sábado, dezembro 29, 2007

Dois palhaços da SIC Notícias ridicularizados por um humorista dos Monty Python


A dupla Buxa e Estica, da SIC Notícias (Martim Cabral - Nuno Rogeiro), entrevistou o humorista dos Monty Python, Terry Jones, no programa "Sociedade das Nações".

Martim Cabral e Nuno Rogeiro, os grandes arautos da "Guerra ao Terrorismo" na SIC, trouxeram à baila, evidentemente, a intolerância religiosa islâmica, o Iraque, o 11 de Setembro e o terrorismo em geral.

Terry Jones, de sorriso no lábios, explicou-lhes, candidamente, que a "Guerra ao Terrorismo" constitui um excelente negócio para a indústria do armamento, e que certos governos fazem dela um motivo para criar o caos no Médio Oriente, para que haja um estado permanente de guerra. Contou-lhes, ainda, que Bush é um presidente patético ao serviço das grandes empresas do armamento.

A SIC Notícias passou, prudentemente, esta entrevista às 20:10 (à hora dos telejornais) do dia 28/12/2007, e às 3:30 da madrugada do dia 29/12/2007, porque, como afirma Alcides Vieira, Director de Informação da SIC, este canal o que pretende é que "quando um telespectador olha para a informação da SIC, veja que todos os jornalistas que aparecerem no ecrã estão a falar verdade e não estão ao serviço de um interesse. Porque essa é uma marca da SIC."



Os principais momentos da entrevista a Terry Jones:

Terry Jones: Quando fizemos "A Vida de Brian" lembro-me de ter dito ao resto da equipa: "Sabem que isto pode ser muito perigoso. Podemos ter um fanático religioso a fazer de nós alvos." E eles responderam: "Não há problema." Mesmo nessa altura em 1978, achei que seria uma área potencialmente perigosa de abordar. Mas acho que não hesitava em retratar a vida de Maomé.


Martim Cabral: Acha que alguém o apoiaria? Não acha que existe uma atmosfera internacional em que ninguém considera sequer fazer este tipo de paródia, especialmente se recordarmos os problemas que houve devido aos cartoons de uma revista norueguesa?

Terry Jones: Sim, seria quase impossível obter apoio, mas não pensei em fazer isso. Não vejo o Islão como a grande fonte do Mal, como as pessoas dizem e como Bush quer fazer parecer. Em 1998… Não, em 1990, antes da primeira Guerra do Golfo, li uma revista interna da indústria do armamento, chamada "Weapons Today", que tinha grandes caças na capa. Era uma revista interna da industria do armamento e o editor-chefe escreveu: "Graças a Deus que Saddam existe." O editorial dizia que, com a queda do comunismo, o sector do armamento estava a atravessar uma crise. Não havia encomendas. "Mas agora temos um inimigo ao qual ninguém põe objecções, que é Saddam Hussein." Depois o editorial sugeria: "No futuro, podemos esperar que o Islão substitua o comunismo, porque haverá mais encomendas de armas." E podem apostar que, desde 1990, o sector do armamento tem promovido um conflito entre o Cristianismo e o Islão e é isso que temos visto desde então.


Martim Cabral: Já não é divertido nem legítimo fazer sátiras sobre religião, no ambiente em que vivemos actualmente.

Terry Jones: Concordo, mas não sei se esta situação se deve ao Islão ou à nossa indústria do armamento, que atiça e provoca o Islão.


Rogeiro: É curioso porque Chesterton, que era católico, comentou: "A superioridade de uma religião reflecte-se no facto de podermos satirizar com ela." Se pudermos gozar com ela, então, é uma religião superior.

Terry Jones: É um bom argumento para o Catolicismo.


Rogeiro: O que o irrita mais na conjuntura mundial actual? Sei que a questão do Iraque é algo que lhe custa a digerir.

Terry Jones: Sim, acho que o Iraque é o verdadeiro… Antes de invadirem o Iraque… A reacção ao 11 de Setembro foi completamente estúpida.


Rogeiro: O que significou, para si, o 11 de Setembro?

Terry Jones: Para mim, o 11 de Setembro resumiu-se a umas quantas pessoas que desviaram uns aviões para... Acho que o 11 de Setembro teve origem devido à situação no Médio Oriente com a Palestina, aquilo que os israelitas estão a fazer à Palestina, com a protecção e o aval dos Estados Unidos. O 11 de Setembro resumiu-se a isso. Claro que foi uma oportunidade imperdível para que os neo-conservadores norte-americanos transformassem isso numa cruzada contra o Islão.


Martim Cabral: Se fosse presidente dos Estados Unidos, como reagiria a um ataque como o das Torres Gémeas? O que faria? Como reagiria?

Terry Jones: Quando se é um presidente patético ao serviço das grandes empresas e do sector do armamento transformamos isso em algo politicamente vantajoso e fazemos disso um motivo para criar o caos no Médio Oriente, para que haja um estado permanente de guerra. Cria-se um estado permanente de guerra contra o "terror". É uma guerra que nunca pode ser vencida.


Martim Cabral: Mas o que faria? Imagine que está na Casa Branca.

Terry Jones: Foi um acto criminoso. Não podíamos apanhar os culpados porque estavam mortos. Tinha de haver operações secretas para descobrir os mentores. Não se fazem anúncios públicos, do género: "Achamos que estão escondidos no Afeganistão. Vamos bombardear-vos daqui a três semanas, está bem?" Isso dá à Al-Qaeda tempo suficiente para sair do Afeganistão e ir para outro local. Só então é que se bombardeia o Afeganistão.


Rogeiro: Escreveu no "The Guardian" que a gramática é vítima da guerra, penso eu, e defende que é impossível combater algo abstracto.

Terry Jones: Sim, na guerra contra o terror, estamos a enfrentar um substantivo abstracto.


Rogeiro: O terrorismo, além de ser abstracto, é algo muito concreto que mutila pessoas, que destrói vidas e cidades.

Terry Jones: Mas precisamos de um inimigo. Não podemos combater um conceito abstracto. É impossível combater o terrorismo. É como a luta contra a droga. É um conceito abstracto. Temos de saber quem vamos enfrentar. Temos de descobrir quem está por detrás disso para depois os capturar. Não se anuncia ao mundo onde estão os suspeitos para depois bombardear esses locais e criar ainda mais animosidade contra nós. É essa a intenção. A ideia não é salvar o Iraque, mas sim criar animosidade contra o Ocidente, para que haja um estado permanente de guerra.


Rogeiro: Porque acha que os britânicos reelegeram Tony Blair, depois de ele se ter envolvido na questão do Iraque?

