segunda-feira, fevereiro 28, 2005

O aldrabão

A Associação Nacional de Municípios Portugueses está indignada com o fiscalista Saldanha Sanches por este ter dito que “o número de autarcas que exigem luvas é assustador”.

Fernando Ruas, Presidente da ANMP, veio a terreiro anunciar que vai processar Saldanha Sanches por este ter feito acusações que nunca foram provadas. “Ele que diga os nomes dos que recebem luvas, ou será tido por um aldrabão”, exigiu Fernando Ruas.

De norte a sul do país reina a indignação entre os autarcas. “Nunca fomos tão insultados!”, é a frase mais ouvida nos restaurantes de luxo. Apesar de quando em vez surgirem rumores de alguns comportamentos de autarcas menos correctos, esta casta social é tida pela generalidade dos populares, como gente honesta e benfazeja que apenas procura o desenvolvimento do seu Município. Os autarcas portugueses têm-se destacado na luta contra o caos urbanístico e contra as urbanizações fraudulentas induzidas pelos construtores civis. Em noites de lua cheia já têm sido vistos autarcas armados de varapaus a investir desbragadamente contra construtores civis que lhes fizeram propostas menos claras.

Daqui nos solidarizamos, pois, com a grande comunidade dos autarcas deste país que agora são caluniados pelo aldrabão do Sanches.

Há uma crença antiga do povo português que diz que, “A quem encontrar um autarca na rua, em véspera de dias santos, nunca lhe faltará o pão”.
Um outro aforismo popular, que tem passado de geração em geração, reza: “Ao construtor civil ladrão dá-lhe o autarca com a mão”.

E como se costuma dizer, “Voz do povo é voz de Deus...”.

Elites urbanas

Na edição de 18 de Fevereiro de 2005, a dois dias das eleições, o Expresso revelava o resultados das sondagens na primeira página: PS - 45%, PSD – 31%, CDU – 8%, CDS – 8% e BE – 6%.

Na sua coluna semanal, o director do Expresso, José António Saraiva, desenvolveu uma tese. Concordando, embora, com os resultados do PS, PSD e CDU, tinha, quanto ao CDS e BE uma perspectiva curiosa:


“Mas agora as coisas serão mais complicadas. Sobretudo por uma razão: porque Paulo Portas entrou na área do poder. A sua associação ao PSD no Governo deu-lhe um acréscimo de respeitabilidade - e tornou-o «um amigo» aos olhos dos sociais-democratas.

A forma leal como Portas cumpriu o seu papel no Executivo, a forma hábil como geriu a saída do poder, transformou-o numa boa alternativa de voto para muitos simpatizantes do PSD desiludidos com o comportamento imprevisível de Santana Lopes. Julgo, por isso, que o CDS vai ser a grande surpresa destas eleições. Digamos que aos 9% que teve em 2002 poderão somar-se 3% vindos da área social-democrata - o que lhe daria cerca de 12%.”

“Quanto a Louçã, tem um problema complicado a resolver: a sua grande arma era a frescura, a criatividade, a forma aparentemente nova como apresentava algumas ideias velhas.

Ora a frescura começa a perder-se. As causas que o Bloco de Esquerda lançou (como o aborto ou os homossexuais) começam a banalizar-se. E não é nesta altura claro para ninguém como conseguirá dar o salto de «partido engraçado» para «partido instalado».
Esta campanha revelou mesmo que nesse salto poderá estar a morte do artista - ou seja, o fim de um ciclo político que atirou Louçã e mais uns tantos para a ribalta. Por isso, o BE poderá crescer muito menos do que se espera. Dificilmente chegará aos 5%.”


Uma semana depois, o nosso bom José António Saraiva, na sua coluna semanal, rectificava suavemente a sua tese em post scriptum:


“P .S. - Nas previsões aqui feitas há oito dias, acertei nos resultados de três partidos: PS, PSD e PCP. Mas falhei redondamente em dois: CDS e BE. Acreditei que Portas não seria penalizado por ter feito parte do Governo e que receberia muitos votos de «fugitivos» do PSD. Ora o CDS recebeu de facto muitos votos de ex-eleitores sociais-democratas mas perdeu ainda mais para a abstenção e para outros partidos.

Quanto ao BE, provou-se que as «causas» que defende - ligadas à homossexualidade ou ao aborto -, aliadas a uma certa ideia de que é a voz moderna dos desesperados, continuam a render votos em tempo de crise social e de valores, e entram como faca em manteiga em certas elites urbanas com pretensões intelectuais.”


É sabido, José António Saraiva, que você não tem pretensões intelectuais. Ninguém, aliás, lho poderia exigir. Contudo, se, como afirma, há causas que entram como faca em manteiga em certas elites urbanas, há colunistas, urbanos também, onde a racionalidade sente enorme dificuldade em penetrar.

Você observa que no Bloco de Esquerda a frescura começa a perder-se. Não tenho a certeza. Quanto a certas colunas do Expresso, aí, sem dúvida, a necessidade de arejamento é gritante.

domingo, fevereiro 27, 2005

Efeitos Colaterais da Emancipação Feminina

Longe vão os tempos da submissão das mulheres. Não acreditam?! Então façam o favor de reparar neste diálogo ocorrido através da Internet entre duas mulheres "modernas".

Filipa: Olá querida!
Teresa: Olha quem é ela! Então, filha, tás boa?
Teresa: (se demorar um bocado a responder não leves a mal, tou a teclar com um gajo no mIRC)
Filipa: Tou, e tu minha doida?
Filipa: ouviste a mensagem q te deixei ontem no télélé?
Teresa: Tou óptima, felizmente.
Teresa: Mais ou menos. Ouvia-se mal, por causa do barulho da música. Mas percebi que estavas com o António e a mulher
Teresa: não era?
Filipa: Não porra!
Teresa: Então?
Filipa: Estava com um gajo q conheci num restaurante
Teresa: Ai foi? Mas então o que é que grunhiste sobre o António e a Isabel?
Teresa: percebi que tinhas estado com eles
Filipa: Eu estava a almoçar com a Tatão e o gajo estva com outro na mesa ao lado e meteu-se connosco
Teresa: A sério? Que atrevido! E saíste com ele? conta, conta, conta!
Filipa: Olha nem vais acreditar!
Teresa: (este gajo do mIRC tá-me a dar uma conversa... parece interessante, achas que lhe dê o número de telemóvel?)
Teresa: Conta, pá, não me enerves!
Filipa: Fomos os 4 (nós as 2 e eles os 2) a um barzinho no bairro alto
Filipa: Os tipos eram fixes!
Teresa: Porreiro... mas... e mais?
Filipa: Nem se te conte o resto....
Teresa: A Tatão só pode ter ido prá cama com ele
Teresa: a gaja é uma depravada
Teresa: não me digas que tu também... sua vaca!
Filipa: Pois a Tão n se aguenta.....tb já estava há uma semanita a pão eágua coitada
Filipa: Não eu não....
Teresa: tá melhor que eu... acho mas éque vou jantar com este gajo. já vi a foto, não é feio...!!!
Filipa: dei-lhe o nº do telemóvel mas nada de abusos....
Teresa: Se o meu ex não ficar com o puto posso deixá-lo contigo na 4ª feira?
Filipa: O meu chama-se Santana, imagina!
Filipa: perguntei-lhe logo se ele tb queria colinho!
Teresa: Bem, com um nome desses deve ser um charme!
Filipa: O gajo tb é do PSD e tudo
Teresa: (olha, já lhe dei o nº... que se lixe, o gajo é engenheiro!)
Filipa: mas está muito chateado pq com isto das eleições vai perder uma data de massa
Filipa: parece q é assessor de n sei o q
Teresa: porreiro,pá
Filipa: mas q se lixe tem um carro q até me fez tremelicar as mamocas!
Teresa: vidros escuros?
Teresa: carros com vidros escuros dão um jeitão, querida!
Filipa: ficou de me ligar amanhã para irmos jantar
Filipa: a Tão foi para casa do outro
Filipa: ela é uma parva pá
Teresa: Olha lá, ficas-me com o puto ou não na 4ª feira? O Zé vai-se cortar, de certeza. Para ele os pais só o são aos fins de semana
Teresa: claro, mesmo que lhe apetecesse tinha de deixar o gajo de molho
Filipa: ó Teresa eu fico mas vê lá se isso n me vai estragar o esquema!
Teresa: oh pá, pode ser que o Zé fique com ele, mas se não ficar e tu tb não puderes vou pô-lo na chata da minha mãe
Filipa: Sabes q a Tão já me contou tudo
Teresa: ai foi?
Teresa: enTão?
Filipa: a parva comeu-o logo na 1ª noite!
Teresa: eh pá, aquela vaca não perde tempo!
Filipa: estou farta de a avaisar q assim perde os "clientes" mas q queres?
Filipa: avisar
Teresa: Mas olha, digo-te uma coisa
Teresa: no fundo, ela é que a sabe toda
Teresa: pelo menos come-os antes que eles a conheçam
Teresa: antes de eles lhe saberem os defeitos
Teresa: pera aí um bocado, filha, vou acender um cigarrinho
Filipa: n sabe nada, é uma parvalhoca q só pensa no momento presente....imagina ir para cama com um gajo do CDS depois do resultado q eles tiveram nas eleições
Filipa: tivemos galo com estes dois!
Filipa: Um é assessor e vai perder o tacho e o outro q estava bem encaminhado para vereador numa Cãmara de Leiria tb está a ver a vida a andar para trás....agora só se forem para a Madeira!
Teresa: ó querida... se fosses com um do PS diziam que andavas a fazer concorrência desleal ao eleitorado masculino...
Filipa: Já ouvi dizer que quem ganha bem são os do MRPP
Teresa: por falar em arquipélagos, sabes que o marido da Mena teve um caso com a secretária do Carlos César?
Filipa: Mas tb aquele do Garcia n sei q é muito esquisitinho
Teresa: Pois é, a Mafalda que trabalhava com o Garcia Pereira já mudou de escritório 3 vezes... agora estão nas Amoreiras
Filipa: que parvo! Devia era ter tido com o carlos César....
Teresa: também acho, é bem giro, o gajo
Filipa: Olha está-me a ligar o santana! Só um minutinho
Teresa: e olha que aquele Sócrates... papava-o todinho
Teresa: ok, filha, não cedas
Filipa: LOL sabes o q é q ele disse?
Teresa: não, conta
Filipa: Que em vez de irmos a um restaurante se podiamos jantar lá em casa dele
Teresa: ai o cabrão!
Teresa: e tu???
Teresa: !!!!!!???????!!!!!!!!
Filipa: O gajo já está a afiar a moca
Filipa: Fiz-me de cara
Filipa: disse-lhe q amanhã n sabia se tinha o cabelo em condições
Teresa: (bem, este gajo que tá a teclar comigo vota no Bloco... tá-me a dizer que se separou porque encontrou a mulher no carro de um amigo quando tavam de férias no Algarve a olhar para o tapete....)
Filipa: Sabes o q é q estou a pensar?
Teresa: não
Filipa: daqui a pouco ligo-lhe e e digo q sim porque confio nele
Teresa: fazes bem
Teresa: se confias mesmo.
Filipa: e amanhã apareço-lhe com aqueles sapatos com saltos de meio metro de altura e uma bruta mini-saia
Filipa: vai ficar de rastos...
Teresa: não me fales em mini-saias
Teresa: tive de mandar um puto para a rua na sexta feira porque ele se pôs a comentar as minhas pernas
Filipa: achas q lhe dê a xoxa já amanhã, querida?
Teresa: e ainda por cima estava a favorecer...!
Teresa: mas a deontologia docente não me permite estes devaneios
Teresa: ó filha, sei lá... se tu queres, pourquoi pas?
Filipa: ó filha, já sabes q eu querer quero pq ando sempre com os "calores" mas n sei se deva, entendes?
Filipa: talvez seja melhor fazê-lo rastejar mais um tempo n achas?
Teresa: olha, tá a começar "O Sexo e a Cidade" na SICMulher. Eu vou comprar cigarros e depois vou ver filha...não te importas que saia? Liga-me amanhã para irmos tomar um cafezinho à praia da Rata.
Teresa: eu deixava rastejar... mas se tás com os "calores" não hesites
Teresa: os instintos são para cumprir todos
Filipa: ai está? então tb vou ver. Adoro a Samantha, que papelaço!
Teresa: Eh pá, a Miranda é a minha favorita.... e identifico-me com ela, tem uma pouca sorte... !
Filipa: ok depois eu conto-te tudo o q acontecer entre mim e o "flopes"
Teresa: Tá bem, querida
Filipa: ciao jóia
Teresa: beijinhos, e não te esqueças de me ligar
Filipa: até amanhã e n te esqueças de dormir toda a noite que nem uma puta, ok?
Teresa: mas de manhã, não, que vou à reunião do condomínio
Filipa: ok
Teresa: Okkkkkkkkkkkkkkkkk
Teresa: beijocas
Teresa: fui****


(Diletante a priori colaborou na elaboração deste post)

sábado, fevereiro 26, 2005

Palavras para quê?

