos os estudos e que não havia dúvida alguma de que Lisboa precisava urgentemente de um novo aeroporto e que isso só podia ser na Ota. Depois, foi-se descobrindo que, afinal, os estudos não estavam feitos mas no início (o de impacto ambiental só agora começou), e que alguns deles, como o de engenharia, desmentiam a excelência da Ota. Descobre-se que nenhuma alternativa tinha sido seriamente estudada e algumas, como Alcochete, nem sequer tinham sido consideradas. Descobre-se que a “certeza” do esgotamento iminente da Portela não levava em consideração factores como a entrada em funcionamento do TGV e baseava-se em previsões de crescimento do número de turistas verdadeiramente mirabolantes. Descobre-se que a solução que o Governo quis impor à força é a mais cara, a mais incómoda para os passageiros, a mais insegura, a mais difícil de executar, a que menos interessa a Lisboa e a de menos futuro. E foi assim que foi tratada a obra pública mais importante das últimas e próximas décadas.

Tal como sucedeu com a regionalização, também agora os socialistas quiseram impor ao país um facto consumado, com “estudos” feitos e sem necessidade de discussão pública. Eu só espero que, como então sucedeu, também agora o país lhes dê a resposta que merecem. E que ninguém se deixe iludir por esta possível manobra de “pedimos desculpa por esta interrupção, a Ota segue dentro de momentos”.

domingo, junho 17, 2007

Miguel Sousa Tavares - As grandes jogadas feitas na sombra pelos «nossos representantes» eleitos

Corrupção ao mais alto nível

Jornal Público – 17 de Junho de 2007







Van Zeller acertou com Sócrates e Mário Lino quem seriam os promotores do estudo sobre o aeroporto de Alcochete

O estudo da CIP – Confederação da Indústria Portuguesa sobre as alternativas à Ota para a construção do novo aeroporto de Lisboa começou, afinal, por ser uma iniciativa tripartida entre essa organização patronal, a Associação Comercial do Porto (ACP) e uma terceira confederação empresarial. Mas tudo mudou depois de uma reunião entre Francisco Van Zeller, José Sócrates e Mário Lino, onde se considerou “conveniente” que apenas a CIP ficasse encarregue da promoção do documento. Outra consequência: o estudo de uma opção Portela + 1, que constava do estudo preliminar e que é considerado essencial pela ACP, acabou também por ficar pelo caminho.

Os bastidores desta iniciativa são contados por Rui Moreira, presidente da ACP, em entrevista ao “Diga lá, Excelência” do PÚBLICO, Rádio Renascença (RR) e RTP 2, e contrariam as declarações de sexta-feira da CIP e Ministério das Obras Públicas sobre a inexistência prévia de negociações entre as duas entidades acerca do documento que foi apresentado na segunda-feira e que apresenta o Campo de Tiro de Alcochete como alternativa à Ota.

“Nós fomos originalmente contactados e não apenas para sermos financiadores do estudo”, recorda Rui Moreira. O contacto foi feito pelo próprio Francisco Van Zeller, presidente da CIP, que explicou o projecto: “Fazer um estudo encomendado pela CIP, pela ACP e por uma outra confederação”, que Rui Moreira recusa revelar por nunca ter falado com essa entidade sobre o assunto.

“[Van Zeller] perguntou se eu estaria disponível. Respondi que achava uma boa iniciativa, louvável, da sociedade civil. Houve uma apresentação no Porto, na ACP, no Palácio da Bolsa, em que estiveram presentes vários empresários que eu convidei. Foi feita uma apresentação de um estudo prévio que apontava para a busca de soluções na margem sul e que apontava para a Portela + 1, ainda que se percebesse por esse estudo uma coisa que também tenho defendido: que a Portela não dará indefinidamente mas se calhar dá para mais 15 anos. E cada ano a mais que der tanto melhor, porque estão a ser investidos lá 500 milhões de euros.”