Terry Jones: Porque reelegeram Tony Blair? Não faço ideia. Há muita… Até sei, mas não devia dizer isto. Acho que muita gente rema conforme a maré. Não sei.


Martim Cabral: Correndo o risco de sermos os três alvos de uma fatwa, não acha que Osama bin Laden seria uma personagem ideal para os Monty Pyton? Seria impossível inventar uma personagem como ele.


Terry Jones: Acho que ele (Osama bin Laden) deve ter sido influenciado pelos Monty Python.



A entrevista completa a Terry Jones, aqui:

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Recurso ao crédito violento dispara em Portugal



Comentário:

A serem colocadas em prática as propostas de Luís Filipe Menezes, que Sócrates está longe de desdenhar, de "em meia dúzia de meses, liberalizar a legislação laboral e desmantelar de vez o enorme peso que o Estado tem e que oprime as pessoas", este tipo de crédito poderá, a médio prazo, vir a tornar-se o mais popular entre a classe média portuguesa.
.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Madeleine Albright - uma grande estadista ou uma assassina?


WASHINGTON (CNN) 13/11/2007 – A ex-Secretária de Estado Madeleine Albright a o ex-Secretário da Defesa William Cohen anunciaram na Terça-Feira que iriam co-liderar uma task force para desenvolver linhas de orientação para ajudar os governos futuros dos Estados Unidos a lidarem com genocídios.

"O que sabemos é que o mundo já há muito tempo que afirma que o genocídio é inaceitável,” afirmou Madeleine Albright numa conferência de imprensa. “E, no entanto, os genocídios e os assassínios em massa continuam, e o nosso desafio é basicamente fazer corresponder as palavras aos actos de forma a acabar com este tipo de actos inaceitáveis."

(…) Albright disse que a ideia da task force veio da infeliz história de fracasso em prevenir genocídios à volta do mundo.

"Eu diria francamente que isto é o resultado de frustração", disse ela. "Não interessa o que digamos, existem mortes em massa e genocídios. E queremos ver o que é que podemos fazer para tornar as palavras 'nunca mais' em realidade."


Comentário:

'Nunca mais' – diz Madeleine Albright. A madama, agora tão preocupada com os genocídios nos países com subsolo rico em petróleo, já tinha revelado idêntica preocupação em relação às crianças iraquianas.

Leslie Stahl no programa da CBS – 60 Minutos em 5/12/1996, a entrevistar a Secretária de Estado Medeleine Albright sobre as sanções impostas pelos Estado Unidos ao Iraque:

Leslie Stahl: "Soubemos que meio milhão de crianças morreram, quero dizer, são mais crianças do que as que morreram em Hiroxima. E, bom, acha que este preço valeu a pena?"

Madeleine Albright: "Penso que é uma escolha difícil de fazer, mas o preço – achamos que o preço valeu a pena."


Vídeo (22 segundos):



Para Madeleine Albright o preço de meio milhão de crianças mortas valeu a pena. Qual teria sido o destino desta doce mulher, se acaso usasse uma suástica no braço e tivesse sido julgada pelo Tribunal Militar Internacional em Nuremberga, nos idos de Novembro de 1945?


Wikipedia - Madeleine Albright

She was also criticized for defending the sanctions of Iraq under Saddam Hussein, which led to hundreds of thousands of civilian deaths. In 1996, she made highly controversial remarks in an interview with Lesley Stahl on CBS's 60 Minutes. When asked by Stahl with regards to effect of sanctions against Iraq: "We have heard that half a million children have died. I mean, that's more children than died in Hiroshima. And, you know, is the price worth it?". Albright replied: "I think this is a very hard choice, but the price — we think the price is worth it."


During her tenure at the UN, she had a rocky relationship with the United Nations Secretary-General, Boutros Boutros-Ghali. She did not take action against the genocide in Rwanda. Albright later remarked in PBS documentary Ghosts of Rwanda that "it was a very, very difficult time, and the situation was unclear. You know, in retrospect, it all looks very clear. But when you were [there] at the time, it was unclear about what was happening in Rwanda."


According to Colin Powell's memoirs, Albright once argued for the use of military force by asking, "What’s the point of having this superb military you’re always talking about, if we can’t use it?"


In September 2006 she received the MiE Award, with Václav Havel, for furthering the cause of international understanding.
.

sábado, dezembro 22, 2007

As fracturas dialécticas de Menezes

Expresso - 22/12/2007

Luís Filipe Menezes tem em Nicolas Sarkozy um modelo inspirador e propõe-se, como ele, avançar propostas fracturantes que não deixem ninguém indiferente. "Faço a aposta radical de, em meia dúzia de meses, liberalizar a legislação laboral (...) e desmantelar de vez o enorme peso que o Estado tem e que oprime as pessoas", afirma o líder do PSD em entrevista ao Expresso, onde esclarece que continua defensor do Estado Social, mas na versão "Estado possível".

Consigo, as funções do Estado seriam encurtadas. "O Estado deve sair do ambiente, das comunicações, dos transportes, dos portos e, na prestação do Estado Social, deve contratualizar com os privados e acabar com o monopólio na saúde, educação e segurança social", afirma o líder social-democrata. Acusando o PSD de andar, há 12 anos, sem conseguir demarcar-se verdadeiramente do PS nestes sectores, Menezes propõe-se fazer rupturas...

(...) Luís Filipe Menezes não esconde que gerir a imagem com profissionalismo é uma prioridade. Esta semana fechou com a agência de comunicação de António Cunha Vaz um acordo que custará ao partido "25 a 30 mil euros por mês".


Jornal Sol - 23/11/2007:

«As dívidas são legais» , afirmou o líder social-democrata e presidente da Câmara Municipal de Gaia, Luís Filipe Menezes, numa reacção aos dados do Tribunal de Contas revelados quinta-feira que apontam a sua autarquia como aquela que mais se endividou na banca ao longo dos últimos dois anos.

O município liderado por Luís Filipe Menezes (PSD) contraiu 18 empréstimos no período em análise, no valor global de 74,5 milhões de euros.

(...) Luís Filipe Menezes disse, contudo, compreender que o queiram «atacar» e que alguns «agentes políticos» tentem «exacerbar» os números apurados pelo Tribunal de Contas.

«É a dialéctica normal do confronto político» , sustentou.