"Eu sou o comandante, perecebem. Eu não tenho de explicar. Eu não preciso de explicar porque é que eu digo coisas. É isso que torna interessante ser presidente."
Citado por Bob Woodward no seu livro: «Bush em guerra»

"I'm the commander see, I don't need to explain. I do not need to explain why I say things. That's the interesting thing about being president."
as quoted in Bob Woodward's Bush at War


Exemplo

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

O Howard Hughes do Catolicismo


Tudo o que é excessivamente mediático me causa uma certa irritação e também, quase sempre, enorme desconfiança, mesmo tendo esse mediatismo uma dimensão "humanitária" ou solidária. Ramos Horta, Sting ou Bono, Princesa Diana e Madre Teresa de Calcutá são personagens que me despertam alguma repulsa, na medida em que têm sido acarinhadas de forma exacerbada. Karol Wojtyla, o sumo pontífice da ICAR (eheheh), não é excepção. Provavelmente, grande parte da culpa de isto ser assim nem sequer é dele. Os meios de comunicação são todos, ou quase todos, formados por gestores engenhosos que reconhecem, na maioria das vezes, a melhor forma de lucrar com a sua actividade. No entanto, quando João Paulo II era ainda projecto de Papa, apenas aspirando a essa condição, sabia bem que essa sua "actividade" de líder espiritual iria ter grande repercussão na vida pública internacional, e assim, se o seu objectivo era mesmo seguir as pisadas de Cristo e envagelizar os infiéis e converter outros, digamos que não escolheu o melhor meio de o fazer. A hierarquia eclesiástica cristã é, claramente, a primeira questão discutível quando se fala da legitimidade do catolicismo. Somos todos irmãos, mas há uns mais irmãos que outros, que é como quem diz, há uns que usam anéis de ouro e têm equipas de dezenas de médicos a trabalharem para o seu bem-estar sempre que têm a saúde ameaçada.


Fico indignada quando leio, em órgãos de comunicação social, títulos no género de «Papa Já respira sem ajuda». Ora, se os papas o fossem por direito hereditário, decerto teríamos títulos do estilo «Papa Júnior já sabe andar» ou «Papinha já sabe cortar o bife com a faca de serrilha». Felizmente, os papas são todos solteiros e só têm filhos clandestinos; de outro modo, seríamos assolados por um imenso tédio, como o sentido por aquele indivíduo numa publicidade televisiva da PT, na qual um casal havia fotografado com a câmara do telefone fixo, os 900 passos do seu Joãozinho e os mostrava a esse senhor, que adormecia à medida que os passos apareciam. Para uma comparação menos popularucha, digamos que, se tal acontecesse, toda a gente desejaria, em vez de ler notícias sobre o Papado e o Papadinho, ver filmes do Manoel de Oliveira.


Com tal aproveitamento da figura do chefe da ICAR, também não me admira que a TVI se lembre de criar um reality show para apurar a figura que irá substituir João Paulo II, assim que ele morrer. Como responderia Paulo Portas a estas afirmações se fosse presidente da TVI: "Dignidade?! Nós queremos é audiências!".


Enfim... até no catolicismo temos Howards Hughes!

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

"Mas o que é isto?! Fico chateado, com certeza que fico chateado!"

Entrava-se no século XX quando o sociólogo Émile Durkheim decidiu elaborar um estudo sobre o suicídio, cujo método de investigação serviu, posteriormente, de paradigma para a forma como se processa geralmente a investigação na Sociologia moderna. Com efeito, Durkheim soube substituir variáveis de ordem naturalista e subjectiva para explicar este fenómeno, e fê-lo utilizando factores de ordem social. E, de facto, resultou.

É sabido que a sociolatria preconizada por outro sociólogo, ou pré-sociólogo, se preferirem, de seu nome Auguste Comte, continua a dar cartas nos nossos dias. Por isso, um grupo de sociólogos das mais diversas nacionalidades dirigiu-se, muito secretamente, nesta segunda-feira, para o nosso país – tudo isto depois de ter ido uma apressada reunião para definir os caminhos de uma sigilosa (ou não…) investigação sociológica no nosso país.

Por amor à humanidade na sua versão mais solidária, isto é, na sua organização em sociedade, estes investigadores de ilustre cepa vão estudar um dos mais preocupantes fenómenos sociológicos do nosso século que é, exactamente, o masoquismo [moral] juvenil.

O masoquismo juvenil é considerado um flagelo sociológico, na medida em que prejudica não só o presente das camadas mais jovens da sociedade, mas também o seu futuro e, consequentemente, o futuro dos seus filhos ainda não projectados. Questionado sobre a importância deste fenómeno, o sociólogo japonês Yaminabo Taduro respondeu ao nosso jornalista que «o masoquismo juvenil é muito grave e pode, inclusivamente, dar frutos. Uma vez masoquista, é-se masoquista para toda a vida.». No entanto, não conseguimos descobrir exactamente por que razão este grupo de investigação quer estudar este “flagelo” no nosso país.

Por sua vez, a psicossocióloga ucraniana Novaja Economičeskaja Politika, porta-voz do grupo, quando confrontada com certas e determinadas perguntas indignou-se e bradou: «mas o que é isto?! Chego lá acima e dizem-me que não sei quê, agora aqui já é assim?! Ah e tal?! Ah e tal, não! Deixem-me trabalhar, não respondo a mais nada.». Tentámos abordá-la quando já parecia estar mais calma, cerca de 45 minutos depois, no bar do Centro de Congressos de Cascais, mas continuámos a não obter quaisquer respostas concretas. Desta vez, ouvimos Novaja comentar com o seu assistente: «estou muito arrependida de ter aceite este trabalho. Efectivamente, não há nenhum pais civilizado onde a diferença nas eleições legislativas entre trotsquistas e democratas-cristãos seja de apenas um ponto. Eu já devia ter calculado que este país era demasiado fascizóide para o meu gosto. Vamos para Cuba, fofo?!»

Aparentemente, devo concordar, nada de importante justificaria a vinda destes profissionais ao nosso país. Mas se nos concentrarmos bem nos acontecimentos político-institucionais dos últimos dias, podemos chegar a conclusões claras e dizer, tal como Arquimedes, “Eureka!”, enquanto corremos nus pelas ruas (está bem, está bem, esqueçam a parte freudiana da questão…). Então não é tão fácil perceber que a atitude da Juventude Popular de apelar à permanência de Paulo Portas como líder do CDS-PP é um fenómeno de masoquismo juvenil que poderá afectar, a curto ou médio prazo, grande parte da classe etária mais jovem da nossa sociedade?

Os redactores dos blogues políticos e das outras instituições afins são sempre muito subtis. Eles não têm opiniões. São até raríssimos os que dizem “eu acho” (versão Marcelo Rebelo de Sousa de “eu penso”) ou “cá para mim”. Os factos existem, e é para honrar a verdade que os blogueiros existem. Mas eu gosto de ser diferente, caríssimo leitor – e agora poderia o leitor perguntar-me, com muita razão, “mas será que és?”, ao que eu responderia automaticamente: “ainda bem que faz essa pergunta!”, e assim por diante. E é por gostar de ser diferente que eu preciso de dizer aqui que acho as juventudes partidárias uma perfeita palhaçada. Como disse já alguém próximo de nós no universo blogueiro, a disciplina de Introdução à Política faz falta. Sem ela, não há jovem capaz de fazer uma única opção política, a menos que receba a devida formação em casa ou que se auto-instrua. Ora isto, para a maioria dos jovens portugueses, não pode ser uma realidade. Assim sendo, o caso poderá ser gravíssimo, como aconteceu numa certa escola há exactamente dois anos lectivos: um aluno que pertencia à JSD conseguiu [!!!] convencer toda a sua turma (com duas ou três honradíssimas excepções) a tornar-se também militante da JSD. Agora compreendo como o Partido Social-Democrata permitiu que Pedro Santana Lopes se tornasse seu militante, enquanto já lá tinha gente como José Pacheco Pereira, por exemplo.

Neste caso, ao contrário do caso do abaixo-assinado da Juventude Popular, este fenómeno de masoquismo juvenil foi inconsciente. A moda e os estereótipos têm destas coisas. Bom, talvez eu esteja a fazer uma ‘desgeneralização’ precipitada, pois será que alguém, em consciência, se torna democrata-cristão? Bem sei, bem sei: há que pôr de parte todos os obstáculos epistemológicos. Mas é possível ser-se objectivo num país onde um candidato a Primeiro Ministro chama bárbaro a um povo que ele próprio quer governar? Caso para dizer, como é costume dizer-se a todos os jovens enquanto são jovens (adoro redundâncias!), que ainda vão mudar de ideias. Ou como diria alguém que ultimamente conhecemos bem:”gostas do CDS? Ah e tal, porque és jovem…!”.

Enfim… haja juízo!

O Papa, o aborto e o holocausto

Para João Paulo II, o holocausto e o aborto resultam do esquecimento da lei de Deus em virtude da valorização da democracia. No seu último livro, intitulado Memória e Identidade, o Papa escreve que «foi um parlamento eleito legalmente que elegeu Hitler». Com este exemplo, João Paulo II aponta o direito de questionar algumas decisões das democracias actuais, como a legalização do aborto. «Os parlamentos que criam e promulgam essas leis têm de saber que estão a transgredir os seus poderes e a entrar num conflito aberto com a lei de Deus e a lei da natureza», acrescenta o Sumo Pontífice. Estas afirmações suscitaram uma forte reacção dos judeus alemães, para quem «a igreja católica não percebe ou não quer perceber a enorme diferença entre um genocídio massivo e o que as mulheres fazem com o seu corpo».

Ex. Sumo Pontífice.
Embora profundamente católico e adepto sem reservas de todos os dogmas da Igreja, nesta questão, em particular, não consigo estar de acordo consigo. Tenho a sensação que você, Pontífice, terá ido longe de mais no paralelo que faz entre judeus a embriões. Senão vejamos:

O embrião em formação alimenta-se através do sangue da mãe.
Não é do sangue da mãe que os judeus se alimentam.

Nos embriões já existe um coração rudimentar.
Nos judeus não existe tal coisa.

Nas três primeiras semanas de gestação, o embrião humano apresenta-se ao lado de uma espécie de bolsa de grandes dimensões, o chamado saco vitelino.
Os judeus apresentam-se ao lado de várias bolsas de miséria de grandes dimensões, os chamados colonatos palestinianos.

Nos vertebrados ovíparos o saco vitelino funciona como um reservatório de material nutritivo.
Para os judeus, o colonato palestiniano funciona como um reservatório de mão de obra barata.