(…)

Reunião com Sócrates

Mas em poucos dias este alinhamento havia de desfazer-se. “O eng. Francisco Van Zeller contactou-me alguns dias depois, disse que viria ao Porto para falar comigo”, continua o presidente da ACP. Estávamos então no dia 2 de Março. “Nesse dia, o eng. Van Zeller disse-me: ‘Rui Moreira, eu fui falar com o primeiro-ministro e foi entendido como conveniente que o ACE não faz muito sentido e portanto isto vai ser apresentado pela CIP. Mas se a ACP quiser continuar a contribuir como se fosse um empresário…”.

Rui Moreira diz desconhecer se houve ou não negociação entre Van Zeller e o Governo sobre os promotores ou o conteúdo do estudo. Mas garante que, se tivessem ficado no grupo de promotores, “o estudo teria continuado a esgotar a opção Portela + 1 e se a Portela + 1 saísse do estudo eu teria uma explicação para vos dar”.

Que houve uma conversa entre o eng. Francisco Van Zeller, o primeiro-ministro e o ministro das Obras Públicas, houve. O teor da conversa eu não vou revelar. Esta parte revelo porque explica a razão por que nós saímos do estudo”, conclui o presidente da ACP.



Miguel Sousa Tavares - Expresso 07/01/2006

«Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos [Ota e TGV], [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita.»

«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre.»

quinta-feira, junho 14, 2007

A crua realidade de um país a caminhar para o abismo, enquanto sucessivos governos «apostam» criminosamente em CCBs, Expos, Estádios, Otas e TGVs



Em Portugal empobrece-se a trabalhar. Há dois milhões de pobres no nosso país. Mais de um terço dos pobres é trabalhador por conta de outrem com baixíssimos salários e em permanente degradação. E outro terço é reformado com reformas de miséria. Esta é a realidade.

Realidade é a destruição e deslocalização de empresas. É Portugal ter hoje a maior taxa de desemprego dos últimos vinte anos. É a existência de mais de 600 mil desempregados reais. É o facto de milhares de trabalhadores portugueses voltarem a emigrar e a sujeitar-se ao trabalho escravo e sem direitos. É o desemprego de longa duração a aumentar assustadoramente, com mais de metade (51,7 por cento) dos trabalhadores no desemprego nesta situação.

Realidade é o nosso país ser na União Europeia (UE) o que tem a maior desigualdade na distribuição do rendimento. É os trabalhadores portugueses terem dos mais baixos salários dos países da UE e preços de serviços e bens essenciais dos mais elevados. É o nosso país apresentar o pior indicador de trabalhadores pobres na UE a 25. É o termos das mais elevadas taxas de risco de pobreza da EU entre aqueles que trabalham. É o sermos o país com menos justiça social e um dos mais desiguais na distribuição dos rendimentos.

Realidade é que aumenta a idade da reforma e diminui o valor das pensões. É a existência de novos e mais duros sacrifícios que resultam do agravamento dos impostos dos bens de consumo e dos rendimentos do trabalho, incluindo dos reformados. É o aumento das taxas de juro e do endividamento, que ampliam as dificuldades e angústias de milhões de portugueses com a complacência e o silêncio cúmplice do Governo.

Realidade é o crescimento da precariedade dos vínculos e das condições de trabalho e o aumento da instabilidade e insegurança da vida dos jovens. É mais de um milhão e duzentos mil trabalhadores terem vínculos precários, dos quais mais de meio milhão são jovens. É o eternizar a situação de precariedade com os contratos a prazo, os recibos verdes, a prestação de serviços, as bolsas de investigação, os apoios de inserção, o trabalho temporário.

Realidade é Portugal ser o terceiro país da União Europeia com maior percentagem de trabalhadores com contratos não permanentes. Ocupando a mesma posição quando o assunto é emprego por conta própria. Juntando a isto o trabalho a tempo parcial, verifica-se que 40,9 por cento do emprego total em Portugal não apresenta a forma de contrato de trabalho sem termo e a tempo completo.