Miguel Sousa Tavares (Expresso 11/11/2007) - «... o pacto de dez anos proposto por Luís Filipe Menezes a José Sócrates, quanto às grandes obras públicas, é uma proposta indecorosa. Traduzida por miúdos, quer dizer o seguinte: "Independentemente de saber quem vai ganhar as eleições nos próximos dez anos, vamos pôr-nos de acordo em satisfazer os nossos comuns clientes e financiadores, para que eles tenham a segurança de saber que, seja quem for, os seus negócios estão seguros com qualquer um de nós"


Comentário:

Tal como Menezes se inspira em Sarkozy, também os portugueses, para lidar com os políticos honestos cá do burgo, deviam igualmente inspirar-se na França, em termos de propostas fracturantes:

From Wikipedia, the free encyclopedia: A fracture is the separation of a body into two, or more, pieces under the action...

quinta-feira, dezembro 20, 2007

John Kenneth Galbraith: «O processo pelo qual os bancos criam dinheiro é tão simples que a mente rejeita-o»

John Kenneth Galbraith: «The process by which banks create money is so simple that the mind is repelled»

MONEY & BANKS - Posted By Striderus

Eis como a coisa se processa:

Consideremos um banco hipotético. Este banco tem dez depositantes que acabaram de depositar £500 cada um.

O banco deve-lhes £5,000 e tem £5,000 para liquidar o que deve (o banco guarda as £5,000 numa conta no Banco de Inglaterra – o que está na conta chama-se activos disponíveis).

John, um empresário, vem ao banco pedir um empréstimo de £5,000 para montar a sua empresa.

O empréstimo é concedido com base no reembolso em doze prestações mensais mais 10% de juro.

Uma conta nova no banco é aberta em nome de John. Está vazia, mas o banco permite a John levantar e gastar £5,000.

Os depositantes não são consultados acerca do empréstimo. Não lhes é dito que o dinheiro que eles depositaram já não está disponível – os montantes das suas contas não são reduzidas e transferidos para a conta de John.

Ao conceder este empréstimo, o banco aumentou as suas obrigações para £10,000. John tem direito a £5,000 e os depositantes ainda podem exigir os seus £5,000.

Se o banco tem agora obrigações no valor de £10,000, então como tem apenas £5,000 dos depósitos não está insolvente? De forma nenhuma:

O banco trata o empréstimo ao John como um activo, não como um passivo, no pressuposto de que John agora deve £5,000 ao banco.

A folha de balanço do banco mostra agora que o banco deve £5,000 aos seus depositantes, e que é credor de £5,000 de John. O banco criou para si próprio um novo activo de £5,000 sob a forma de uma dívida de John onde antes não existia nada. O banco está ainda solvente pelo menos em termos contabilísticos.

Nesta fase o banco está a apostar na hipótese de que à medida que John for gastando o dinheiro do seu empréstimo, os depositantes não vão levantar o dinheiro dos seus depósitos.

O banco teve as mãos completamente livres na criação deste empréstimo de £5,000 que, como veremos, representa «dinheiro» novo, onde nada existia antes. Foi feito com um golpe de caneta ou de umas teclas de computador.

A ideia de que os bancos criam dinheiro do nada e cobram juros para lucros privados pode parecer bastante repelente. Quem quer que fizesse isso seria acusado de fraude ou de falsificação.


Dinheiro novo na economia:

O empréstimo de John torna-se efectivamente «dinheiro» novo à medida que ele o vai gastando na sua empresa a pagar equipamentos, renda, salários, etc.

Este «dinheiro» novo é desta forma distribuído por outras pessoas, que o vão usar para pagar bens e serviços – e em breve estará a circular em toda a economia.

À medida que este dinheiro novo circula, irá parar inevitavelmente nas contas bancárias de outras pessoas.

Quando é depositado na conta de outra pessoa, constitui mais um depósito – John paga à sua secretária £100 e ela abre uma conta no nosso banco hipotético – o banco fica agora com £5,100 em depósitos.

Se considerássemos que os restantes £4,900 iriam ser depositados em contas do nosso banco hipotético, este ficaria então com £10,000 em depósitos sem ter tocado nos seus depósitos originais (£5,000). Na prática, muito desse novo dinheiro irá ser depositado em contas noutros bancos, mas de qualquer forma existem agora £5,000 de dinheiro novo em circulação.

Desta forma, todos os depósitos nos bancos são feitos a partir de dinheiro criado por empréstimos (excepto quando os depósitos são feitos em dinheiro-notas-moedas - cash)

Se você tiver £500 na sua conta no banco, o que acontece é que alguém como o John está em débito.

A chave para tudo isto é o facto de:

1 – Levantamentos em dinheiro constituem apenas uma minúscula percentagem do negócio bancário.

2 – Hoje em dia, os clientes dos bancos fazem quase todos os seus pagamentos entre si por cheque, débito directo ou transferência electrónica. As contas bancárias individuais são ajustadas alterando apenas alguns números em bases de dados em computadores – tal como as entradas contabilísticas. Nenhum dinheiro (notas-moedas – cash) muda de mãos. É tudo basicamente um processo contabilístico que acontece dentro do sistema bancário.


A função do dinheiro-notas-moedas – cash

O Estado é responsável pela produção de dinheiro sob a forma de notas e moedas.

Estas são então emitidas pelo Banco de Inglaterra para os principais bancos comerciais – os bancos compram-nas pelo seu valor nominal ao Governo para fazer face às necessidades dos seus clientes por dinheiro-notas-moedas – cash.

Os bancos têm de pagar por este dinheiro-cash e fazem-no com aquilo que têm nas suas contas no Banco de Inglaterra – os seus activos líquidos. As suas contas são consequentemente debitadas.

O Estado (através das Finanças) também mantém uma conta no Banco de Inglaterra que é creditada pelo valor nominal das notas e moedas à medida que estas são pagas aos bancos. (É agora dinheiro no fundo público disponível para gastar em serviços públicos etc.)

É desta forma que todos os bancos adquirem os seus stocks de notas e moedas, mas o dinheiro-cash que um banco pode comprar está limitado pela quantia que esse banco dispõe na sua conta no Banco de Inglaterra – os seus activos líquidos.

À medida que este dinheiro-cash é levantado pelos clientes do banco, esse dinheiro entra em circulação na economia.

Ao contrário dos empréstimos criados pelos bancos, o dinheiro-cash não tem juros e circula indefinidamente.


Pagamentos não feitos em cash – entradas contabilísticas

Com tão pouco cash sendo levantado, e sabendo por experiência que grandes quantias em depósitos permanecem intocadas pelos seus depositantes por grandes períodos de tempo, os bancos esperam que os seus activos líquidos sejam suficientes para lhes permitir comprar o cash necessário para fazer face aos relativamente pequenas quantias em cash que são normalmente levantadas.

Um banco tem sérios problemas se aumentarem os levantamentos em cash pelos depositantes, e se alguns dos que pediram um empréstimo quiserem levantar parte desse dinheiro em cash, excederem o que os banco tem na sua conta no Banco de Inglaterra.