No embrião, após o terceiro mês de vida fetal, a formação do sangue processa-se, em particular no fígado.
Com os judeus, o derramamento de sangue processa-se, em particular, na intifada.

O embrião continua a crescer rapidamente e toma o forma de um girino com cabeça, brotos dos braços e pernas e uma pequena cauda. É encurvado como uma vírgula com a cabeça em direcção ao tórax.
Já os judeus são descritos como pessoas sem raízes, fisicamente fracos, horrivelmente avessos ao prazer, contrários ao trabalho físico e alienados da natureza.

Pelo final do primeiro trimestre o embrião avançou para o estágio onde seu cérebro já pode transmitir mensagens.
Entre os judeus, as mensagens emitidas são interceptadas pela Mossad.

E, como se não bastasse, os judeus têm ainda o pálio nupcial, a circuncisão aos 8 dias, o acender de velas à sexta-feira, o dia de sábado sagrado e o banho ritual das mulheres na chamada mikvá ao concluir o período das regras. Ainda por cima, o rei israelita Saúl teve um filho chamado Yirmiá, cujo filho, por sua vez, se chamou Afegana. Eu pergunto-me: o que é que isto tem a ver com embriões?

Portanto, Sua Santidade, chamar holocausto ao aborto é o mesmo que chamar Bar Mitzvá à ontogénese. Eu sei que vestiu a batina há muitos anos, mas devia ter o discernimento suficiente para distinguir entre um genocídio massivo e aquilo que as mulheres fazem com o corpo. Eu tenho, embora nada perceba de genocídios massivos.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Acabaram as divergências

No final da visita de George W. Bush a Bruxelas, os líderes dos dois blocos atiraram as divergências do passado para trás das costas em nome da ajuda à "mais jovem democracia do mundo", mas continuam a opor-se sobre a China, Irão, Protocolo de Quioto, Síria, Arábia Saudita, casamento de homosexuais, Rússia, Casaquistão Quirguiquistão, Tadjiquistão e Ossétia.

Na foto, George "cristão renascido" Bush, trazendo uma mensagem de paz e reconciliação.

Exemplo

terça-feira, fevereiro 22, 2005

A caminho do Socialismo!

Os resultados das eleições legislativas de domingo trouxeram uma vitória estrondosa ao Partido Socialista, que obteve a maioria absoluta, suscitando várias observações.

O Dr. Garcia Pereira conseguiu mais uma vez os seus intentos. Além de ter retirado uma série de votos à CDU devido à confusão das foices e dos martelos, promoveu-se no mundo da advocacia o que, apesar dos rios de dinheiro que já tem ganho, lhe poderá ajudar a comprar um novo iate.
Está, portanto de parabéns o Dr. Garcia Pereira sendo um dos grandes vencedores destas eleições!

Manuel Monteiro, que astuciosamente criou um partido só para si como quem cria um blog, poderá agora trocar de lugar com Paulo Portas. Portas para o PND e Monteiro para o CDS até este partido voltar a ter possibilidades de regressar ao Governo. Um pouco antes dessa altura trocarão de novo e Monteiro guardará mais uma vez a caneta.

Santana Lopes vai tentar continuar a desenvolver o “pensamento político de Francisco Sá Carneiro”. A luta continua, agora a nível interno. Talvez seja de esperar mais uma proposta de reforma dos estatutos do PSD ou revisão constitucional. Se ele jogasse xadrez, de cada vez que perdesse proporia a alteração dos movimentos do Rei. Mas tudo irá bem desde que consiga continuar a ser notícia durante mais algum tempo. A política não lhe interessa. Não é de esquerda nem de direita mas, tão só parvo. Pretende apenas ser notícia. Daria um bom residente para a Quinta das Celebridades.

Marques Mendes faz lembrar a grande epopeia dos descobrimentos portugueses. Saiu num bote na esperança que os grandes não o vejam, por estarem em guerra entre si. Quando repararem pode ser que já esteja demasiado longe ou então por-se-á em bicos dos pés.

Jerónimo de Sousa enganou tudo e todos excepto Luís Delgado. A memória é tão curta que já ninguém se lembrava de quando foi candidato presidencial há cerca de vinte anos. Percebeu uma coisa que a maioria dos dirigentes do PCP e dos ex-renovadores nunca tinham percebido: 90% das pessoas não entende nada de política e por isso mais vale ser simpático.

O Bloco de Esquerda perdeu a graça, para os analistas, porque começa a tornar-se perigoso. É também natural que os ricos que nele têm votado voltem a votar no PS.

Finalmente o Partido Socialista ganha com maioria absoluta. São de esperar grandes transformações políticas, sociais e económicas porque, segundo o preâmbulo da Constituição da República Portuguesa: “A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de... abrir caminho para uma sociedade socialista... tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno”.

E o que é o Socialismo?

Eis aqui uma definição dada pelo Dicionário de Filosofia, de Simon Blackburn, editado pela Gradiva:

“Sistema político em que os meios de produção (principais) não estão em mãos privadas ou institucionais, mas sob controlo social. Tipicamente, isto é visto como um aspecto do interesse mais geral pela igualdade de direitos das pessoas no que diz respeito a vários benefícios (saúde, educação) e do interesse na limitação das desigualdades de riqueza e de poder produzidos pelos mecanismos não regulados das forças de mercado. O socialismo evita as implicações totalitárias do comunismo e funciona nas constituições democráticas liberais”.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Please don’t go! Don’t gooooooooo! Don’t go away!

"Terminou o ciclo político em que presidi ao CDS/PP", afirmou ontem um comovido Paulo Portas, no rescaldo de uma noite eleitoral que deu aos populares 7,3% dos votos, 12 deputados e o quarto lugar entre as forças políticas portuguesas. Resultados que traduzem, segundo Portas, um falhanço em toda a linha nas metas do CDS para estas eleições.

Portas sublinhou que o "resultado do CDS não é um bom resultado". E assumiu responsabilidades pessoais. "Dos quatro objectivos que tracei, falhei os quatro. Quero assumir a responsabilidade pessoal por este resultado, porque considero que o partido me deu todas as condições para disputar estas eleições ", afirmou o agora demissionário presidente do CDS.
[É verdade, o partido deu-lhe todas as condições - 6,76 milhões de Euros - para disputar estas eleições. Mas anime-se, os extremistas do Bloco, com 730 mil Euros, também não conseguiram mais do que 6,4% dos votos.]

Sobre os quatro objectivos traçados, Portas apontou a meta de uma maioria de centro-direita para afirmar que "o CDS, pela sua parte, também não conseguiu". Para comentar a maioria absoluta do PS, falou na primeira pessoa - "falhei". E mais contundente foi quanto à meta dos 10% [que nada terá a ver com submarinos] "Fui, nesta matéria, pessoalmente derrotado."
[Quatro objectivos falhados podem não ser suficientes para os seus objectivos, tão sinceros, de auto-culpabilização. Dever-se-ia, também, acrescentar a seca persistente que tem assolado o país, e a escassez de sardinhas que se faz sentir nas nossas costas. Desta forma, as pessoas poderiam discernir com mais clareza que Portas pode, afinal, não retratar o falhado acabado, que neste momento apregoa ser.]

A isto acresce, afirmou ainda, a "ascensão do extremismo e do radicalismo de esquerda". Um cenário que o líder popular comentou com amargura "Não há nenhum país civilizado do mundo onde a diferença entre trotsquistas e democratas-cristãos seja de apenas um por cento". [Louçã lamentou, também, com amargura, esta pequena diferença.]

A falar à beira das lágrimas, Portas garantiu que não deixará o partido. "O CDS teve presidentes que o abandonaram. Esta é a minha casa e eu jamais a abandonarei", sublinhou. [Também desconfiamos que não. Nos próximos trinta anos pelo menos. Assim haja saúde!]

Segundo fontes próximas do líder do CDS, a decisão foi pessoal, e contra a opinião da maioria dos dirigentes do partido. Segundo fonte popular, "todos tentaram demovê-lo", argumentando que o cenário não era tão desastroso que impedisse a continuação do líder. Sem sucesso. A tentativa deverá, no entanto, continuar. O eurodeputado Ribeiro e Castro sugeriu "uma onda de fundo para que Paulo Portas se mantenha à frente do CDS" e a Juventude Popular lançou um abaixo assinado no mesmo sentido. A hipótese é, no entanto, considerada "improvável" por fontes próximas de Portas.
[As fontes próximas de Portas estão a fazer-se difíceis. No entanto, como resistir, com êxito, à opinião da maioria dos dirigentes do partido, à onda de fundo partidária, ao avassalador tsunami democrata-cristão? Sobretudo, se o epicentro do tsunami se situar na mente perversa do líder?]

domingo, fevereiro 20, 2005

Os indecisos

Os indecisos constituem o sector mais fascinante do eleitorado em todas as eleições. É sobre eles que se debruçam todos os analistas e todos os partidos políticos. São sempre eles que vão decidir todas as eleições e corrigir todas as sondagens. Em cada acto eleitoral constituem uma percentagem variável, mas sempre de grande dimensão.

Como podemos entender que haja sempre tantos indecisos ao fim de trinta anos de democracia e de eleições?

Há indecisos para todos os gostos.

Os que são indecisos por natureza e feitio. Estes hesitam por tudo e por nada. Não sabem se hão de comprar um casaco ou umas calças. Se hão de sair de casa ou não. Se hão de ir ao cinema ou ao teatro. Fazem os empregados dos restaurantes esperar um horror de tempo antes de escolherem o prato.

Outro tipo de indecisos acha que os políticos são todos iguais. “Eles querem é poleiro”. Não conseguem ver as diferenças entre Paulo Portas e Jerónimo de Sousa, entre Santana Lopes e Francisco Louçã ou entre José Sócrates e Garcia Pereira. Nem entre a mulher e a amante, a sogra ou a padeira.

Há os que querem votar no PSD por tradição, mas não gostam do Santana. Hesitam entre o PSD, o CDS, o PS, a abstenção e o voto branco.

Há os que não sabem nada. Não sabem o que é a Assembleia da República, uma coligação, um deputado. Não distinguem um comunista dum fascista. Chegam à urna e se quiserem votar no Jerónimo de Sousa votam no MRPP porque também tem a foice e o martelo.

Também há os que estão indecisos porque em jovens foram de esquerda mas agora ganham bem e têm vergonha de votar na direita, então hesitam entre o PS e o BE.

Alguns que são pobres e até gostam de ouvir os comunistas hesitam porque ouviram dizer que eles são maus.

Outros estão indecisos porque não gostam de ninguém e têm medo de mais tarde se sentirem responsabilizados pelos disparates que o Governo fará.

Um outro tipo de indeciso, muito interessante, é aquele que é pobre ou remediado, mas tem inveja dos ricos. Então hesita entre votar na esquerda ou na direita.

E há os que são ricos e têm problemas de consciência. Também hesitam entre a direita e a esquerda.

Os que não têm tempo para se interessarem pela política não sabem o que os partidos dizem. Estão demasiado envolvidos na profissão, como os americanos, e então não sabem se hão de votar. Dizem que a política deles é o trabalho!

Outro grupo de indecisos é o dos novos eleitores. Como votam pela primeira vez não sabem bem em quem votar. Normalmente são estudantes a quem lhes foi retirada a disciplina de Introdução à Política, que há uns anos era obrigatória no currículo escolar. Até no tempo da ditadura havia uma cadeira sobre política!

E ainda há os que estão indecisos porque sim e outros porque não... !


Admiram-se agora porque é que os piores programas de televisão são os que têm maior audiência?

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Causas e causídicos

Num artigo publicado na Visão de 18-11-2004, é referido que um advogado acusa o Presidente dos EUA de planear e mandar executar os ataques às Torres Gémeas de Nova Iorque. E tem um trunfo de peso: 400 familiares das vítimas querem que o caso vá a julgamento.