Realidade bem diversa é a circunstância de, ao mesmo tempo que se agrava a situação dos trabalhadores e da generalidade da população, os lucros dos grupos económicos e financeiros subirem todos os anos. Em 2006 os cinco principais bancos nacionais, juntamente com a EDP, a PT, a Galp e a Sonae tiveram 5300 milhões de euros de lucros, mais 14,4 por cento do que em 2005. Como o é alguns dos gestores de empresas privadas ganharem 130 (!!!) vezes mais que um trabalhador com o salário mínimo nacional.

Realidade é o nosso país estar aprisionado pelos interesses dos grupos económicos e financeiros. Cujos lucros aumentam todos os anos, à custa dos sacrifícios da maioria do povo e do comprometimento do desenvolvimento do país.


Comentário:

O ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, recusou-se a comentar a medida do Banco Central Europeu (BCE) de subir as taxas de juro de referência, considerando que a autoridade monetária europeia é independente do poder político: "Não devo comentar da oportunidade dessas decisões", disse. "É de facto um aspecto negativo que está para além do poder de intervenção do Governo", sublinhou o ministro. Ainda assim, para Teixeira dos Santos, o preço do dinheiro continua a ser baixo.

quarta-feira, junho 13, 2007

Henrique Monteiro, director do Expresso – um jornalista de pouca bagagem e inteligência mediana

Jornal Expresso – 9 de Junho de 2007

Henrique Monteiro, director do jornal Expresso, repreende com severidade o secretário de Estado da Cooperação, António Braga, pela condescendência do diplomata português para com o ditador venezuelano Chávez:

«Portugal, em nome de interesses muitas vezes ilusórios, contemporiza demasiado com regimes que não merecem tanta compreensão. Na mesma semana, em Moscovo e em Caracas, este estilo ficou claramente expresso.»

«Há frases mortais, toda a gente sabe, e uma delas foi proferida pelo a propósito do Governo da Venezuela: “Fiquei com muito boa impressão do elenco governativo, da sua formação de base, técnica e política”. O momento em que a frase foi proferida - Chávez acabava de proibir, por censura política, um canal de televisão - tornou estas palavras ainda mais letais.»

«Pode dizer-se que António Braga, o secretário de Estado, tem de rodear-se de especiais cuidados por causa dos 600 mil portugueses que ali vivem. Mas chegar à ideia repugnante de elogiar o Governo de um ditador é demasiado. Portugal tem interesses na Venezuela, mas deve ter princípios gerais; a sua diplomacia não deve ofender gratuitamente o Governo de Caracas, mas jamais deve elogiar um Governo que tem a liderança e a atitude de um homem como o Presidente daquele país.»

«(...) E a Europa, que tanto se preocupa - e bem - com os direitos humanos, não pode contemporizar com regimes como os de Cuba e da Venezuela, se quer ter verdadeira voz e moral na denúncia de Guantánamo ou na crítica dos excessos israelitas.»


Na versão online (paga) do Expresso, os comentaristas, um tudo nada melhor documentados, não se pouparam a esforços para salvar o artigo de Monteiro:

1 a 3 comentários:

adias - 9 de Junho de 2007 às 10:33:

«Fica, então, mal elogiar Chavez. Monteiro dixit... »

«Talvez o mísero pasquinaço em que o Expresso se tem vindo a transformar, cheio de prosódia "pensamento único" e muito "modernaço", passe a não bajular tão reverencialmente o Dr. Mário Soares que, nesta mesma edição, responde a um escriba que lhe pergunta: "O que é que achou de Chávez?" desta elogiosa maneira: »