Na prática o banco tentaria provavelmente pedir um empréstimo ao Banco de Inglaterra ou a outro banco para satisfazer os seus pedidos. Se isso falhar terá de cancelar alguns dos empréstimos e ficar com os bens daqueles que pediram emprestado e não podem pagar.


Exigências dos depositantes aos bancos

Assim que uma pessoa tenha feito um depósito num banco (em cash ou por cheque), essa pessoa pode exigir ao banco o valor que tem na sua conta. É um credor não-garantido. O seu extracto bancário é um registo de quanto é que o seu banco lhe deve. O banco pagar-lhe-á o que lhe deve e permite-lhe receber em cash, desde que tenha cash suficiente para isso.

Se os clientes do banco tentarem levantar demasiado cash, será uma corrida ao banco, o qual em breve recusará mais levantamentos. Só será servido quem chegar primeiro.

Se quiser fazer um pagamento por cheque, isto representa um problema muito menor – está apenas a transferir parte da sua exigência ao banco para outra pessoa – a pessoa a quem o cheque é pagável – apenas uma entrada contabilística.

Se a pessoa a quem passou o cheque tem uma conta no seu banco, o depósito permanece no banco – no fim o banco está exactamente na mesma posição em que estava antes.

Eu passo-lhe um cheque de £50 – temos ambos contas no Barclays – o que o Barclays me deve é reduzido em £50, o que o Barclays lhe deve é aumentado em £50 – ou seja, o total de depósitos permanece o mesmo.


Exigências de um banco a outro banco

Mas se você tiver uma conta no Lloyds, os depósitos no Barclays reduzem-se em £50, enquanto os depósitos no Lloyds aumentam £50.

Milhões de transacções deste tipo têm lugar todos os dias entre clientes dos vários bancos, usando cartões, débitos directos, transferências electrónicas ou cheques – os depósitos estão constantemente a mudar entre bancos.

Todos este cheques e transferências electrónicas passam por uma câmara de compensação.

Donde, um banco tem exigências de duas fontes (que ele acerta com os seus activos líquidos) – os seus clientes que querem cash e os outros bancos quando há uma dívida na câmara de compensação para liquidar.

Tirando o caso em que todos os bancos teriam de fazer face a grandes pedidos de cash ao mesmo tempo, o sistema bancário está seguro. Um banco só estará vulnerável se um grande número de depositantes por alguma razão levantar os seus depósitos em cash ou transferir os seus depósitos para outros bancos.

Vemos agora como hoje todo o sistema bancário é basicamente um exercício contabilístico onde milhões de exigências passam entre os bancos, os que pedem emprestado e os depositantes todos os dias com uma minúscula fracção de cash a mudar de mãos – suportada por reservas mínimas de activos líquidos.

O sistema é conhecido por Reservas Bancárias Fraccionárias (Fractional Reserve Banking - reservas mínimas ou obrigatórias) e os bancos são algumas vezes precisamente referidos como comerciantes de dívidas.

As contas do Barclays de 1999 ilustram esta situação bastante bem – fez empréstimos no valor de £217 biliões e possuía £191 biliões dos seus depositantes – suportados por apenas £2,2 biliões em activos líquidos.

O nível de empréstimos de um banco é orientado pela quantidade de cash que possui ou que pode comprar – os seus activos líquidos – mais do que a quantidade dos depósitos dos seus clientes.

Mas, se um banco puder atrair os depósitos de clientes de outros bancos, vai acrescentar aos seus activos líquidos, porque então o saldo da câmara de compensação com os outros bancos será a seu favor – logo, existe uma concorrência tremenda entre os bancos para atrair depósitos.


Juros… Grandes lucros para o banco:

Voltemos ao Sr. John – ele tem de pagar ao banco 10% de juro pelo empréstimo de £500. O pagamento destes juros é dinheiro que vem para o banco, são lucros e são depositados na conta do banco no Banco de Inglaterra – activos líquidos adicionais para o banco.

O banco tem agora mais £500 para fazer face aos levantamentos dos seus clientes. Se John pagar também o empréstimo original, o banco terá um acréscimo de £5.500.

O nosso banco criou para si, a partir do nada, um activo de £5,000 na forma de um empréstimo ao Sr. John. Este já não deve nada, mas ao pagar o empréstimo com juros, John transformou uma mera dívida em £5,500 em activos líquidos para o banco – um lucro limpo para o banco e a base a partir da qual mais empréstimos podem ser feitos.

Os Bancos hoje arriscam fazer empréstimos 100 vezes maiores do que os seus activos líquidos, como mostra a contabilidade do Banco Barkley.

Portanto, o nosso Banco fará em breve muito mais empréstimos. Dessa forma, os depósitos aumentam e portanto aumentam também os pagamentos dos juros e os lucros.

Com mais empréstimos e mais depósitos, haverá mais levantamentos de cash – mas o aumento dos lucros (fruto dos juros) significa que o banco pode comprar mais cash. (Foi assim que a soma de cash em circulação subiu até atingir £25 biliões em 1997.)

É um mito pensar que quando se pede emprestado dinheiro a um banco, se está a pedir emprestado dinheiro que outras pessoas depositaram – não está – está-se a pedir emprestado o dinheiro do banco que é criado nesse momento e tornado disponível sob a forma de um empréstimo.


Mais dívida para todos nós:

Os pagamentos dos juros efectuados pelo Sr. John bem como os pagamentos das prestações do empréstimo ao banco significam que este «dinheiro» já não está na economia.

Mais dinheiro tem de ser emprestado para manter a economia a funcionar. Se as pessoas não pedirem empréstimos ou os bancos não emprestarem, haverá falta de dinheiro em circulação, que resultará numa redução nas compras e nas vendas – recessão, queda geral de preços ou colapso total dependendo de quanto rigorosa for a escassez de dinheiro.

O aumento dos empréstimos bancários ao longo dos anos é uma prova adicional de que os bancos criam «dinheiro» a partir do nada - £1,2 biliões em 1948, £14 biliões em 1963 e £680 biliões em 1997.

A quantidade, hoje, de notas e moedas tendo em conta a inflação, tem um poder de compra comparável à quantidade que existia em 1948 (£1,1 biliões) mas desde então, houve um aumento dez vezes maior em dinheiro criado pelo crédito bancário.

Isto permitiu à economia expandir-se enormemente, e em consequência, o nível de vida das pessoas aumentou substancialmente… mas isto foi feito com dinheiro emprestado. O que é crédito para o banco é débito para todos nós.