Stanley Hilton, de seu nome, é um cientista político e advogado da Califórnia de méritos reconhecidos, tendo ocupado igualmente o cargo de chefe de gabinete do antigo senador Bob Dole, ex-candidato à presidência do Partido Republicano.

Isso, no entanto, não o impediu de representar cerca de 400 das vítimas dos ataques ao World Trade Center e tentar processar judicialmente vários membros da administração Bush. A acusação é, no mínimo, aterradora: «O Presidente planeou e mandou executar os atentados de 11 de Setembro de 2001.»

Stanley diz igualmente possuir depoimentos e documentos que comprovam a existência de simulações dos ataques, «uma operação encoberta directa e pessoalmente ordenada por George W. Bush». A seu tempo, promete também revelar testemunhos de ex-agentes secretos e informadores do FBI, do Pentágono e das forças armadas a comprovar a existência de exercícios militares que visavam afinar a operação. No dia dos ataques, o sistema de defesa aeroespacial norte-americano não funcionou porque, segundo Stanley, os seus responsáveis «pensavam que era mais um ensaio».


Meu bom Stanley. A História está repleta de advogados sem escrúpulos, que inventam os casos mais disparatados, apenas para dar nas vistas e para se auto-promoverem. Mas o seu caso ultrapassa tudo o que se possa imaginar. Nunca vi coisa igual!

Em retrospectiva, estou a lembrar-me de Jim Garrison, outro que tal! Garrisson (interpretado por Kevin Costner no filme JFK), “descobriu” que Kennedy, afinal, não tinha sido assassinado por Lee Harvey Oswald, mas que, terá, antes, sido vítima de uma conspiração da CIA e do governo federal americano. Oswald, teria apenas funcionado, segundo Garrisson, como um bode expiatório. A imaginação delirante de Garrisson não fica a dever nada à sua estupidez e capacidade difamatória. Enfim, uma historieta sem pés nem cabeça que terminará, se Deus quiser, em 2050, quando forem desclassificados os documentos relativos ao processo.

Outro advogado que também adora andar nas capas dos jornais é Baltasar Garzon. Este não se coíbe de investir, sem provas e de olhos tapados, contra todos os que lhe possam trazer alguma notoriedade. Começou por acusar o governo espanhol de “apadrinhar” os GAL (Grupos Antiterroristas de Liberación), também chamados esquadrões da morte. A seguir, vá-se lá saber porquê, incriminou Pinochet de genocídio no Chile. Provas, zero! Evidências, "none"!. Também por genocídio, deve ser uma obsessão, ordenou a busca e captura de Massera Galtieri e de outros militares argentinos. Em nome de quê, Deus do Céu! Mais recentemente, são os desgraçados dos etarras que lhe estão na mira. Em suma, um nunca acabar de causas destrambelhadas. E a coisa promete não ficar por aqui. já se fala nos abusos aos prisioneiros de Guantanamo. A ver vamos!

A nível doméstico, outro advogado sequioso de celebridade, Hugo Marçal, ofereceu-se para defender Bibi, o sinistro pedófilo do processo Casa Pia. Na ânsia da fama, Marçal, embrulhou-se de tal forma no processo, que acabou, sem saber como, por ser também constituído arguido. É muito bem feito! Querias publicidade? Aí a tens, com juros! Pedo-imbecil!

Portanto, amigo Stanley, se o seu hobby é dar nas vistas, porque é que não se mascara de King Kong, e não trepa ao cimo do Empire State Building. Assim, se Bush ordenasse um ataque à torre, ninguém levaria a mal. Todos julgariam ser Carnaval.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Axis of Evil - Member nº 2

Mapa do Irão

Um antro do mal, encravado entre o Iraque e o Afeganistão, estes dois já em tratamento.

Pode observar-se, a cores, a localização das armas de destruição maciça.

Exemplo

Zita Seabra: Notas para uma biografia

Zita Seabra veio ao mundo em 1950 e aderiu ao Partido Comunista em 1965 com apenas quinze anos.
Adorou a clandestinidade porque acreditava que "era uma coisa passageira, em breve chegaríamos ao poder". Viveu com entusiasmo os anos revolucionários. Em 1980 achava que Cavaco Silva, então ministro das finanças de Sá Carneiro, estava ao serviço do grande capital. Por esses anos vivia com o revolucionário-renovador-conservador Carlos Brito de quem teve filhos. Destacou-se na Assembleia da República com a defesa das mulheres, da legalização do aborto e outras causas típicas da esquerda.
Nos anos oitenta já muito se inquietava porque o poder não chegava.
Sopraram os ventos da Perestroika e ficou de nariz no ar. "Deixou de acreditar" no comunismo. Largou o revolucionário-renovador-conservador e casou com um médico de direita. "Claro que o novo companheiro influenciou a minha nova visão da política", confessou ela numa entrevista televisiva a Maria João Avillez. Como não conseguiu aplicar aqui a Perestroika, abandonou os comunistas em 1988. O poder parecia-lhe longe.
Eis que em 1993 aceitou "com muita honra o convite do Sr. 1ºMinistro" para coordenar o Secretariado Nacional para o Audiovisual. Cavaco, o instrumento do grande capital, passava a ser o "Senhor Primeiro-Ministro". Nesse dia até lhe vieram as lágrimas aos olhos, "finalmente o poder" pelo qual tão duramente havia lutado na clandestinidade.
Até aí o seu currículo baseava-se em 24 anos de militância comunista e em 5 de editora livreira. Como Cavaco detestava os comunistas provavelmente escolheu-a pela edição de livros.
Em 1997 foi Marcelo Rebelo de Sousa, filho do saudoso Ministro de Marcelo Caetano, Baltasar Rebelo de Sousa, na altura líder do PSD, que a convida para candidata à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira por este partido liberal. Perdeu, mas tirou a autarquia aos comunistas.
Em 1998 filia-se no PSD como agradecimento pelos convites e para melhor poder servir os portugueses.
Em 2005 aceita o convite do "Sr. Primeiro Ministro" Santana Lopes para encabeçar por Coimbra, a lista de deputados do PSD à Assembleia da República, devido "ao momento difícil da vida nacional".

Zita tem-se apresentado nesta campanha fresca, rapou o bigode, e interventiva contra Matilde de Sousa Franco do PS.
Em visita ao Bispo de Coimbra, D.Albino Cleto, deixou jorrar-se-lhe da boca como um fio de baba: "Tenho um grande respeito pelo papel desempenhado em Portugal pela Igreja Católica! A Alemanha e a França correm um sério risco de perda da identidade nacional ao não reconhecerem este papel à ICAR nos respectivos países. Temos de viver com a nossa tradição, que são os valores católicos". Que se lixe a indústria têxtil! Que se lixe o aumento da divergência económica em relação à Alemanha e França! Eles é que vão perder a identidade nacional!

Quando lhe censuram estes e outros desvarios, ela responde: "Este é o percurso normal de qualquer dissidente que fez um corte ideológico. É assim no resto da Europa, não ficam a meio caminho".

Zita, a "nova beata", tem feito não um, mas vários cortes. Deixou de ser comunista por uma questão de fé. Aderiu ao PSD por uma questão de poder. Deixou de ser feminista por uma questão doméstica. Aderiu à tradição católica por uma questão de má-fé.

Os que andam escandalizados com as mudanças de rumo de Freitas do Amaral estão silenciosos quanto a Zita. Mas não podemos estar sossegados porque ela "não vai ficar a meio caminho". Ainda lá não chegou, mas queira "Deus", que quando chegue ao fim da linha não tenham muitos, de começar por onde ela começou aos 15 anos de idade...

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

O Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto, assinado em 1997, que obriga os países signatários a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa que provocam as alterações climáticas, foi agora assinado.

O acordo só entra agora em vigor devido à ratificação da Rússia, já que eram necessários 55 países responsáveis por 55 por cento da poluição mundial para pôr o protocolo em marcha.

Washington, por seu turno, afirmou ter boas razões para não ratificar o dito Protocolo.

Paul Richter, do Los Angeles Times escreveu em 2002:
“A administração Bush deu ordens aos militares para prepararem planos de contingência para o uso de armas nucleares contra, pelo menos, sete países, e para construírem armas nucleares de menor potência para utilizar em certas situações no campo de batalha, segundo um relatório secreto do Pentágono.

O relatório, que foi fornecido ao Congresso a 8 de Janeiro, refere que o Pentágono tem de estar preparado para a utilização de armas nucleares contra a China, Rússia, Coreia do Norte, Síria, Iraque, Irão e Líbia. Refere, ainda, que essas armas podem ser utilizadas em três tipos de situações: contra alvos capazes de resistir a ataques não nucleares; em retaliação contra um ataque nuclear, biológico ou químico; ou «no caso de desenvolvimentos militares imprevistos».”


Percebem-se as razões de Washington. A preocupação com a limpeza, a despoluição e a depuração do Mundo, só faz sentido a partir de um determinado grau de imundície. É uma questão de escala. Ninguém contrata uma mulher a dias, apenas porque um borrão de cinza caiu no tapete. Não! Espera-se que haja cinza em todo o lado e beatas por todos os cantos. Então sim, aspira-se.

É o bê-á-bá de qualquer ladrilhador, estucador, carpinteiro ou pedreiro. Primeiro esburaca-se, martela-se, estilhaça-se e afaga-se e, só no fim, é que se procede à limpeza. A América, gastar uma pipa de massa com a redução de gases poluentes, quando se preparam para pulverizar meio mundo e polui-lo com material radioactivo, não faz sentido. É um desperdício tão idiota quanto inútil.

Não, caros ambientalistas. Essa abordagem seria tão errada, como descabida. “First things, first”. Trate-se primeiro dos estados párias: incinere-se, primeiro, as suas populações (homens, mulheres e crianças); radioactive-se as suas cidades, as suas áreas de cultivo, os seus rios, o seu ambiente; extermine-se a sua pecuária, queime-se a sua produção agrícola e derrube-se as suas fábricas e escritórios. Depois, e só depois, se pode falar em despoluição.

Levanta-se, contudo, uma dúvida. Constituirá a destruição dos sete países, supracitados no relatório do Pentágono, massa crítica suficiente para que se encarem medidas higiénicas com alguma viabilidade económica? Não seria de acrescentar a Índia, o Brasil e meia dúzia de outros? É que os detergentes e os depurativos estão pela hora da morte!

terça-feira, fevereiro 15, 2005

O problema dos stocks

Em «Paix indésirable? Rapport sur l'utilité des guerres», Calmann-Lévy descreve uma das linhas de pensamento económico nos Estados Unidos, em voga na década de 70:
“Na época da guerra do Vietname, quinze economistas americanos de prestígio escreviam: É impossível imaginar para a economia um substituto da guerra. Nenhuma técnica (é) comparável em termos de eficácia para manter um controlo sobre o emprego, a produção e o consumo. A guerra era e continua a ser de longe um elemento essencial para a estabilidade das sociedades modernas. [O sector militar] constitui o único sector importante da economia global sujeito a um controlo completo e discricionário das autoridades governamentais. A guerra, e só a guerra, é capaz de resolver o problema dos stocks.”


Portas, que decerto estudou economia, vislumbrou aqui a oportunidade de sonho para a retoma e não teve mãos a medir:

- 800 milhões de Euros em 2 submarinos alemães.

- 500 milhões de Euros em 40 Aviões de guerra F-16 americanos

- 344 milhões de Euros em 260 tanques de guerra

- 440 milhões de Euros em 12 Helicópteros EH-101 para o exército.

- 356 milhões de Euros em 12 aviões de transporte militar médio.

- 200 milhões de Euros em 2 fragatas americanas da classe Oliver Hazard Perry com mais de 20 anos de uso.

Um excelente investimento do nosso ministro da Defesa, que nos fez ainda poupar os 5% de comissões à cabeça, que, por norma, são pagos a governantes corruptos do 3º Mundo.