«[Chávez] é um homem de convicções. Tem uma referência: Simon Bolívar. Acredita na integração da América Latina. Uma integração - como dizem - contra o domínio dos «gringos». Quer contribuir para fazer uma espécie de União Europeia na Ibero-América para o desenvolvimento sustentável da região. É um projecto político, de cooperação entre estados soberanos, voluntário, ambicioso e, ao contrário do que alguns insinuam, não militar. Chávez tem petróleo, gás e muito dinheiro. Aproximou-se de Cuba e de Fidel de Castro. E envia petróleo para os cubanos em troca de professores, médicos e enfermeiros. Um bom negócio para ambas as partes. Na primeira vez que fui à Venezuela, no seu mandato, convidou-me e ao Raul Morodo para darmos uma volta de avião. Fomos no avião presidencial, com vários ministros."»
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Diógenes - 11 de Junho de 2007 às 06:35:

«Censura política? Boa resposta do comentador anterior (Adias)»

«Aliás, caro Monteiro, você, como habitualmente, não conta a história toda: A RCTV apelou ao golpe de Estado contra um presidente eleito. Você, obviamente, concorda.»

http://resistir.info/venezuela/les_dessous_caches_p.html
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Epicurus - 12 de Junho de 2007 às 12:21:

«Chávez acabava de proibir, por censura política, um canal de televisão».

«Numa só frase, duas mentiras: Chávez não proibiu, limitou-se a não renovar uma licença - como é prerrogativa de qualquer Governo democrático, por isso mesmo é que as licenças de emissão têm prazo; e não foi por censura política, foi por ter apelado - como também em Portugal é ilegal - ao derrube pela força de um governo sufragado em eleições democráticas

«É natural e legítimo que Chávez não queira ter o destino de Allende. O que a TV agora encerrada estava a fazer - de modo sistemático, planeado, e concertado com os americanos - era abrir caminho a um qualquer Pinochet venezuelano.»

«De qualquer modo, descanse Henrique Monteiro: depois de encerrada esta, ainda ficam na Venezuela dezenas de televisões privadas - que certamente poderão emitir as opiniões políticas que quiserem, só não poderão convocar golpes de Estado.»

segunda-feira, junho 11, 2007

TV Blogo – a tortura em Guantanamo vista tanto pelo prisma da Fox News como por André Azevedo Alves do blogue Insurgente

Benvindos à quinta emissão da TV Blogo

André Azevedo Alves, líder intelectual incontestado do blogue Insurgente defende, tal como Steve Harrigan da Fox News, que se exerça sobre os terroristas da Al-Qaeda, arrebanhados à pressa no Afeganistão, o suplício do tapume de água.

Será tortura? Deverá ser utilizada pelos Estados Unidos? Para André Azevedo Alves, tal como Steve Harrigan, trata-se de um meio muito eficaz de fazer alguém falar e ter esse terrorista novamente saudável em poucos minutos. André, por ele, até prescindiria de bom grado do «saudável».

Jon Stewart, do Daily Show, corrobora os argumentos do «master lord» do Insurgente e do pivot da Fox News:



sábado, junho 09, 2007

Propaganda eleitoral: quando “Al-Qaeda” dá as suas instruções de voto



Na véspera de actos eleitorais importantes em vários países da Europa, a comunicação social «atlantista» (leia-se pró-Bush) vai publicando os rumores mais alarmistas relativos a projectos de atentados levados a cabo pela "nebulosa Al-Qaeda", com o objectivo de incitar os eleitores a voltarem-se para os candidatos de segurança e partidários "do choque das civilizações".

Assim como a 23 de Abril de 2007, quer a partir do dia seguinte da primeira volta das eleições presidenciais francesas, publicações atlantistas como «Le Monde», «Le Nouvel observateur» ou ainda «La Croix» retomavam as afirmações sob reservas da rádio espanhola Cadena Ser, tendo, ela própria, recebido essas afirmações supostamente dos serviços secretos espanhóis (SIC), de acordo com as quais a Al-Qaeda poderia atingir a Espanha aquando das eleições locais de 27 de Maio e/ou a França antes da segunda volta das presidenciais de 6 de Maio.