Os bancos estão a ter uma parte cada vez maior nas nossas terras, casas e outros bens através do endividamento dos indivíduos, industrias, agricultura, serviços e governo – até ao ponto em que a Grã Bretanha e o mundo são efectivamente propriedade deles.


"Se quiserem ser escravos dos bancos e pagarem o custo da vossa escravidão, então deixem os bancos criar dinheiro..." - Josiah Stamp, Governador do Banco de Inglaterra – 1920.

("If you want to be the slaves of banks and pay the cost of your own slavery, then let the banks create money…" )

terça-feira, dezembro 18, 2007

André Rogerie - um corrupio entre campos de extermínio nazis e blocos hospitalares em Auschwitz

André Rogerie, tinha 21 anos quando foi preso pela Gestapo a 3 de Julho de 1943, quando tentava juntar-se às tropas francesas no Norte de África. Passou pelos campos de Buchenwald, Dora, Maïdanek, Auschwitz, Gross-Rosen, Nordhausen e Harzungen.

Em 1945, escreveu uma obra intitulada "Vivre c’est Vaincre" [Viver é Vencer]. Este livro foi escrito após o regresso da sua deportação, porque desde 1943, André estava animado pela convicção de que era necessário fazer saber ao mundo o que ele lá viveu e o que ele lá viu.

No prefácio da reedição do seu livro, em 1988, escreveu: "Tendo assistido pessoalmente ao que se chama hoje «Holocausto», creio ser o meu dever, como testemunha ocular, de imprimir novamente este documento histórico para que aqueles que procuram a verdade sobre este período encontrem um testemunho autêntico". Contra os negacionistas, André Rogerie traz-nos o testemunho de um deportado que viu o genocídio dos Judeus.

Tendo subido ao posto de General, André Rogerie recebeu em 1994 o prémio "Mémoire de la Shoah" [Memória do Holocausto Judeu] da Fundação Bushmann. A 16 de Janeiro de 2005, no Hôtel de Ville em Paris, por ocasião da comemoração da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, André foi, a par com a senhora Simone Veil, um de dois sobreviventes dos campos a testemunhar.

André Rogerie foi deportado para Dora, adoeceu, foi considerado inapto para o trabalho e, depois de algumas peripécias, chega a Auschwitz-Birkenau em Abril de 1944, nessa altura ele não pesa mais de quarenta quilos.

«Os prisioneiros com fatos às riscas estão lá para nos receber. É um comando especial. Em geral são muito simpáticos e ajudam-nos a descer, e depois a subir para os camiões. Estamos muito cansados, chegamos extenuados e a ajuda que nos deram não foi inútil» (pág. 63).

André Rogerie depois de passar pela desinfecção vai para um bloco de quarentena. Ao fim de cinco semanas, pesa 43 kg. Ao ver o seu estado de magreza, o médico envia-o para o campo-hospital (pág. 69): «fomos colocados num bloco muito simpático. O chão está coberto com um pavimento, há janelas, as camas estão espaçadas umas das outras, os cobertores são bons. A sopa é abundante e pela primeira vez desde há uns tempos eu comia o suficiente» (pág. 69).

Ao verificar-se que tinha sarna, foi enviado para o bloco 15, «reservado às doenças de pele» (pág. 70). «Todos os dias, o suplemento de sopa é distribuído àqueles que estão mais magros […] vou portanto para a fila (sempre em camisa) para o meu suplemento». «Em poucos dias, voltei a ter cinquenta quilos. Graças às pomadas do doutor Landemann, a minha pele está completamente sarada» (pág. 71).

No dia em que devia finalmente sair do hospital para trabalhar, André Rogerie ficou com febre: «Os médicos auscultaram-me uns após outros e desconfiaram que eu tinha malária. O doutor Herz recolheu uma gota do meu sangue para que fosse estudada no microscópio […] o laboratório respondeu na manhã seguinte a dizer que a malária não foi detectada. Eu tenho o sangue muito puro […]. Continuo portanto a viver no bloco 15 com a minha pequena febre semanal […]. Pouco a pouco, graças aos bons cuidados de Piccos, a agulha da balança sobe e em Julho eu já peso 56 quilos» (pág. 72).

«Eis que, ainda por cima, eu contraio uma doença do couro cabeludo que é tratada por depilação. É necessário rapar todo o cabelo, pêlo a pêlo. Para isso, sou levado para o campo das mulheres para ir ao aparelho de raios X, porque não falta nada em Birkenau».

Pouco depois, André Rogerie seria inscrito num comando de trabalho.


Comentário:

Poucos deportados terão tido tanta sorte como o prisioneiro André Rogerie. Não só passou incólume por sete campos de extermínio - Buchenwald, Dora, Maïdanek, Auschwitz, Gross-Rosen, Nordhausen e Harzungen, como, dentro do campo de extermínio de Auschwitz, correu quase todos os blocos hospitalares do campo:

André Rogerie depois de passar pela desinfecção foi para um bloco de quarentena. Cinco semanas depois o médico envia-o para o campo-hospital. Ao verificar-se que tinha sarna, foi enviado para o bloco 15, reservado às doenças de pele. Ao contrair uma doença no couro cabeludo tem de ir ao aparelho de raios X que fica situado no campo das mulheres.

Em face da existência de tantos blocos hospitalares no campo de extermínio de Auschwitz, é difícil discordar de André Rogerie: «não falta nada em Auschwitz-Birkenau».
.

domingo, dezembro 16, 2007

Viva Sócrates, viva a presidência portuguesa, viva a frontalidade do Expresso

Henrique Monteiro - Expresso 16/12/2007

O orgulho de Portugal

«Nesta, que foi a última presidência portuguesa da União Europeia (...) simbolicamente, Portugal voltava aos destinos que dele fizeram uma nação decisiva há 500 anos

«Contra todas as expectativas, não só a presidência portuguesa se saiu bem de todas as iniciativas, como conseguiu surpreender pelo rigor com que as organizou.»

«Como muitos afirmam, é cedo para avaliar o real impacto destas iniciativas. Porém, à presidência exigia-se que congregasse esforços, quebrasse o gelo ou articulasse vontades. E nesse aspecto, José Sócrates, Luís Amado e todos os que colaboraram para o sucesso da presidência (sem esquecer Durão Barroso) merecem o nosso reconhecimento

«O Expresso, com a mesma frontalidade com que os critica, manifesta-lhes o orgulho que sentiu no papel de Portugal na Europa e no mundo nestes últimos seis meses.»


Miguel Sousa Tavares (no mesmo jornal):

«Vivemos dias de verdadeiro circo político. Eu sei que esta é a época dos circos descerem à cidade, mas ao menos que tragam leões e trapezistas, elefantes e malabaristas, e não este estendal de vazio e demagogia que por aí tem andado à solta entre os nossos queridos dirigentes europeus.»