O facto do PP ter um orçamento para a campanha eleitoral muito superior ao do PS (PSD - 7,32 milhões, PP - 6,76 milhões, PS - 4,85 milhões, CDU - 862 mil e BE - 730 mil), deve-se ao facto de Sócrates ser um forreta e não ter espírito investidor (as más línguas, eternamente dispostas a vomitar lama sempre que abrem a boca, lembram que os maiores contribuintes das campanhas eleitorais, do outro lado do atlântico, são as indústrias de armamento, e que o PP sempre deteve a pasta da Defesa).

A NATO, [cujo analfabetismo económico é lendário] considerou um desperdício o valor que Portugal vai ter que despender por este material. Portas não quis comentar essas declarações. No entanto, na intervenção que fez, depois do contrato assinado, considerou que a decisão de avançar com a construção dos submarinos foi uma decisão de soberania [evidentemente!].

No dia 2 de Fevereiro (2-2-2005) O líder do CDS/PP, Paulo Portas, prometeu uma campanha inovadora e pela positiva, centrada na discussão dos temas que interessam aos portugueses: "Vamos falar do que é útil aos portugueses. Eles não perdoarão que se lhes fale de mais alguma coisa que não o que é útil ao nosso país", acentuou Paulo Portas.

Portas deve, portanto, querer falar-nos sobre guerra e dos seus planos para assegurarmos um Vietname à nossa medida - porque, o armamento já cá mora, e carne para canhão não nos falta. Assim nos ensina a teoria económica acerca do controlo sobre o emprego, a produção e o consumo, por um lado, e do descontrolo da guerra, da corrupção e da morte, por outro.

POLUIÇÃO - uma abordagem meramente estética das campanhas eleitorais

Campanha eleitoral é, quase sempre, sinónimo de poluição. Se já em ocasiões de alguma normalidade as pessoas e os políticos (a divisão foi propositada) aceitam mal o silêncio e a discrição cromática, em época pré-eleitoral parece-me muito difícil haver alguma contenção a este nível. Temos tido, nos últimos dias, diversos exemplos flagrantes que ilustram fielmente a realidade que acabei de expor e que não podem, de forma alguma, passar incólumes.

Lembro-me, sobretudo e em primeiro lugar, desse caso de aberração cromática que vulgarmente se designa por “Comício do PSD”, capaz de entristecer qualquer pavo cristatus (mais conhecido por pavão) em época de acasalamento, tal é o sentimento de inferioridade estética que causa ao bichinho. Quer-me parecer, talvez com alguma razão, que o PSD também tem o seu pavão – sem ofensa, obviamente, para os pavões, que, graças à infinita generosidade da Natureza, têm penas que condizem muito melhor entre si que as habituais gravatas do líder-pavão do Partido Social Democrata com o restante da sua indumentária. Chega a ser pouco saudável, digo eu que de oftalmologia pouco ou nada compreendo, sermos surpreendidos por um fato cinzento com finas riscas claras, camisa assalmonada, gravata azul turquesa e cachecol cor de laranja do Barreiro pós-revolução industrial com os dizeres “JSD” a meio de um zapping aparentemente inofensivo… o grito do líder-pavão, ainda que rouco, é muito mais alucinatório (no mau sentido da palavra) que o do pavão-bicho (espero que tenham conseguido compreender a diferença entre os espécimes…).

Ao nível da poluição auditiva provocada pela campanha do PSD, acho conveniente ainda referir o hino cuja letra todos conhecem, certamente, e que reza mais ou menos assim: «Paz, Pão/ Povo e Liberdade/Todos sempre unidos/No caminho da verdade…»… se a tudo isto juntarmos, provavelmente, uma das piores composições melódicas de Paulo de Carvalho (tenho, queridos leitores, alguma dificuldade em desculpar deslizes…), obtemos a receita para um ruído muito mais incomodativo que o de toda a frota da Rodoviária de Lisboa e da Carris a passar à nossa frente em conjunto e a alta velocidade, com um Mercedes de 1965 atrás sem travões (claro que o seu condutor tenta travar, daí a maior parte do barulho), dentro do qual um indivíduo com um megafone transmite um remix das versões electrónicas do Molto Vivace (segundo andamento) da 9ª Sinfonia de Beethoven usadas na obra-prima cinematográfica Laranja Mecânica, com alguma canção dos Madredeus (onde nunca pode faltar, é claro, a cristalina voz de Teresa Salgueiro). Enfim… pior do que isto só mesmo o líder do partido em questão lembrar-se de pegar numa criança ao colo com ar paternalista e obrigá-la, qual tortura prisional chinesa, a voltar a proferir aquilo que, sob pena de não poder voltar a assistir aos desenhos animados japoneses dobrados em espanhol do Canal Panda (22 na TVCabo – não aconselho a pessoas sensíveis!), já os pais a tinham obrigado a dizer: «vais ganhar!». Como se não bastasse, a criança recebeu de seguida um beijo do líder partidário do PSD, o que em países ditos civilizados já seria alvo de investigação por parte da Polícia Judiciária.

As campanhas dos partidos Socialista e Democrata-Cristão (foi louvável a atitude deste último partido e do PSD de falar ao coração das gentes cristãs e “suspender” a campanha por causa da morte de Irmã Lúcia, ícone da alienação popular – no sentido do materialismo histórico marxista – suspensão essa que não é, aqui para nós que somos inteligentes, mais do que uma manobra de campanha) parecem-me igualmente poluentes, com algumas diferenças que as tornam, grosso modo, mais aceitáveis que a do PSD. Por exemplo: o sorriso cínico e confiante de Paulo Portas nos seus cartazes que apelam ao “Voto Útil” é bastante suportável (afinal, com Bush ofuscado pelo brilhantismo governativo de Condoleezza Rice, de quem nos riremos nós, por ora?), o azul-marinho («In the Navy...») com o amarelo, embora me lembre uma cozinha que vi na Casa Cláudia há tempos, é bem mais agradável que a cor laranja. Mesmo o hino do CDS, comparado ao tropeção harmonioso de Paulo de Carvalho, me parece bem mais erudito. Já o PS tem as suas vantagens estéticas no facto de José Sócrates ser bem mais giro que Santana Lopes e se vestir sempre melhor que ele (tirando, obviamente, quando usa casacos axadrezados ao estilo Kasparov – outro senhor que se fosse consultor de moda tinha tido muito menos sucesso - , se bem que aquelas golas altas lhe ficam a matar!). Temos de reconhecer que, depois do desaparecimento súbito do espectro de Ferro Rodrigues no seio do Partido Socialista, o ambiente aparente da política nacional nos parece mais airoso – e o mesmo podemos dizer da ida de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia que, coitado, também não deve muito à beleza. Os cartazes do PS têm, também (sejamos justos, vá lá!), muito mais conteúdo que os dos restantes partidos referidos, que se resumem ora à demonstração da jactância dos líderes partidários, ora ao ataque aos seus opositores nesta campanha.

Mais limpas e sóbrias estão, sejamos justos novamente, as propagandas comunistas. Abstraindo-me dos valores aos quais está adjacente o rumo da campanha da CDU (alguns dos quais, sem medo nem vergonha de o assumir, eu professo), não posso deixar de reconhecer que tem sido louvável a sua discrição. Jerónimo de Sousa, apesar de clássico, tem um estilo descontraído e informal que me inspira confiança. Pergunta-me agora o leitor se a aparência importa? Importa, claro. Importa que as pessoas simples são, quase sempre ou mesmo sempre, as mais interessantes. Talvez por não ter a quantidade de capital necessária para mandar encher as ruas, o chão, as paredes e as caixas de correio (inclusive as que têm o aviso “Não desejo receber publicidade ou propaganda”) do país de papel (que nem sequer será reciclado, creio…) a CDU passa mais despercebida, também porque tem sido claramente prejudicada no que respeita ao tempo de antena, relativamente a outros candidatos. E não é por ser de esquerda, porque se repararmos bem, Francisco Louçã é sempre o primeiro a falar sobre qualquer assunto polémico que surja au petit Portugal (bom, talvez seja justo: não nos esqueçamos que o senhor tem suma importância nas decisões nacionais, ou não tivesse ele gerado vida!)!

Enfim… só espero que ali pelos semáforos do Restelo, mesmo em frente à Escola Secundária e ao hospital de S. Francisco Xavier não se voltem a verificar acidentes de viação… é que com dois cartazes do PSD, um do CDS-PP e outro do PS, será difícil que os condutores se concentrem no volante… e por que será que os cartazes da esquerda vão parar sempre às rotundas? Saberão que prevenir é sempre melhor que remediar?

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Os interesses do País

Não resisti a transcrever um pequeno excerto da crónica «HABILITAÇÕES NECESSÁRIAS PARA SER MINISTRO» publicado nas Farpas e escrito por Eça de Queiroz:

“Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado:
Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente, possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder...

O poder não sai de uns certos grupos como uma péla que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos.

Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no poder, esses homens são, segundo a opinião e os dizeres de todos os outros que lá não estão - os corruptos, os esbanjadores da fazenda, a ruína do País!

Os outros, os que não estão no poder, são, segundo sua própria opinião e os seus jornais - os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, e dos interesses do País.

Mas, coisa notável - os cinco que estão no poder fazem tudo o que podem para continuar a ser os esbanjadores da fazenda e a ruína do País, durante o mais tempo possível! E os que não estão no poder movem-se, conspiram, cansam-se, para deixar de ser o mais depressa que puderem – os verdadeiros liberais, e os interesses do País!

Até que enfim caem os cinco do poder, e os outros, os verdadeiros liberais, entram triunfantemente na designação herdada de esbanjadores da fazenda e ruína do País; entanto que os que caíram do poder se resignam, cheios de fel e de tédio – a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País.”


Vem isto a propósito de Santana Lopes, José Sócrates, Paulo Portas, António Vitorino, Jorge Coelho, Álvaro Barreto...

Desaparece a última vidente de Fátima

Lúcia de Jesus, a única vidente ainda viva das aparições de Nossa Senhora em Fátima, faleceu ontem às 17.25h no Carmelo em Coimbra onde se encontrava em reclusão desde 1948. A "irmã Lúcia", como era conhecida pelos crentes, tinha 97 anos e fez parte, juntamente com Jacinta e Francisco, do grupo dos três pastorinhos que viu Nossa Senhora em Maio de 1917. Com base nessas aparições foi construído o Santuário de Fátima que com o decorrer dos anos se foi tornando num dos maiores centros de peregrinação e oração de todo o mundo católico. A hierarquia da Igreja Católica já reconheceu que o Santuário de Fátima constitui hoje em dia uma das suas maiores fontes de receita, com um "merchandising" superior ao do Manchester United e Real Madrid juntos. Daí o reconhecimento agora prestado a Lucia de Jesus pelo Vice-Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa D. António Marcelino, "é mais alguém no Céu que vai zelar por nós". Afastada do mundo desde 1948, Lúcia de Jesus tinha apenas dez anos de idade quando Nossa Senhora lhe falou desde o cimo de uma azinheira. Os outros dois videntes morreram pouco depois das aparições mas Nossa Senhora disse, na altura, que Lúcia "iria ficar mais algum tempo" para poder divulgar a boa nova. Se para nós 87 anos poderá parecer muito tempo, para os divinos é uma insignificância e assim Lúcia pôde cumprir a sua missão. Foi à "irmã Lúcia" que ficou confiado o "Segredo de Fátima", que consistia em três partes:

1ª - A visão do inferno;
2ª - A conversão da Rússia;
3ª - O Bispo vestido de branco e meio trémulo.

A primeira parte ao mostrar-nos o inferno tal qual é, levou a um surto de fervor religioso com um consumo de "terços" sem precedentes.