Para apoiar estas "informações" de proveniência, no mínimo duvidosas, é avançada a tradicional "reivindicação" pela Internet dos atentados de Argel de 11 de Abril de 2007 que exprimem o desejo de refundar um califado muçulmano que inclui a Espanha. Retorna-se, por conseguinte, aos argumentos, ou à falta de melhor, à teoria da conspiração islamista mundial retransmitida por internautas anónimos. O facto de a Al-Qaeda ter escolhido um intenso período eleitoral para avançar o seu projecto a longo prazo seria completamente fortuito!

De outro lado da Mancha, a imprensa do magnata neoconservador Rupert Murdoch não tem dúvidas. Sob o título "Al-Qaeda prepara um importante ataque contra o Reino Unido" e sempre de acordo com fugas anónimas "dos serviços de informações" que sabem decididamente muito sobre Al-Qaeda sem, no entanto, terem qualquer êxito em travá-la, a edição de 22 de Abril do semanário Sunday Times afirmava que "uma operação em grande escala" estava em preparação "com a ajuda de apoios no Irão". Esta coincidiria com a partida de Tony Blair de Downing Street e seria comparável… "a Hiroshima e Nagasaki"!

Com efeito, prossegue o jornalista do Sunday Times, se uma tal operação falhasse, a Al-Qaeda correria o risco de perder a credibilidade. Além disso, o poder iraniano seria cúmplice, porque sendo shiita, e à priori oposto à Al-Qaeda, nem por isso não fecha menos os olhos sobre a actividade da nebulosa no Irão. Como se a propaganda eleitoral do terror não fosse suficiente, acrescenta-se por conseguinte a ameaça iraniana para dar mais peso ao argumento.

Tudo isto coloca uma questão espinhosa: se o projecto da Al-Qaeda é impôr a religião muçulmana à Europa, tal não se fará certamente com o consentimento da sua população. No entanto, a imprensa atlantista afirma que Al-Qaeda está à procura de credibilidade junto deste mesmo público.

Mas não será que os promotores "da guerra ao terrorismo" ao perderem a sua credibilidade devido à incoerência total dos seus álibis, afastam esse mesmos eleitores que cada vez mais que desconfiam ao seu respeito.

quarta-feira, junho 06, 2007

Subida das taxas de juro - um roubo de proporções bíblicas

Será que estes cavalheiros andam a conspirar:








Para encher a mula a estas sanguessugas?




Agencia Financeira - O Banco Central Europeu (BCE) anunciou esta quarta-feira um novo aumento de 25 pontos base nos juros da Zona Euro, fixando o preço do dinheiro nos 4%, precisamente o dobro do nível em que se encontrava quando a autoridade monetária iniciou o actual ciclo de aumentos, diz o «Jornal de Negócios».

Desde aquela altura, os encargos adicionais das famílias, só com as subidas dos juros, já superam os mil euros e é de esperar que esta «factura», que resulta da política do BCE, venha a aumentar ainda mais.


Jornal Público - O ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, considera uma má notícia para as famílias portuguesas mais endividadas a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de subir as taxas de juro de referência em 0,25 pontos percentuais, para quatro por cento.

O responsável governamental recusou-se a comentar a medida do BCE, considerando que a autoridade monetária europeia é independente do poder político: "Não devo comentar da oportunidade dessas decisões", disse. "É de facto um aspecto negativo que está para além do poder de intervenção do Governo", sublinhou o ministro.


Controlar a inflação, que se situa ligeiramente abaixo dos dois por cento é a justificação do BCE. Os analistas acreditam por isso que subida de hoje não vai ser a última e prevêem que a taxa de juro chegue aos 4,5 por cento.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) concorda com a subida e defende que assim é possível controlar os riscos inflacionistas a médio prazo, que resultam de um crescimento económico superior ao previsto. Este organismo prevê que a inflação vá baixar no próximo ano, sobretudo devido à evolução moderada dos salários e dos custos laborais.