«José Sócrates tem vivido noutro planeta - lá onde ele é um grande estadista e onde, de braço dado com Durão Barroso, representou uma Europa onde já ninguém se revê, o lugar do menor denominador comum da política. No fim-de-semana passado tivemos a Cimeira UE-África e a pomposa ‘Declaração de Lisboa’ - coisa ‘histórica’ para Sócrates, que se vê a fazer História a cada passo, e na realidade uma Magna Carta de inutilidades e hipocrisias


Comentário:

Qual destas duas frontalidades, a de Henrique Monteiro ou a de Sousa Tavares, já que opostas, apresentará um coeficiente menor de enviesamento?

sábado, dezembro 15, 2007

O Blogue-Chat


O Blogue-Chat consiste num Site na Internet onde são colocados assuntos, mais ou menos elaborados, sob a forma de Posts, e numa Caixa de Comentários onde as pessoas, em tom ameno, imergem em diálogos que primam pela simplicidade e nada têm a ver com o assunto do Post.

Um excelente exemplo do tipo Blogue-Chat é o Site do Pedro Arroja, que dá pelo nome de Portugal Contemporâneo, e que no dia 14 de Dezembro de 2007 apresentava o seguinte artigo:


14 Dezembro 2007

leitura recomendada

Joaquim Sá Couto, O Sonho Americano e o Pesadelo Europeu, Porto: Vida Económica, 2003 (Prefácio meu).

Ler Mais...

Publicada por Pedro Arroja em 20:07 Comments (59) Trackback Hiperligações para esta mensagem



De seguida, uma sequência de 12 comentários ao referido Post (tirados da respectiva caixa de comentários), que espelham o nível de aprofundamento a que o assunto foi sujeito:

___________________________________

Isto está um verdadeiro chat! Disto, só mesmo no PC (marketing).

rui a. 12.15.07 - 12:30 am #
___________________________________

Já me cai muito melhor.

rui a. 12.15.07 - 12:29 am #
___________________________________

No meu caso, Rui, é a FDC.

Lololinhazinha 12.15.07 - 12:29 am #
___________________________________

Eu a falar na FDL e você obcecado com mulheres.

rui a. 12.15.07 - 12:28 am #
___________________________________

Afinal de contas, as meninas de hoje, em comparação com as mulheres de ontem, são muito voláteis, não é?

P. Arroja

Anonymous 12.15.07 - 12:27 am #
___________________________________

Ó Pedro, vamos fazer uns postezinhos sobre a FDL? Acho que estão a pedi-las.

rui a. 12.15.07 - 12:27 am #
___________________________________

Tenha juízo, Pedro!

Lololinhazinha 12.15.07 - 12:26 am #
___________________________________

E a reconhecerem que têm muito a aprender com a zazie, a quem ainda hão-de chamar mamã. Tudo neste blogue.

P. Arroja

Anonymous 12.15.07 - 12:26 am #
___________________________________

Ainda hei-de vê-las a prestar homenagem ao Euroliberal. E neste blogue.

P. Arroja


Anonymous 12.15.07 - 12:25 am #
___________________________________

Que elas haviam de cair na rede, eu nunca tive dúvidas. A prazo, as mulheres querem a companhia de homens a sério. Eu considero um triunfo a lololinhazinha e a tina terem finalmente assumido a sua condição de comentadoras neste blogue. Sinal de decadência para outros blogues...

P. Arroja


Anonymous 12.15.07 - 12:21 am #
___________________________________

«as mulheres são responsáveis pelo fundamentalismo religioso.» Ó Lóló, olhe que por algumas que conheço, ia a Fátima a pé.

rui a. 12.15.07 - 12:20 am #
___________________________________

235 comentários? Só você!

rui a. 12.15.07 - 12:19 am #



Comentário:

E o prémio para o melhor comentário vai para o próprio autor do post, Pedro Arroja, com o seguinte aforismo:

«Que elas haviam de cair na rede, eu nunca tive dúvidas. A prazo, as mulheres querem a companhia de homens a sério. Eu considero um triunfo a lololinhazinha e a tina terem finalmente assumido a sua condição de comentadoras neste blogue. Sinal de decadência para outros blogues...»

quinta-feira, dezembro 13, 2007

O Fim do Emprego


O Fim do Emprego - Célia Berleze, Gisabele Parize

Texto em português do Brasil:

É preocupante pensar no futuro em relação ao emprego pois, a sociedade está caminhando para um declínio dos empregos. Esta nova fase é resultado do surgimento de novas tecnologias, como o processamento de dados, a robótica, as telecomunicações e as demais tecnologias que aos poucos vão repondo máquinas nas actividades anteriormente efectuadas por seres humanos. De facto, o que vemos hoje é a automatização de escritórios, comércio e indústria a níveis nunca antes observados. Computadores fazem o trabalho de dezenas de seres humanos; robôs, de milhares e a custos infinitamente inferiores, sem férias, dores de cabeça, TPM ou benefícios.

Uma previsão é que os trabalhos perdidos pelo ser humano para as máquinas nunca mais serão feitos por homens. Jeremy Rifkin , autor do livro “O Fim do Emprego”, desmistifica no seu livro todos os paradigmas promovidos pelos interesses de empresários, que garantem que a automatização de seus empreendimentos, apenas irá estimular o crescimento económico.

O autor afirma que a automatização proveniente de máquinas e computadores oferece um ganho em produtividade e uma redução de custos, que a princípio dá a falsa visão de que mais pessoas poderão entrar no mercado de consumo e adquirir bens. O mesmo produto que era inatingível para alguns consumidores, décadas atrás, está hoje em dia nas prateleiras a preços muito acessíveis. Mas a questão é que as pessoas estarão sendo desempregadas.

A teoria - automatização gera maior produção, o que gera a produtividade, que gera preços baixos, os quais aumentam a procura, aumentando por sua vez a produção que aumenta o nível dos empregos - é rejeitada por Rifkin, já que a cadeia é correcta a não ser na sua conclusão: a produção, hoje, não aumenta o nível dos empregos, mas sim traz mais automatização reduzindo o trabalho dos seres humanos.

Cada nova inovação traz um aumento de produtividade. Cada inovação, no entanto, tem colocado à margem do trabalho milhares de operários cujas funções eram redundantes com o que a nova tecnologia trouxe.