A segunda parte falava na necessidade da conversão da Rússia ao cristianismo após a revolução bolchevique de 1917. Posteriormente a 1922, ano da fundação da URSS, passou a falar-se na conversão da URSS porque na altura das aparições ainda Nossa Senhora não sabia das intenções de Lenine.
Em 1942, em plena invasão da URSS pelos exércitos nazis, o Papa Pio XII promoveu o ritual da conversão mas, este não resultou, porque segundo Lúcia "os Bispos da Igreja deveriam estar reunidos em oração nos locais de culto e não estavam", e assim a URSS pôde vencer os nazis.
Em 1965 houve uma nova tentativa por Paulo VI mas, voltou a falhar porque os Bispos estavam reunidos mas não em oração. Finalmente em 1984, João Paulo II "marimbou-se" para os Bispos e conseguiu infiltrar-se na Perestroika.

A terceira parte do "Segredo" fala no aparecimento de um "Bispo vestido de branco e meio trémulo" que é alvejado com vários tiros e morre. O Papa João Paulo II já disse que acha que isto se refere a ele próprio mas, no Vaticano, os Bispos dividem-se porque por um lado o Papa não morreu, e por outro está completamente trémulo.

Entretanto O PSD e o CDS, "por respeito pela figura da irmã Lúcia", cancelaram as intervenções políticas previstas para ontem e hoje na campanha.
Fizeram bem porque há que mostrar algum decoro nesta hora fúnebre.

domingo, fevereiro 13, 2005

Palhaços em Hollywood

Na edição de 12-2-2005 do Expresso, João Pereira Coutinho, notável colunista desse semanário, critica asperamente as estrelas, de hoje, de Hollywood:

“[...] e todos os dias lá temos um comediante qualquer a criticar Bush, a pedir dinheiro para África ou a dissertar na ONU. Culpa de quem? Nossa, rapazes, só nossa: quem alimenta o circo com respeito, acaba por ver os palhaços a tomar conta do trapézio.”


Meu caro João Pereira, há muitos tipos de circo e muitos géneros de palhaços. Há palhaços que são aplaudidos e palhaços que são criticados. Há palhaços a pedir dinheiro para África e palhaços a sacar recursos naturais de lá. Há palhaços a dissertar na ONU e palhaços que não lhe passam cartucho. Há palhaços para todos os gostos e comediantes para todas as sensibilidades.

Estou convicto, João Pereira, que as fantochadas que nos fazem sorrir, são de natureza muito diferente. A espécie humana reage ao humor de forma distinta. Depende da chalaça. Quando esta se torna demasiado agressiva, há pessoas que reagem mal. Não gostam de ser gozados para lá de determinado ponto. E se for grande, o grupo dos que se sentirem humilhados, o comediante poderá ver-se em apertos. Falta de sentido de humor ou susceptibilidade em demasia, dirá o João. Ou uma piada de muito mau gosto, acrescento eu.

Por outro lado, os palhaços, por muita desenvoltura que possam aparentar, não são, por norma, bons trapezistas. Se abusarem das piruetas, lá em cima, pode acontecer que venham bater com os cornos, cá em baixo.

Um, a quem isso sucedeu, tinha uma encantadora casa de campo, em Berchtesgaden se não estou em erro. Tinha, também, um pequeno bigode preto e rectangular.

Terrorismo trapalhão

Na revista Visão de 30-12-2004 um artigo refere que: “Em comparação com a eficiência demonstrada para depor Saddam, o falhanço em cumprir as promessas de segurança e desenvolvimento económico é mal interpretado. A população iraquiana desenvolveu uma visão paranóica da presença americana. «Uma teoria particularmente prevalecente vê a própria oposição armada como uma criação dos EUA para justificar uma presença militar indefinida», diz o relatório ICG. O próprio Al-Zarqawi, líder local da Al-Qaeda, é tido por muitos iraquianos – incluindo pelos mais cultos e viajados – «como uma fabricação estrangeira». Al-Zarqawi é tido como um político made in Washington.”


Compreende-se a paranóia iraquiana. É no entanto injusta.

Al-Zarqawi é, à luz dos daquilo que é reportado na CNN, um terrorista enérgico, voluntarioso, mas claramente sem formação para levar a cabo um terrorismo consistente. A sua impreparação é gritante.

Diariamente, a ladainha repete-se: uma bomba rebenta próximo de uma coluna americana – trinta civis iraquianos mortos. Dois carros armadilhados explodem próximo da embaixada australiana – quarenta e dois civis iraquianos mortos. Um morteiro é lançado contra a zona verde, quartel general da coligação – cinquenta e sete civis iraquianos mortos. É compreensível o desespero dos locais.

Contudo, o ódio de Zarqawi ao grande Satã (Estados Unidos) não deixa margens para dúvidas. Tem-no afirmado repetidas vezes em gravações. O sujeito é, ainda, seguramente, um hiperactivo – poucos terroristas conseguiriam manter a cadência de fazer explodir pessoas, dia sim, dia sim. O ritmo é absolutamente vertiginoso. Os do Hezbollah ou do Hamas, em comparação, não passam de lesmas preguiçosas.

Paradoxalmente, a extrema incompetência de Zarqawi leva-o a ser inócuo para as forças da coligação, e assaz perigoso para a população autóctone. As bombas, ou explodem demasiado cedo ou excessivamente tarde. Os morteiros, ou passam por cima dos alvos ou desviam-se caprichosamente. Nada lhe sai bem. Não acerta uma. O homem é, definitivamente, um inepto!

É caso para dizer, para quem não sabe aterrorizar até os rockets atrapalham!

sábado, fevereiro 12, 2005

Vladimir Ditadorovich

Na sua coluna semanal do Expresso (de 22-1-2005), José Cutileiro escreve: “Os «media» são sempre incómodos para o poder – é essa a sua razão de ser – de maneira que Putin foi liquidando sistematicamente todas as vozes independentes que tinham surgido depois do colapso da União Soviética; hoje praticamente toda a imprensa lida, ouvida e vista acata as preferências do Kremlin.
Além dos rebeldes da periferia e dos escrevinhadores do contra, os chamados oligarcas – homens, geralmente muito novos, que, sabe Deus como, fizeram enormes fortunas na privatização selvagem da economia soviética – constituíam também uma ameaça ao monopólio de poder de Vladimir Vladimirovich, que virou contra os mais ousados de entre eles a máquina do Estado, com polícia e tribunais à cabeça. Uns estão presos, outros no exílio e os restantes deixaram de se meter em políticas hostis ao Governo.”


Temos, portanto, que na Rússia, tanto a imprensa livre como a livre iniciativa, são perseguidos e esmagados ferozmente por um aprendiz de ditador.

Infelizmente, amigo Cutileiro, não é só nos regimes totalitários que esses dois pilares da liberdade são molestados de forma crua e persistente. Desgraçadamente, também nas democracias ditas "ocidentais", os meios de comunicação, por um lado, e o grande capital, por outro, são crescentemente acossados por políticos ambiciosos.

O caso americano constitui, no entanto, uma honrosa excepção. Os media, perseguidos pelo poder, optaram por se cartelizar em conglomerados colossais e, deste modo, controlar toda a imprensa, televisão, rádio, livros e cinema: «Time Warner (CNN), Disney (ABC), News Corporation (Fox), Viacom (CBS) e General Electric (NBC)».

O grande capital, num compreensível reflexo de auto-defesa, apoderou-se dos media. E, com a voz e a palavra numa mão e o porta-moedas na outra, chegou-se ao poder. Inteligentemente, em vez de enfrentar o governo, o capital abocanhou-o. Rockfeller engoliu Cheney. Carnegie engoliu Rice. Gates engoliu o Congresso e a Câmara de Representantes.

Um final afortunado, mas inviável em democracias menos maduras como a nossa.

Neste quadro, pergunto-me, Cutileiro: até quando resistirá, um colunista íntegro como você, à voragem plutocrata. Porque, ainda resiste, não é verdade?

O pequeno Martunis

Martunis, a criança que foi encontrada envergando a camisola da selecção nacional de futebol, após dezanove dias sózinha entre destroços numa praia da Indonésia na sequência do Tsunami, vai ser alvo de uma campanha de solidariedade promovida pela Federação Portuguesa de Futebol. Parece que a idéia partiu do Presidente Gilberto Madaíl e foi logo acolhida com fervor pelo seleccionador brasileiro Luís Filipe Scolari. "Tínhamos de tomar imediatamente uma posição", sublinhou Scolari, "a camisola da selecção é a nossa bandeira e o que aconteceu mostra, mais uma vez, que Deus é grande, Deus existe". Fala-se em comprar um terreno e construir uma casa na Indonésia, jogo para angariação de fundos, quotização e venda de camisolas. Também se pretende trazer a criança, logo que já não esteja "magro, desidratado e mal nutrido, com o corpo coberto de picadas de mosquitos", para assistir a jogos de futebol da selecção nacional servindo como atracção de feira.O pequeno Martunis pode dar-se por feliz por existir tanta gente boa no mundo e por ter estado sob protecção das cores de Portugal. Desde o enorme coração de Madaíl que em boa hora trouxe "Felipão" para o nosso país, passando por este mesmo Scolari, que adoptou a nacionalidade portuguesa por apenas vinte e cinco mil contos por mês, até este piedoso povo que se emociona facilmente cada vez que o seleccionador nacional de futebol lhe pede.E se distribuíssemos milhões de camisolas de clubes e selecções nacionais de futebol por todos esses Martunis que vagueiam por esse mundo fora "magros, desidratados e mal nutridos?” Não ficariam todos debaixo da protecção divina? Talvez pudéssemos começar pela terra do Sr. Scolari, que nem precisa de nenhum Tsunami... . Corre, corre Martunis! Não te deixes alcançar pela gigantesca onda da hipocrisia!

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Unilateralismo e pacifismo

Num artigo intitulado «O unilateralismo é a chave para o nosso sucesso», de 2001, Charles Krauthammer, do Washington Post, descreveu o mundo dos próximos cinquenta anos como não dispondo de protecção contra ataques nucleares ou danos ambientais, no caso dos cidadãos de todos os países excepto os dos Estados Unidos; um mundo em que «democracia» é uma palavra sem qualquer significado sempre que os seus benefícios entrem em conflito com os «interesses» americanos; um mundo no qual quem quer que exprima a sua divergência relativamente a estes «interesses» receberá um estigma de terrorista, justificando vigilância, repressão e morte.

E mais recentemente Krauthammer afirmou: no princípio do ano passado, quando Bush deixou claro que iria deitar para o lixo o tratado ABM (redução dos mísseis balísticos), o senador democrata Carl Levin, actual presidente do comité de armamento do Senado declarou: “Estou muito preocupado com esta decisão unilateral... porque penso que ela pode conduzir a uma segunda guerra fria.”

Falso. Completamente falso. (Wrong. Totally wrong) – asseverou Krauthammer.


Tem toda a razão Krauthammer. Levin está senil. Além disso é democrata. Daí ao socialismo, ao comunismo e ao pacifismo, é um passo. Um indivíduo perigoso que conviria vigiar, pelo sim, pelo não.

A decisão de Bush, de rasgar unilateralmente o tratado ABM, não conduz o mundo, de forma nenhuma, a uma segunda guerra fria. Pode, isso sim, despoletar a terceira guerra mundial.

A conjuntura que arrastou o mundo para a segunda grande guerra é, hoje, sensivelmente a mesma. Os papeis é que estão trocados. Os Estados Unidos fazem de Alemanha; o Irão faz de Polónia; a Alemanha e a França fazem de Inglaterra; a Rússia, a China e a Índia fazem de USA; Portugal faz de si próprio e os judeus são outra vez exterminados. Shalom.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Loucos e perdulários

Richard Perle, presidente do conselho de política de defesa do Pentágono, comentou, em finais de 2002, os planos da administração Bush na guerra ao terrorismo:

- «Não há fases. Isto é guerra total. Estamos a lutar contra uma série de inimigos. São imensos. Esta conversa toda acerca de irmos primeiro tratar do Afeganistão, depois, do Iraque, de seguida olharmos em volta e vermos em que pé estão as coisas. Esta é a maneira mais errada de fazer as coisas... se deixarmos a nossa visão do mundo ir para a frente, se nos dedicarmos totalmente a ela, e se deixarmos de nos preocupar em praticar diplomacia elegante, mas simplesmente desencadearmos uma guerra total... daqui a uns anos os nossos filhos cantarão hinos em nosso louvor.»

O jornalista John Pilger entrevistou Perle em 1987, quando este era conselheiro do presidente Reagan. Nessa altura, pensou que ele era louco.


Meu caro John, louco é você! Como quer você ganhar uma guerra contra o terrorismo? Com panos quentes e água de malvas? Não me diga que alinha no coro daqueles que afirmam que um terrorista é apenas um filho da miséria e do desespero. Um farrapo revoltado. Um bandalho vingativo.

Não meu amigo! É esmagá-los, digo-lho eu. Parasitas que vivem rodeados de petróleo e que nada têm de seu? Desregrados e perdulários é o que eles são! Trabalhem e aprendam a governar a vida em vez de se andarem a fazer explodir no meio de ocidentais de pele clara! Pirómanos inúteis!

Em relação a Richard Perle, é com agrado que constato que o bom senso impera nesta administração. Deus a mantenha assim. Ouviremos, então, os hinos.

Do lado certo da história

Santana Lopes, candidato a deputado pelo PSD às próximas eleições legislativas, esteve hoje presente, no aeroporto de Figo Maduro, numa cerimónia de recepção ao último contingente da GNR que defendeu brilhantemente a pátria no Iraque.
Santana agradeceu aos 127 elementos a sua contribuição para a manutenção de Portugal "do lado certo da história", pelos seus "feitos de armas muito brilhantes e extraordinários". Esta tradição portuguesa de defesa das causas justas remonta a tempos muito antigos, embora se tenha tornado mais reconhecida internacionalmente apenas a partir da guerra colonial (1961-1974). Desta vez não houve baixas o que demonstra a falta que fizeram na Guiné as forças italianas e inglesas. Os 127 fardetas fizeram na parada, sem esforço, a habitual cara de animal imbecílizado treinada durante muitos meses de preparação rigorosa. Era patente o orgulho pelo dever cumprido e a satisfação pelos "trocos amealhados" e promoção na carreira.
O candidato a deputado retomou assim a sua agenda oficial após o interregno de Carnaval em que aproveitou para convocar os jornalistas para "uma conversa em família" nos jardins de S.Bento.

Portas em campanha no distrito de Aveiro

Paulo Portas convocou os jornalistas para ontem às 8.30h com o objectivo de seguirem a sua campanha no distrito de Aveiro. Na véspera tinha-lhes sido anunciado que iriam a "uma parte incerta onde iria ocorrer alguma coisa". Portas justificou o sigilo para "evitar provocações encomendadas". A comitiva seguiu para uma feira onde o CDS-PP distribuiu sacos, beijinhos e onde Portas conseguiu desviar-se a tempo de um saco cheio de água. "Quem não gosta de estar com o povo o melhor é mudar de vida", disse Portas justificando o seu regresso às feiras. Após ter oportunamente evitado um feirante aos gritos clamando pela reforma equivalente ao tempo cumprido em Angola, o grupo refugiou-se numa tenda onde se dissertou sobre os méritos de "quem sobe a vida a pulso". Portas referiu que 80% dos empresários de Aveiro foram trabalhadores. "Com fé todos podem um dia passar a empresários e nunca mais trabalhar!", discursou Portas.
O dia terminou numa fábrica de bicicletas, não sem antes se ter feito uma pausa num café para dar tempo a que os operários saíssem. Aí o líder do Partido Popular mostrou a sua boa forma pedalando violentamente numa daquelas bicicletas que nunca saiem do mesmo sítio. Atingiu os 11,5 Km/h o que o deixou muito feliz por lhe parecer um sinal da sua subida eleitoral.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Normalização no Togo

O Togo, país africano situado no Golfo da Guiné, regressou à normalidade institucional após o falecimento repentino, no sábado passado, do Presidente Eyadema que se encontrava no poder desde 1967. Nesse mesmo dia as forças armadas confiaram o poder ao seu filho Faure Gnassingbé, o que gerou alguns protestos devido à Constituição Togolesa prever, nestes casos, que o poder transitasse para o Presidente da Assembleia Nacional até à realização de eleições no prazo de dois meses. Como Natchaba, Presidente da Assembleia Nacional, se encontrava no voo de avião de regresso de uma viagem ao estrangeiro e "para evitar o vazio de poder", nas palavras de um porta-voz das forças armadas, estas decidiram-se pelo filho do defunto para completar o mandato do pai até 2008, ano em que se prevêem as novas eleições. Nesta situação, e para evitar a instabilidade sempre causada pelas campanhas eleitorais e por alguma situação menos clara, a Assembleia Nacional alterou no domingo a Constituição para que pudesse ser investido, na segunda-feira, Faure Gnassingbé. Após a tomada de posse, o novo Presidente juntamente com os representantes das forças armadas, deputados e membros do novo governo, seguiram em cortejo para o funeral do General Eyadema num ambiente de profunda consternação. Apesar desta prova de eficiência das instituições democráticas togolesas, a Secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice já fez saber que se houver algum desvio do programa do anterior Presidente, os EUA enviarão Jimmy Carter como observador às eleições de 2008, o que foi tido como um sério aviso, pela generalidade dos comentadores internacionais.

O diabo do Portas!

Os portugueses, por congénita falta de imaginação, têm, por hábito, o péssimo defeito de imitar tudo o que vem de fora, anedotas inclusive. Pior ainda, distorcem-lhe o sentido e retiram-lhe a piada. Por exemplo, muitos de vós já devem conhecer esta anedota, com origem nas ruas de Bassorá:

George W. Bush tem uma crise cardíaca e morre.

Quando chega ao Inferno, o Diabo, que não o aguardava tão cedo, diz-lhe:
- Que aborrecimento! Neste momento estamos repletos. No entanto, o seu lugar é aqui. Vou ter de mandar alguém para o Purgatório para lhe arranjar uma vaga. Por deferência com o seu pai, vou-lhe dar a oportunidade de escolher a pessoa que você vai substituir!

O Diabo abre uma primeira porta.
Lá dentro está Harry Truman, responsável pelo lançamento das bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasaki. O antigo presidente está amarrado e a ser açoitado com um chicote por três diabinhos.

Bush disse:
- Aqui não! Tenho um problema na coluna.

O Diabo abre outra porta.
Lá dentro está Richard Nixon, responsável pela morte de três milhões de vietnamitas e de cinquenta mil soldados americanos. O ex-presidente está a ser sodomizado com o cabo de uma forquilha em brasa.

- Aqui também não! Sofro dos intestinos.

O Diabo abre uma terceira porta.
Lá dentro está Bill Clinton, principal responsável pelas atrocidades cometidas na Bósnia, no Kosovo e na Macedónia. Está deitado com os pés e as mãos amarrados à cama. Debruçada sobre ele, Monica Lewinski faz-lhe sexo oral.

Bush olha para aquela cena e exclama:
OK, fico com esse castigo!

O Diabo sorri e diz:
- Parabéns Mónica! Podes ir para o Purgatório!



Como seria de esperar, os nossos conterrâneos nacionalizaram a anedota. Esta é a versão parola que ouvi há dias no Cacém:


Paulo Portas morre com uma infecção urinária.

Quando chega ao Inferno, O Diabo, que não o aguardava tão cedo, diz-lhe:
- Que aborrecimento! Neste momento estamos repletos. No entanto, o seu lugar é aqui. Vou ter de mandar alguém para o Purgatório para lhe arranjar uma vaga. Para fazer pirraça ao seu irmão, vou-lhe dar a oportunidade de escolher a pessoa que você vai substituir!

O Diabo abre uma primeira porta.
Lá dentro está o Marquês de Pombal, responsável pela morte dos Távoras e pela perseguição aos Jesuítas. O Marquês está amarrado e a ser açoitado com um chicote por três diabinhos.

Portas, com um brilho nos olhos, nada diz.

O Diabo, intrigado, abre outra porta.
Lá dentro está Salazar, responsável pela PIDE e pela guerra colonial. O ex-ditador está a ser sodomizado com o cabo de uma forquilha em brasa.

Portas, com um rubor nas faces, continua silencioso.

O Diabo, perplexo, abre uma terceira porta.
Lá dentro, (este parágrafo não foi traduzido), está Bill Clinton, principal responsável pelas atrocidades cometidas na Bósnia, no Kosovo e na Macedónia. Está deitado com os pés e as mãos amarrados à cama. Debruçada sobre ele, Monica Lewinski faz-lhe sexo oral

Portas olha para aquela cena e exclama:
- OK, fico com esse castigo!

O Diabo sorri e diz:
- Parabéns Mónica! Podes ir para o Purgatório!

Portas sorri, também.

Moda

Mesmo tendo Oscar Wilde dito (e muito oportunamente, convenhamos) que «a moda é uma variação tão intolerável do horror que tem de ser mudada de seis em seis meses», o "Um Homem das Cidades" tem novo aspecto. Espero que seja do vosso agrado.

Ass. Diletante a priori {a que não se priva do vício de dialogar com os leitores}

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Faça férias na Suíça

Aqui trazemos uma sugestão para as próximas férias de verão.
A Suíça é, geograficamente, um pequeno país situado no centro da Europa, com belíssimas paisagens, estâncias de esqui e um povo muito acolhedor e simpático. Esta simpatia para com os estrangeiros tem vindo a ser incrementada através do convívio com os inúmeros imigrantes, entre eles os portugueses, que altruisticamente têm sido admitidos no país. A Confederação Helvética tem um dos mais elevados PIB per capita do mundo graças, sobretudo, à eficiência das instituições bancárias que ao manterem um rigoroso sigilo sobre os depósitos bancários atraiem a confiança das pessoas de sucesso em todo o mundo. Entre estas contam-se, a título exemplificativo, ditadores africanos, traficantes de droga, Isaltino Morais, especuladores bolsistas, comerciantes de prostitutas, empresários ligados à pornografia, etc. . Também a famosa neutralidade política suiça tem permitido um bom relacionamento com todos os povos do mundo evitando ao país o envolvimento em confusões que nada trariam de positivo.
A Suíça é um país próspero e dinâmico que desempenhou um papel de relevo na reconstrução europeia, nomeadamente pela segurança emprestada ao ouro nazi.
Se está a começar a planear as suas férias, se não é empregada de hotel ou taxista na Suíça, siga o nosso conselho para um lazer de sonho:

FAÇA FÉRIAS NA SUÍÇA!

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Coligação PS – CDS?

Foi noticiado que o beirão Carlos Candal, algumas campanhas eleitorais atrás, acusou Paulo Portas de ser homossexual. Mais recentemente, o actual primeiro-ministro alude aos “colos” da sua preferência, por comparação a José Sócrates.

Estas afirmações podem, a confirmarem-se, configurar uma solução governativa para Portugal que à partida se julgaria impensável.

Pensem bem! Sócrates e Portas! Se a ideologia parece, à primeira vista, afastá-los, a libido, por seu turno, aproxima-os. Representariam a terceira via e o neoliberalismo fundidos num único e terno ideal. O aparelho socialista e o patronato cantando a uma só voz (de contralto). A doce harmonia, aparentemente impossível, já ali, ao virar da esquina. E tudo isto graças a uma inclinação, um pendor, uma tendência. O futuro sorri, amaneirado mas sorri. Sócrates e Portas... Portas e Sócrates! Olarila!

Acabou-se a chantagem dos estalinistas do PCP ou dos trotsquistas do Bloco. Formar governo já não depende deles. Recambiem-nos para as profundezas do século dezanove, donde jamais deveriam ter saído. Progressistas "my ass"!

Portugal pode ter uma maioria estável afinal de contas. A coligação PS – CDS é possível. E até, pourquoi pas, uma união de facto? Se tudo não passa de uma questão de “colos”? Mignon, vraiment mignon, ce ménage!

Apocalipse ou Armagedeão

Seymour M. Hersh, num artigo de investigação publicado na edição de ontem da revista "The New Yorker", revelou que comandos especiais dos Estados Unidos estarão a operar no interior do Irão com o objectivo de detectar - e vir a destruir em ataques aéreos - instalações suspeitas de contribuírem para o desenvolvimento de armas nucleares. "Esta é uma guerra contra o terrorismo e o Iraque é apenas uma das campanhas. A administração Bush considera tudo isso como uma vasta zona de guerra. De seguida, teremos a campanha iraniana [...]", refere Hersh, ao citar um "antigo alto responsável pelos serviços secretos

Esta notícia, que só apanhou de surpresa os mais desatentos, vem apenas reforçar a opinião daqueles que, e são cada vez em maior número, admiram Bush pelo seu carácter, pela sua lucidez, pela sua inteligência e pela sua facilidade de expressão. Quem não recorda, com admiração, a recente conferência de imprensa, onde Bush, de forma perspicaz afirmou: "Tenho a certeza de que alguma coisa me virá à ideia no meio desta conferência de imprensa, com toda esta pressão de tentar arranjar uma resposta, mas ainda não veio. Eu ainda não... vocês põem-me aqui debaixo dos projectores e talvez eu não seja rápido... tão rápido quanto devia para arranjar uma".

Para compreender a actual política americana é, antes de mais, necessário conhecer o homem que a traçou. Um ser cuja vida deu uma volta de 180º. Um boémio que renasceu cristão. Bush, trocou, aos quarenta anos, o sangue de Cristo, que emborcava desalmadamente, pela hóstia purificadora da oração e da leitura das Sagradas Escrituras. O bêbado, qual crisálida, deu, por fim, lugar ao crente.

Esta mudança, de tão grande significado para a alma como, a outro nível, para o fígado, abriu-lhe novos horizontes. Redescobriu a Bíblia, e, com ela, a luz. Génesis deslumbrou-o; Deuteronómio confundiu-o; Levítico conturbou-o; Efésios assaranpantou-o, João (19:7 a 19:27) enterneceu-o, mas foi Apocalipse e os anjos com as sete pragas que definitivamente o apaixonou. Reconhecia-se neste capítulo. Ora se via no papel de Deus, ora no de Besta. A maioria das vezes, porém, no de Besta.

Concentrou-se no estudo das sete pragas e na sua paridade em relação ao armamento actual:
“O primeiro anjo derramou a sua taça sobre a terra e apareceu uma chaga ruim e maligna nos homens”. Bush notou aqui uma referência clara a armas biológicas.
“O quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe permitido que abrasasse os homens com o fogo”. Neste caso armas nucleares, city busters provavelmente.
“O quinto derramou a sua taça e os homens mordiam de dor as suas línguas”. Aqui não teve dúvidas: armas químicas. Antrax ou pior.

Paulatinamente reconheceu nas pragas as armas de destruição maciça, e, desde logo, a sua missão: procurá-las e destrui-las. As opções não podiam ser mais claras: Apocalipse ou Armagedeão. Destruir as armas ou ir pescar trutas em Crawford, Texas. Esmagar o terrorismo ou engoli-lo.

Poucos foram o que tiveram a coragem de o seguir. Só as empresas petrolíferas e o complexo militar-industrial, relutantemente, o apoiaram. Com outra agravante: Bush é tacticamente disléxico. Ataca aleatoriamente. Ora aqui, ora ali, ora acolá. Nem a CIA o pode ajudar. Com um orçamento anual de 30 mil milhões de dólares pouco pode fazer.

Bush percebeu que as armas estão no eixo Médio Oriente - Ásia Central. Por isso invadiu o Afeganistão: nicles. A seguir o Iraque: népia. Seguem-se agora o Irão e depois a Síria e a Arábia Saudita. Na calha estão, ainda, o Cazaquistão, o Turquemenistão, o Uzbequistão o Tajiquistão e o Quirguistão. Um empreeendimento digno de um iluminado.

Os hipócritas parecem incomodados com o número astronómico de civis que vão perecer nesta guerra. Mas já se lembraram que alguns deles (o número pode atingir a dezena) podem ser terroristas? Pior ainda, sarracenos? O que diriam se um executivo de Filadélfia recebesse um cartão de boas-festas com Antrax? Ou se ocorresse um surto de herpes em Quarteira? O pânico que se geraria nas democracias ocidentais. A recessão dos mercados bolsistas. O abrandamento do investimento. A retoma, uma vez mais, adiada.

Aqui, no entanto, deixo uma sugestão a Bush: nesta sua demanda por armas de destruição maciça, e já que está na zona, dê uma vista de olhos em Israel. Eu estou ciente que é uma hipótese remota. Mas às vezes, onde menos se espera...

O Sumo Pontífice usou o "play-back" pela primeira vez

João Paulo II assomou ontem à janela do hospital e abençoou os fiéis em "play-back", noticiaram alguns jornais italianos. Esta técnica há muito que é usada por muitos artistas da nossa praça como, por exemplo, João Simão da Silva também conhecido por "Marco Paulo". Devido ao seu ainda debilitado estado, que lhe enfraquece a voz, foi agora a vez de João Paulo. A gravação trouxe vivacidade e colorido à voz do Santo Padre. Pensa-se que foi usado um discurso de 1983 em que ele condena o uso de contraceptivos ou o "coito interrompido" por impedirem o direito à fertilização a milhões de óvulos que de outro modo se poderiam transformar em operários, engenheiros, líderes de partidos democratas-cristãos ou até em Papas.
Apesar da doença e da idade avançada, o Santo Padre mostrou a sua firmeza em continuar a trabalhar em prol da humanidade.

domingo, fevereiro 06, 2005

Darwinismo parlamentar

A Assembleia da República não reflecte, actualmente, a estratificação económica e social do nosso país. Essa rica diversidade de rendimentos é brutalmente aplanada nas bancadas dum parlamento abstruso. É o absurdo do igualitarismo no seu pior: um homem – um voto.

É consensual que vivemos, hoje, numa economia de mercado, uma cornucópia de fusões, take overs, especulações financeiras e falências fraudulentas. Uma sociedade colorida, constituída essencialmente por ricos, remediados, pobres e sem-abrigo. Uma sociedade onde quem tem unhas é que toca viola. Donde, consoante o virtuosismo assim a remuneração. Evidentemente que é necessário garantir um mínimo de condições a toda a gente (embalagens de cartão para dormir e restos de frango para jantar). Não há necessidade de fundamentalismos. Para já, pelos menos.

Ora, temos a felicidade de ter, como compatriotas, alguns executantes (de viola) de rara destreza. Contudo, estes encontram-se, como é fácil de ver, injustamente subrepresentados no plano político. Será lícito que um homem que ganha, por exemplo, dez mil contos por mês, ou seja que supostamente criou riqueza correspondente àquele montante, tenha um voto de peso igual ao de um pária que ganha cinquenta contos por mês, e, portanto, que pouco ou nenhum valor acrescenta à sociedade (embora se queixe de “trabalhar” 14 horas por dia)? É evidente que não. É uma gritante injustiça que fere a consciência de todos nós.

Tomemos, a título de exemplo, o caso de Belmiro de Azevedo, um reconhecido virtuoso (da tal viola). O Eng.º. possui uma fortuna avaliada em 220 milhões de contos que amealhou ao longo de quarenta anos, fruto de extenuante labor e muito suor (obviamente dele). Esta quantia equivale a uma remuneração anual de 5 milhões e meio ou, se preferirem, a 500 mil contos por mês. Ora bem, com o salário médio nacional a rondar os 100 contos, o peso político do Eng.º. deveria corresponder a 5 mil votos. Criar-se-ia, assim, uma proporcionalidade rendimento - peso parlamentar. Salvaguardava-se a moralidade da coisa.

Tendo em consideração que o número total de votos em Portugal é de 5 milhões, ao Eng.º. corresponderia 0.1% da Assembleia da República, o que, grosso modo, equivaleria a 1/4 de um deputado de tamanho médio (sete nonos no caso de Marques Mendes). Se à fortuna do Eng.º somássemos as dos outros dezanove homens mais ricos de Portugal (Amorins, Mellos, Berardos e quejandos) obteríamos um peso político correspondente a 4 deputados (ligeiramente mais no caso de Marques Mendes). Parece pouco, mas sempre são mais do que os que o Bloco de Esquerda dispõe - não é assim amigo Louçã?

Como 90% de toda a riqueza nacional está nas mãos de 5% da população, deduzimos, com elegante inevitabilidade, que esses «fabulous five per cent» dominariam 90% dos assentos parlamentares com todas as vantagens que esse facto traria sob a forma de isenções fiscais, apoios ao investimento a fundo perdido e flexibilização do mercado laboral. Representaria depositar o poder nas mãos daqueles que investem, deslocalizam, especulam e pagam impostos (em paraísos fiscais). As forças vivas portanto. Por outro lado, seria punir, a chicote, todo um exército de madraços, preguiçosos e calaceiros que infestam este nosso cantinho à beira mar. Nada mais justo. Nada mais laissez-faire.

Há pessoas, menos informadas decerto, que afirmam que é de facto isso que já está a acontecer. Oxalá assim fosse!

Uma história de amor

Em 18 de Dezembro de 2003 casaram em Luanda, Welwitschea José dos Santos(Tchizé), filha do Presidente de Angola José Eduardo dos Santos, e o engenheiro agrónomo português Hugo Nobre Pêgo. À grandiosa cerimónia, que se prolongou por vários dias, assistiram mais de mil convidados, muitos deles, vindos dos quatro cantos do mundo. Portugal esteve representado pelo 1ºministro Durão Barroso, Cinha Jardim, Augustus, padrinho de baptismo da noiva e autor do vestido que esta usou na cerimónia civil, o arquitecto Júlio Quaresma e Helga Barroso. Também os EUA, entre muitos outros países, se fizeram representar. A noiva estava líndissima com um vestido Augustus em seda selvagem, de modelo justo, com cauda. Na cabeça levou um véu de renda preso com uma coroa de diamantes angolanos. Hugo elegeu um fato Christian Dior. "Chorei mas não senti vergonha nem me importei pelo facto de ter ficado com a maquilhagem toda estragada. Para mim foi muito mais importante o sentimento do que a aparência", disse Tchizé. "Foi amor à primeira vista numa quente noite de Lisboa, há cerca de ano e meio. Tinha-lhe dito que trabalhava como mulher a dias em casa de um funcionário público e só há cerca de um mês é que ele soube que eu não trabalhava a dias". Tchizé deu uma gargalhada e acrescentou, "quando ele soube até ficou branco, mas mesmo assim não desistiu".
Os populares, na sua maioria sem uma ou duas pernas, aglomeravam-se agarrados às grades que rodeiam os jardins do Palácio Presidencial. Os funcionários atiravam-lhes de quando em vez uma ou outra perna de frango que a multidão acolhia em júbilo no meio de um grande reboliço.
"Toda a vida vi as pessoas chorarem de emoção, de alegria, e perguntava-me se isso iria acontecer-me um dia. Curiosamente, aconteceu-me hoje", confidenciou ainda emocionada, Tchizé.
Dias mais tarde os noivos partiram em lua-de-mel para as Caraíbas.
O 1ºministro de Portugal e restante comitiva portuguesa regressaram a Portugal no dia seguinte, orgulhosos de terem representado o país ao mais alto nível entre tantos dignitários estrangeiros.