O ministro das Finanças português reconhece que o aumento das taxas de juro por parte do BCE é uma má notícia para muitas famílias portuguesas. Ainda assim, para Teixeira dos Santos, o preço do dinheiro continua a ser baixo.


Fernando Madrinha - Expresso 3/2/2007: «Todos os anos, por esta altura, muita gente se interroga: que país é este onde a vida é tão dura e deficitária para toda a gente, famílias e empresas, menos para os bancos

«… os lucros [dos bancos] não param de crescer. O Millennium bcp, por exemplo: teve 780 milhões de euros de lucros em 2006 - mais 28% do que no ano anterior; o BPI registou 309 milhões - mais 23%; o Banco Espírito Santo anunciou ganhos de 420 milhões - mais 5o%...»

«Tudo estaria bem se esta chuva de milhões sobre os bancos fosse um sinal de pujança da vida económica do país. Mas sabemos bem que não é. E que esses lucros colossais são, afinal, uma expressão da dependência cada vez maior das famílias e das empresas em relação ao capital financeiro. Daí que, em lugar de aplauso e regozijo geral, o que o seu anúncio provoca é o mal-estar de quem sente que Portugal inteiro trabalha para engordar a banca. Ganha força essa ideia de que os bancos sugam a riqueza do país mais do que a fomentam.»


E os analistas económicos também não conseguem perceber as subidas da taxa de juros:

Domingos Amaral – Diário económico - 2/5/2007: "O Banco Central Europeu continua demasiado paranóico com a inflação, descobriu uma nova fonte de aflição chamada “massa monetária”, que segundo o BCE cresce em demasia, e portanto há que conter essa energia desalmada, e a única forma de o fazer é aumentar as taxas de juro.

Miguel Frasquilho – Jornal de negócios - 2/5/2007: "(...) Assim sendo, por que continua o BCE a sua escalada dos juros? Promover o crescimento económico sem pressões inflacionistas não é positivo?"

"Além disto, nota-se também que, apesar de a massa monetária estar a crescer, actualmente, em redor de 10%, a inflação mantém-se abaixo de 2%... nem com a melhor das boas vontades se consegue encontrar uma relação convincente entre estas duas variáveis."

"Tudo leva a que seja difícil de entender o que move o BCE a continuar a subir os juros, como os mercados antecipam e já atrás referi. Não deverá o BCE deixar de utilizar a massa monetária como principal factor para explicar o comportamento da inflação?"



Em suma:

1 - O Banco Central Europeu (BCE) continua a subir as taxas de juro, aumentando as dívidas das pessoas, das empresas e do Estado, enquanto a inflação vai descendo - o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a inflação vá baixar no próximo ano (2008), sobretudo devido à evolução moderada dos salários e dos custos laborais. A inflação em 2007 já foi mais baixa que em 2006.

2 - O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, diz que a autoridade monetária europeia é independente do poder político: "Não devo comentar da oportunidade dessas decisões", disse. "É de facto um aspecto negativo que está para além do poder de intervenção do Governo". Ainda assim, para Teixeira dos Santos, o preço do dinheiro continua a ser baixo.

3 - Mas afinal, segundo economistas e ex-governadores ouvidos pela agência «Lusa», os ministros das Finanças têm estado em sintonia com o Banco Central Europeu (BCE), apoiando a política de subida de taxas de juro que a instituição tem vindo a aplicar desde 2005.

4 - Os analistas económicos não encontram explicação para as subidas da taxa de juros - «a inflação mantém-se abaixo de 2%».



Comentário:

Não será de perguntar ao ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, porque é que considera que o preço do dinheiro continua baixo? E porque é que o ministro tem estado em sintonia com o Banco Central Europeu (BCE), apoiando a política de subida de taxas de juro? E se diz que a autoridade monetária europeia é independente do poder político, quem é que nomeou a «autoridade monetária»?