No passado, afirma Rifkin, estas "vítimas" do desemprego causado por novas tecnologias eram absorvidas por outros sectores do ciclo laboral. Desempregados da indústria de alta tecnologia iam para a indústria de baixa, os de baixa para os serviços, os de serviços para a construção, os de construção para a agricultura e assim sucessivamente. Hoje em dia, com tecnologias de ponta até na agricultura, como ceifeiras-debulhadoras automáticas, milhares de trabalhadores estão sendo substituídos por máquinas que fazem o mesmo trabalho a um custo inferior e em turnos ininterruptos.

Uma realidade, no entanto, está prevista por Rifkin: por mais que o nível de empregos decline, nem todos estarão desempregados na nova sociedade baseada na informação. Para ele, um pequeno número de trabalhadores no sector da informação e do conhecimento irá prosperar, já que o seu "know-how" será cada vez mais necessário em criação, desenvolvimento e manutenção dos equipamentos necessários à automação. Os profissionais da tecnologia se constituirão em uma nova elite da sociedade. Outro segmento que irá sobreviver na nova economia global será o da alta administração. Rifkin oferece-nos dados e afirma que os altos executivos actuais são o segmento que mais tiveram os seus rendimentos aumentados nos últimos 50 anos.

As vagas que estão desaparecendo, principalmente nos níveis mais baixos da produção, poderão afectar as taxas de criminalidade nos países mais desenvolvidos, já que o desempregado sem esperança afluirá às ruas em atitudes de descontentamento e violência.

O resultado da introdução da tecnologia tem possibilitado às empresas demitir trabalhadores criando um verdadeiro exército de desempregados. Os que permanecem nos empregos, no entanto, sentem-se obrigados a trabalhar cada vez mais, por salários cada vez menores. As empresas que se auto denominam "competitivas" têm optado por trabalhar com uma folha de pagamento cada vez menor, obrigando os trabalhadores a produzir mais.

Uma solução para contra atacar os impactos criados pela tecnologia cabe aos governos. Consiste em que eles criem um maior apoio para o que Rifkin chama de "Terceiro Sector" ou sector social, onde, diferentemente dos sectores comerciais, as mudanças de ganhos e perdas são menos importantes, e o que importa no fim é o aspecto social.




Comentários de Viviane Forrester:

«Dizem sempre que temos de nos adaptar. Digo que não há razão para se adaptar ao insuportável. Falam do desemprego como se fosse algo natural e inevitável. Na verdade, se se escutar boa parte dos discursos sobre a situação mundial tem-se a impressão de que estamos a sair de uma catástrofe mundial, de que estamos numa situação trágica à qual temos de nos adaptar. Mas onde está a catástrofe? Por que é que na França, que é a quarta economia do mundo, é natural que existam 2 milhões de desempregados e 1,3 de trabalhadores pobres? A estas questões a política ultraliberal não tem resposta

«Mas isso é esquecer que essa empresa já era próspera quando empregava os que actualmente manda embora. Não é o seu volume de negócios que deseja aumentar, mas, justamente porque está próspera, quer aumentar o lucro que tira e que os seus accionistas tiram desse volume de negócios. E não é criando empregos que lá chega, mas expulsando empregados

«Somos intimados a combater 'défices públicos' que são, de facto, 'benefícios para o público': essas despesas consideradas supérfluas, mesmo nocivas, cujo único defeito é não serem rentáveis e serem perdidas para a economia privada, representarem cessações de lucros, insuportáveis para ela. Ora essas despesas são vitais para os sectores essenciais da sociedade, em particular os da educação e da saúde. Não são 'úteis' nem sequer 'necessárias': são indispensáveis, delas dependem o futuro e a sobrevivência de toda a civilização.»

«O que é a economia? A organização, a distribuição da produção em função das populações, do seu bem-estar? Ou a utilização ou a marginalização das populações em função de flutuações financeiras anárquicas, sem ligação com as pessoas, mas exclusivamente ligadas ao lucro, e em detrimento delas? Estaremos numa verdadeira economia ou, pelo contrário, na sua negação

«Não faz sentido mandar desempregados procurar emprego num mundo onde o trabalho já não existe e, mais do que isso, já não interessa.»

«Está na hora de a sociedade pensar noutra forma de viver, uma forma que não dependa de emprego. Os homens e o seu trabalho são hoje absolutamente desnecessários à economia. Não é mais o trabalho que gera o lucro, é a economia virtual (as aplicações, os papéis, um mundo globalizado que ignora o trabalhador). Os empregos não existem, tampouco passarão a existir no futuro.»

«Está instalada a era do liberalismo, que soube impor a sua filosofia sem ter realmente que formulá-la e nem mesmo elaborar qualquer doutrina, de tal modo estava ela encarnada e activa antes mesmo de ser notada. O seu domínio anima um sistema imperioso, totalitário em suma, mas, por enquanto, em torno da democracia e, portanto, temperado, limitado, sussurrado, calafetado, sem nada de ostentatório, de proclamado. Estamos realmente na violência da calma
.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

O novo paradigma do «faça-você-mesmo» numa nova base tecnológica


Rádio Renascença - 7/12/2007:

O presidente da Portugal Telecom (PT), Henrique Granadeiro, avisa que no próximo ano os despedimentos vão continuar na empresa.

Em entrevista à SIC Notícias, Henrique Granadeiro adianta que deverão ser dispensadas mais de 600 pessoas.

"Este ano despedimos 600 pessoas. Corta o coração dizer isto, mas para o ano, provavelmente, despediremos um pouco mais. As tecnologias não criam um desenvolvimento de emprego, criam empregos mais qualificados", disse.


Tese:

Não obstante a "sincera tristeza" com que Henrique Granadeiro encara o despedimento de mais algumas centenas de pessoas, o presidente da PT fez uma afirmação muito curiosa: "as tecnologias não criam um desenvolvimento de emprego, criam empregos mais qualificados", querendo significar com isto que as novas tecnologias, podendo embora produzir um número cada vez menor de empregos muito especializados, vão crescentemente acabar com o emprego. E, neste ponto, estou absolutamente de acordo com ele:

Façamos um recuo de 10.000 anos na história e voltemos ao pré-neolítico (anterior à agricultura). Para o objectivo desta tese vamos subestimar o peso da tecnologia desse tempo. Nessa altura existiam duas grandes forças de trabalho: o homem e a natureza.

Por um lado, a natureza produzia as plantas (árvores que forneciam madeira, frutos, cereais, legumes, erva para os animais, etc.); a natureza produzia os animais (reproduzia-os, alimentava-os e desenvolvia-os); e a natureza produzia os minerais (rochas, metais, cristais, etc.). O homem nada tem a ver com esta produção. É uma produção totalmente autónoma. É a natureza que coloca o fruto na árvore, que faz crescer o cereal, que põe o coelho na toca e o veado na floresta. Tudo isto aconteceria mesmo que o homem não existisse.

Por outro lado temos o trabalho do homem. O homem pega na madeira das árvores e nas pedras e constrói a sua casa. O homem caça o coelho, o veado, o javali e alimenta-se. O homem colhe o fruto, o cereal, o legume e alimenta-se. Com peles de animais e com determinadas plantas tece as suas roupas e cose os seus sapatos. Com madeira e minérios diversos produz os seus utensílios e as suas armas.

Em suma, a natureza produz, de forma totalmente autónoma, determinados bens e o homem recolhe-os e, com mais ou menos alterações, consome-os.

Com o passar da História, a estas duas forças de trabalho (a natureza e o homem), junta-se uma terceira que ganha peso a cada século que passa: a tecnologia.

A civilização vai evoluindo com a tecnologia e surge a escrita, a roda, o moinho, o barco à vela, a carroça, a imprensa, a caldeira a vapor, o caminho de ferro, o motor de combustão interna, as ferramentas eléctricas, o avião, o computador, o software, as telecomunicações e a automação.

Na soma do trabalho total (natureza + homem + tecnologia), esta última entidade vai ganhando cada vez mais peso e autonomia.

Da espada que tinha de ser empunhada e brandida pelo homem, passou-se para o míssil que dispara automaticamente assim que percebe uma ameaça. Da conta feita à mão passou-se ao bilião de cálculos por segundo em computador. Da manufactura básica passou-se à fábrica crescentemente automatizada. Em qualquer processo produtivo a tecnologia tem ganho um peso exponencialmente maior.

A automação e a inteligência artificial têm tido um desenvolvimento avassalador. A máquina, cada vez mais, possui mais dados, tem mais conhecimento e melhor capacidade de decisão. Cada vez é mais inteligente e mais autónoma. E cada vez menos precisa de ser dirigida pelo homem.

Tal como a natureza produzia sozinha há 10.000 anos (e ainda o faz em muitos produtos que hoje utilizamos), também a tecnologia está cada vez mais próxima de produzir sozinha. O desenvolvimento tecnológico é exponencial em todos os campos que se considere. Donde, no binómio homem-máquina na produção, o homem tem cada vez menos peso. Em breve não terá praticamente nenhum e a máquina produzirá sozinha.

Nessa altura, a fábrica totalmente automatizada não poderá ser privada. Porque não existirão trabalhadores com salários, e sem salários não há poder de compra. Sem poder de compra não há vendas. Sem vendas não há lucros. Sem lucros não há empresas privadas. Qualquer empresa automatizada, seja o que for que produza, terá de pertencer ao grupo, à sociedade.

Este novo paradigma será um «faça-você-mesmo» numa nova base tecnológica. A cada indivíduo será atribuído um determinado crédito para um certo período e ele poderá servir-se da tecnologia dentro desses parâmetros. Poderá chegar ao pé uma máquina que serve bebidas, pagar e pedir um café. Ou poderá escolher e personalizar a planta da sua futura casa num programa avançado de CAD.


Três exemplos do paradigma «faça-você-mesmo» numa nova base tecnológica:

Exemplo 1 - Há uns anos, se alguém queria meter gasolina, parava o carro na bomba, vinha o empregado, o condutor dizia-lhe quanto queria, o empregado atestava, o condutor pagava-lhe (e dava-lhe uma gorjeta), e arrancava. Tudo sem se levantar do assento.

Agora, o condutor sai do carro, atesta, dirige-se à caixa, paga e arranca. Melhor, com a via verde o condutor sai do carro, digita o código do seu cartão, atesta, tira o recibo e arranca.

Note-se que numa bomba de gasolina (de dimensões médias), foram substituídos vários funcionários por um caixa. A via verde, por seu turno, eliminou a necessidade do caixa.


Exemplo 2 – Há uns anos, dirigíamo-nos a uma mercearia e pedíamos ao merceeiro todos os produtos que necessitávamos. Era o merceeiro que ia buscar os produtos às prateleiras.

Hoje, pegamos num carrinho e vamos nós próprios buscar os produtos de que temos necessidade. Só temos de passar pelo caixa para pagar. Recentemente surgiram métodos que eliminam a necessidade do caixa (Jumbo de Alfragide).


Exemplo 3 – O Multibanco será talvez o caso mais paradigmático desta nova realidade. Para levantar, depositar, fazer transferências, pagamentos e centenas de outras operações, somos agora nós próprios que as realizamos sem recurso ao caixa do banco. Mais uma vez, a empresa (neste caso um banco) automatizou procedimentos e transferiu para o cliente certas tarefas. Mais uma vez temos o «faça-você-mesmo» numa nova base tecnológica.


Isto não é ficção científica. O número crescente de desempregados a par do desenvolvimento exponencial do hardware e do software estão aí para prová-lo. Vamos acelerar a transição ou vamos permanecer agarrados a um passado de emprego que cada vez existe menos? Vamos rumar à mudança ou vamos continuar a apostar no desastre?

É a tecnologia que está a substituir o homem no trabalho. É por isso que o velho paradigma do emprego está moribundo. Vamos criar, com o auxílio da tecnologia, um mundo mais justo, mais redistributivo e mais humano.




Nota 1

Wikipedia - Problemáticas sociais da automação (Social issues of automation)

Uma ironia é que em anos recentes, o outsourcing tem sido considerado culpado pela perda de empregos pelos quais a automação é a mais provável culpada. Este argumento é apoiado pelo facto de que nos EUA, o número de empregos insourced (utilização do pessoal próprio) está a aumentar a uma maior taxa do que o outsourcing (utilização do pessoal externo à empresa). Mais, a taxa de declínio nos EUA do emprego industrial não é maior que a média mundial: 11 por cento entre 1995 e 2002. No mesmo período, a China que frequentemente foi criticada por "roubar" empregos industriais americanos, perdeu internamente 15 milhões de trabalhos industriais (aproximadamente 15% do seu total), comparados com os 2 milhões perdidos nos EUA.

Milhões de telefonistas humanos e respondedores, através do mundo, foram substituídos completamente (ou quase completamente) por painéis de comando de telefone automatizados e secretárias electrónicas (não por trabalhadores indianos ou chineses).

Milhares de investigadores médicos foram substituídos por sistemas automatizados em muitas tarefas médicas de classificadores (screeners) 'primários' em eletrocardiografia ou radiografia, para análises de laboratório de genes humanos, células e tecidos. Até mesmo médicos foram parcialmente substituídos por robots remotos e automatizados e por robots cirúrgicos altamente sofisticados que lhes permitem executar remotamente e com níveis de exatidão e precisão de outra forma não possíveis para o médico comum.
.