E não será de pegar nos colarinhos de Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal e com lugar no Conselho no Banco Central Europeu, e a quem o Estado paga 25 mil euros mensais mais outras mordomias, e dar-lhe uns valentes safanões até ele nos explicar claramente esta criminosa subida das taxas de juro que mais ninguém entende?

E não será de pegar na cabeça de Trichet e bater com ela num poste até o cabrão esclarecer porque razão está a empobrecer pessoas, empresas e Estados e a encher escandalosamente os cofres dos bancos?


O lucro do Millennium BCP atingiu 191 milhões de euros no primeiro trimestre do ano. Os resultados em base recorrente cresceram 16% nos primeiros três meses do ano.

O Banco Espírito Santo divulgou quinta-feira um lucro de 139,8 milhões de euros no primeiro trimestre, mais 33% que no período homólogo...

O BPI obteve um resultado líquido de 96,8 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, um valor que corresponde a uma subida de 30 por cento face a igual período do ano anterior.

O resultado do Banco Bilbao Viscaya y Argentaria (BBVA) subiu para pouco mais de 1,25 mil milhões de euros, mais 23% no resultado líquido no primeiro trimestre de 2007.

O Banco Santander Central Hispano obteve um resultado líquido de 1,8 mil milhões de euros, no primeiro trimestre do ano. Este valor representa mais 21% que no período homólogo...

terça-feira, junho 05, 2007

TV Blogo - André Azevedo Alves, um bloguer apostado num marketing de sucesso. E ainda, a firme recusa dos democratas americanos à política de Bush.

Benvindos à quarta emissão da TV Blogo

Do blogue Insurgente surge-nos André Azevedo Alves com o seu primeiro espaço publicitário, na tentativa respeitável de captar mais leitores e comentaristas para as suas arrazoadas.


Ainda, neste jornal, Jon Stewart, do Daily Show, acusa o Congresso Democrata de estar a fazer tudo para perder a guerra no Iraque. Os democratas exigiram o final das operações até Setembro. Um plano que os republicanos denunciaram como sendo uma admissão de fracasso, ao contrário do plano deles que implica fracasso sem admissão. Mas atente-se nos «cortes financeiros» pedidos pelos «democratas»:

segunda-feira, junho 04, 2007

Piada yankee do ano ou humor negro islâmico?

Diário Digital - 4 de Junho de 2007

Irão: Motivo de Bush para escudo antimísseis é «piada do ano»

O Irão classificou como a «piada do ano» as declarações em que o presidente norte-americano, George W. Bush, manifestava a sua preocupação com a possibilidade de um míssil iraniano atingir a Europa ou um país aliado dos Estados Unidos.

«Esta é a piada do ano», disse o secretário-geral do Conselho Supremo para a Segurança Nacional iraniano, Ali Larijani, sobre as palavras usadas por Bush para justificar a intenção de instalar um escudo antimísseis na Europa de leste.

«Os mísseis iranianos não podem atingir a Europa. Além disso, a Europa é o principal parceiro comercial do Irão. E por que faríamos algo assim?», disse Larijani, que é também o principal negociador iraniano no caso nuclear.

Sexta-feira, em entrevista ao jornal italiano La Stampa, Bush mostrou-se «muito preocupado face à possibilidade de um míssil iraniano ser lançado em direcção à Europa ou qualquer outro país aliado». «Não queremos encontrar-nos face à situação de ser chantageados pelo Irão», afirmou.

«A verdade é que estas declarações são propaganda e têm como objectivo desviar a atenção do mundo dos verdadeiros planos» norte-americanos, acrescentou Larijani.


Comentário:

O tom jocoso das palavras de Larijani, não nos deve induzir em erro. Ao contrário do que afirma o secretário-geral do Conselho Supremo para a Segurança Nacional do Irão, um escudo antimísseis situado na Polónia é fulcral para prevenir um ataque balístico iraniano contra a Islândia: